Paranaense se prepara na FL para ser a primeira astronauta brasileira

Aceita para fazer a Advanced Space Academy da NASA, Andressa Costa Ojeda, 20 anos, está realizando um sonho.

Por Arlaine Castro

Andressa Costa Ojeda, 20 anos, é aluna da universidade Embry-Riddle Aeronautical University, em Daytona Beach, onde estuda engenharia aeroespacial.

 

"Não importa de onde você vem, mas onde você quer chegar e o que está disposto a sacrificar e fazer para alcançar seus sonhos"

Estudante do interior do Paraná, a jovem Andressa Costa Ojeda, 20 anos, estava no terceiro ano do ensino médio quando conseguiu um intercâmbio patrocinado pelo Rotary Club. Hoje, é aluna da universidade Embry-Riddle Aeronautical University, em Daytona Beach, onde estuda engenharia aeroespacial, e sonha em se tornar astronauta.

No intercâmbio, a paranaense obteve diversas experiências no âmbito espacial, inclusive o Advanced Space Academy, realizado pela NASA, que simula um treinamento para astronautas.

Morando em Daytona Beach, cerca de 50 minutos do Cabo Canaveral e do Kennedy Space Center, ela conta feliz que consegue ver lançamentos de foguetes quase que semanalmente da janela do próprio quarto. "Nem preciso sair", diz.

Em entrevista ao Gazeta News, Andressa contou sobre o caminho para realizar o sonho, os estudos e desafios da trajetória que podem levá-la a ser a primeira astronauta brasileira e a importância de incentivar mais meninas a seguirem estudos na área ainda dominada por meninos.

GN - Sempre quis seguir carreira em engenharia aeroespacial? Como e quando se deu esse processo de escolha da universidade na Flórida e do curso?

Andressa Costa Ojeda - Falava muito sobre querer fazer engenharia aeroespacial na escola mas só fui ter experiência na área no terceiro ano do ensino médio, através do intercâmbio que fiz pelo Rotary Club.

Foi quando fiz um estágio com um mentor que era graduado em astrofísica na Universidade de Harvard e aprendi muito sobre foguetes de alta-propulsão e CubeSats (satélites miniatura), lá também montei e lancei meus próprios modelos de foguete. Foi a primeira vez em que eu havia "colocado a mão na massa" e entendido realmente do que a engenharia aeroespacial se tratava, e também foi quando tive certeza que era isso que queria.

Participei de competições regionais e estaduais de robótica, fiz aulas de astronomia e programação, fui aceita para fazer a Advanced Space Academy da NASA, onde fiz simulações de exercícios para treinamento de astronautas (incluindo mergulho com montagem de estruturas embaixo d'água, montagem de modelos de foguete e simulações de longa duração à Marte), fui chamada para uma entrevista em rede nacional americana e conheci o astronauta Buzz Aldrin (segundo homem a pisar na lua) e o Vice-Presidente dos EUA, Mike Pence.

Depois dessa experiência tive coragem de falar pra todos que queria ser astronauta. E foi muito inesperado e interessante o apoio que recebi não só da minha família, mas também de engenheiros da NASA e da SpaceX. Decidi acreditar em mim mesma e aplicar pra universidades nos EUA. Ao final do terceiro ano do ensino médio, eu havia sido aceita em 5 universidades americanas para cursar Engenharia Aeroespacial. Optei pela Embry-Riddle Aeronautical University, onde 11 astronautas se graduaram. É a mais antiga universidade voltada para aviação do mundo e o maior sistema universitário credenciado especializado em Aviação, Aeronáutica e Aeroespacial.

A minha área de concentração do curso é Astronáutica, que envolve foguetes, satélites ou qualquer outra máquina projetada para operar fora da atmosfera terrestre. Aos 18 anos participei de pesquisas de iniciação científica em minha universidade, fui a primeira mulher brasileira a ser aceita para fazer o Advanced PoSSUM Academy, onde fiz um voo acrobático de alta força de gravidade, simulações em trajes espaciais, e treinamento de altitude elevada em um laboratório de altitude hiperbárica, entre outros.

Também ganhei um voo de pesquisa em microgravidade (gravidade zero) pela Zero Gravity Corporation (Zero-G) ao lado de pesquisadores da NASA e da Agência Espacial Japonesa (JAXA), e fui convidada por um gerente de missão da SpaceX para um tour na sede da SpaceX com aprovação direta de Elon Musk. Atualmente, faço parte de vários clubes ligados à propulsão e foguetes de alta-potência, sou membro da competição Robotics Mining Competition da NASA, onde trabalho desenvolvendo um robô autônomo para mineração lunar e também sou Astronauta Análoga pela Habitat Marte em parceria com a Agência Espacial Brasileira. Tudo isso contribui para chegar mais perto de meu sonho a cada dia que passa.

GN - Quais os próximos passos que vai ter que seguir na carreira até conseguir ir em alguma missão espacial?

Depende muito de qual caminho vou seguir, se vou ser astronauta por alguma agência espacial ou astronauta comercial por alguma empresa privada. Se for pela NASA ainda falta terminar a universidade, fazer mestrado, me tornar cidadã americana, e ter 2 anos de experiência na indústria nessa área. Essa semana (do dia 12 de Julho) tivemos um voo tripulado pela Virgin Galactic, empresa que está tornando a ida ao espaço mais acessível. Voos para o espaço através de empresas privadas estão ficando cada vez mais comuns, então outras oportunidades podem aparecer com requerimentos diferentes que podem aumentar as possibilidades de alcançar meu sonho.

GN - Como é sua rotina nos estudos e na NASA? (Está fazendo algum tipo de treinamento especial ou estágio, por exemplo?)

