O desabamento em Surfside e o impacto no mercado imobiliário

"É natural que, no curto prazo, todos os interessados vão querer saber se o imóvel com mais de 40 anos é seguro".

Por Joao Freitas

Daniella Levine, prefeita de Miami-Dade, prometeu fazer um pente fino nas vistorias dos prédios com mais de 40 anos.

Em meio aos escombros e buscas por sobreviventes no edifício Champlain que desabou dia 24 de junho, ainda é cedo para qualquer avaliação definitiva sobre como (ou se) o desabamento do edifício em Surfside vai impactar o mercado imobiliário local. Mas, até o fechamento desta edição, nada mudou.

É natural que, no curto prazo, todos os interessados - proprietários e potenciais compradores - vão querer saber se o imóvel com mais de 40 anos é seguro. Eu já tenho clientes perguntando sobre o assunto, além disso, provavelmente teremos donos de imóveis mais motivados a vender com medo do que pode acontecer.

Quem fez parte de uma transação imobiliária nos últimos 15 meses sabe que o mercado imobiliário está extremamente aquecido. E o adjetivo é pertinente, clientes que não fazem uma oferta no momento do 'showing' invariavelmente perdem o negócio. Portanto, se o imóvel estiver minimamente bem precificado, a transação ocorre rapidamente.

Oferecido esse contexto, de acordo com o sistema usado pelos Realtors da Florida, o Multi Listing Service (MLS), nada mudou no mercado. O número de transações segue elevado e, por mais incrível que isso possa parecer, os preços continuam os mesmos e a vida segue como antes.

A situação muda muito pouco especificamente no raio de meia milha do edifício. Hoje tem disponível para venda apenas sete imóveis nas ruas próximas ao local do desabamento. Todos eles no mesmo prédio, o 8701, na Collins avenue, e todos eles já estavam à venda antes do desabamento.

Para entender o real impacto desde o dia da tragédia, apliquei o filtro de imóveis que saíram do mercado daquele dia até a quarta-feira, 30, e esse foi um número impressionante. Nada menos que 14 imóveis próximos foram retirados do mercado, para um mercado que já tinha poucas opções de compra, o estoque ficou ainda mais reduzido na região e isso deve ser um fator determinante para impedir uma queda no aumento de preços. Afinal, pela lei da oferta e procura, quanto menos disponibilidade de um produto, mais caro ele custa.

Portanto, ao menos até aqui, no contexto imediatamente após o desabamento, não há margem para especuladores tirarem algum proveito. Já no contexto de médio prazo, a situação deve mudar porque a prefeita de Miami-Dade, Daniella Levine, prometeu fazer um pente fino e revisar as vistorias de todos os prédios com mais de 40 anos no condado.

Cumprir essa promessa na totalidade será praticamente impossível pela necessidade de recursos humanos disponíveis. Mas, se a prefeita realmente conseguir revisar um percentual relevante de edifícios, certamente muitos prédios serão obrigados a reformar e o famoso 'assessment', em bom português, a taxa extra, deve impactar significativamente no orçamento de muitos donos e proporcionar boas oportunidades aos investidores prontos para a compra.