Varia bastante considerando que escolhemos nosso próprio cronograma de aulas, no meu primeiro semestre estava tendo aulas de 8h às 18h30 com alguns intervalos entre aulas, onde eu usava o tempo para estudar e fazer trabalhos, depois tinha reuniões com clubes e projetos de pesquisa científica de 19h até meia-noite alguns dias. No meu próximo semestre a maior parte das minhas aulas são de manhã e depois tenho duas na parte da tarde, com um intervalo de mais ou menos 3h entre aulas, que vou usar para estudar e fazer trabalhos. Atualmente não estou fazendo cursos extracurriculares, apenas projetos científicos, mas devo conseguir fazer alguns cursos interessantes mais para o final do ano.

GN - É uma área pouco explorada por mulheres, como pretende agir para que mais meninas se encorajem, principalmente brasileiras?

Venho dando palestras diárias para escolas e empresas com o objetivo de trazer mais mulheres para as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Procuro sempre compartilhar as minhas experiências e dicas com o objetivo de fazer com que outras pessoas tenham as mesmas oportunidades que estou tendo, e me disponibilizo a responder mensagens/perguntas individualmente. Recebo feedbacks muito positivos de mulheres que se inspiraram na minha trajetória e decidiram ir atrás dos sonhos. Nós mulheres temos muitos talentos que podem contribuir para o avanço destas áreas. Atualmente, estima-se que a participação feminina nessas áreas é de apenas 30%. A área de engenharia é fascinante, muitos desafios e experiências gratificantes. Eu aconselho as pessoas, e principalmente mulheres, a conhecerem melhor essas áreas.

GN - O Brasil teve um homem astronauta nos representando em missão espacial. O que acha se for realmente a primeira mulher brasileira a participar de alguma missão da NASA?

Seria uma chance de representar o Brasil no espaço e mostrar que nada é impossível, nenhum sonho é grande demais para ser tido como inalcançável e sonhos são muito importantes para ficarem só como sonhos.

Eu veria isso como a satisfação em atingir o que eu mais desejo na vida e a abertura de novas oportunidades que virão após essa conquista. E para os milhares de jovens e meninas eu vejo como sendo algo que eles possam se inspirar. Algo que encha de orgulho qualquer brasileiro que entenda o quão difícil é alcançar um sonho. Acredito que o Brasil, com mais de 200 milhões de pessoas, tem relativamente poucas pessoas que inspirem o patriotismo, o orgulho, e a busca pelo desconhecido. Esse tipo de representação é muito importante para todos que sonham, inclusive para novas gerações. Por isso, precisamos cada vez mais de pessoas que tragam esses sentimentos de orgulho e admiração para a nação. É muito fácil vermos essa representação em outros países, e pensarmos “será que se eu estivesse lá eu conseguiria isso?”.

GN - Qual a mensagem para milhares de crianças e jovens que sonham em estudar no exterior ou até mesmo em ser astronautas?

Eu nasci em uma cidade pequena no interior do Paraná, e tudo isso que faço agora era muito distante da minha realidade, aprendi comigo mesma que não importa de onde você vem, o que importa é onde você quer chegar e o que está disposto a sacrificar e fazer para alcançar seus sonhos. Fiquei dois anos sem ver minha família, passei por muitas noites em claro, mas no final, está valendo a pena.

Quero que milhares de jovens e meninas percebam o potencial que eles têm, quando falei pela primeira vez sobre o meu sonho de ser astronauta eu percebi que outras pessoas acreditavam mais no meu potencial do que eu mesma. Estava esperando ouvir um “tira isso da sua cabeça” mas recebi um “acho que você é capaz”. Recomendo vocês a buscarem e tentarem ir além do que as pessoas esperam de vocês, às vezes a sua escola não tem as oportunidades que você quer, não tome isso como empecilho. Crie essas oportunidades, faça grupos/clubes com outros alunos para falarem sobre interesses similares, procure se envolver em atividades fora sala de aula e não desistam no primeiro “não” que levarem.

GN - Alguma história/fato curioso que vivenciou nessa trajetória?

Acredito que eu tenha me aventurado ao máximo com voos em microgravidade, saltos de paraquedas, voos acrobáticos, mergulho (fiz o curso “Open Water Diver Course” da PADI aos 11 anos de idade). Mas tenho dois momentos mais inesperados e interessantes. Um deles foi quando estava fazendo o Advanced Space Academy da NASA e o vice-presidente dos EUA na época, Mike Pence, estava lá com o Conselho Espacial Americano para fazer o anúncio de enviar a primeira mulher à lua em 2024 através do projeto Artemis. Tive a oportunidade de conhecê-lo e ver o astronauta Buzz Aldrin (segundo homem a pisar na lua), não estava esperando por isso.

Lá também fui escolhida pela Vice-Presidente do Space Camp e Diretora de Comunicações do U.S. Space & Rocket Center, entre outros participantes, para dar uma entrevista ao vivo para a ABC News e falar um pouco sobre a primeira caminhada espacial feita somente por mulheres, levando em conta que uma dessas mulheres que estava na Estação Espacial Internacional havia feito esse mesmo curso que eu estava fazendo.

O outro momento foi quando fiz um voo acrobático de alta força de gravidade com a Patty Wagstaff (campeã nacional de acrobacia nos EUA por mais de 7 anos). Foi um voo bem intenso onde chegamos a quase 8Gz (pressão de oito vezes o peso do seu corpo contra você mesmo), fizemos vários loops, -2Gz (quase o máximo de força G negativa que o corpo humano consegue aguentar). Muitas pessoas nesses voos perdem a consciência e desmaiam, no meu caso, isso não aconteceu, mas tive uma inflamação muscular e passei dois dias no hospital sem conseguir respirar direito. Mas com certeza valeu a pena e quero muito ter a oportunidade de fazer isso novamente.