"Questionam minha sexualidade", desabafa lutadora brasileira impedida de entrar no banheiro feminino em Fort Lauderdale (FL)

Por Arlaine Castro

A lutadora de Jiu-Jitsu e MMA brasileira Ediane Gomes, conhecida como "Índia", mora no sul da Flórida e conta ter sido alvo de preconceito por um funcionário da academia LA Fitness na Oakland Park, em Fort Lauderdale.

"Parecer homem eu pareço, é natural, eu nasci assim. Mas sou mulher e não tenho vontade nenhuma de trocar de sexo. Eu nasci assim e primeiramente respeito a vontade de Deus", desabafa a lutadora de Jiu-Jitsu e MMA brasileira Ediane Gomes, conhecida como "Índia", que mora no sul da Flórida e conta ter sido alvo de preconceito por um funcionário da academia LA Fitness na Oakland Park, em Fort Lauderdale.

Em entrevista exclusiva ao Gazeta News, ela descreveu o acontecido e enfatiza que há muito preconceito na sociedade. "O preconceito gera ódio. Seja para o homossexual, para raça, cor, religião, tudo. Cada um tem que viver a sua vida e se amar mais. Por que as pessoas não se amam e preferem odiar as outras pessoas? Deus veio para nos amar e nos deixar livres para amar também. As pessoas precisam se aceitar mais, se amar mais ", destaca.

O episódio aconteceu em dezembro do ano passado e envolveu a polícia. Mesmo malhando há mais de dois anos no local, ela conta que se sentiu humilhada.

"Eu entrei no banheiro e quando estava saindo, um cara da recepção me abordou e perguntou por que eu estava naquele banheiro, já dizendo em voz alta que eu sou homem, etc. Olhei e falei para ele que sou mulher. Nisso, veio um outro cara, e esse que estava comigo disse para ele tirar uma foto minha. Aí eu fiquei com raiva e fui pra cima dele perguntando se ele estava louco. Disse mais uma vez que sou mulher e expliquei que sou uma lutadora profissional. Até entrei no Google para pegar uma foto minha e mostrar quem eu sou. Mas ele não deu ouvidos. Nisso, o outro cara disse que ia chamar a polícia. Eles não me questionaram sobre eu ser membro da academia, não olharam meu cartão de lá, nada. Simplesmente chamaram a polícia. Foram cinco minutos esperando a polícia chegar. Enquanto esperava eu já estava irritada, toda a academia me olhando. Eu o chamei de estúpido, porque ele não precisava ter chamado a polícia".

Quando a polícia chegou, a confusão já estava formada sem necessidade. Segundo a lutadora, ficou aquele clima, todo mundo olhando. "Os agentes pediram a identidade e eu disse que estava no meu carro no estacionamento. Eu saí para buscar com os policiais atrás de mim, fui filmando o tempo todo porque achei aquilo tudo um absurdo. Mostrei a carteira de motorista ao policial. Ele viu e foi mostrar ao cara da recepção da academia. Depois que perceberam a burrada, eu falei para o policial que queria fazer uma queixa contra a academia, mas o policial não quis fazer. Ele anotou tudo em um relatório, mas não sei se realmente foi adiante. Cheguei a procurar alguns advogados, mas não tenho muito recurso e não quiseram pegar o caso. A maioria disse que não tinha como processar, como não entendo muito das leis daqui, não insisti. Se tiver algum advogado que queira ir a fundo, eu topo. Porque não me interessa o que o povo pensa, só quero que entendam que é preciso respeitar qualquer ser humano, independente de aparência, sexo, raça, religião", conta.

Já aconteceu outras vezes

Faixa preta de Jiu-jitsu, ela revela que já aconteceu esse tipo de situação por causa da sua aparência masculina outras vezes, mas não de chamarem a polícia. "Em qualquer lugar que vou as pessoas acham que sou homem. Inclusive quando entro em banheiro. Quando estava em viagem para participar de uma luta no Texas, por exemplo, umas mulheres começaram a falar que era para eu sair do banheiro. Eu disse que sou mulher, sempre digo, mas insistem e ameaçam chamar a polícia. Outro dia mesmo, eu estava em um banheiro em outro local aqui na Flórida e um cara veio dizendo que o banheiro era de mulheres. Eu disse que sou mulher e ele não contente falou: "Ah, é? Isso aqui é país de primeiro mundo".

Preconceito gera ódio

De tudo, fica o questionamento do preconceito e como as pessoas encaram a vida atualmente. "É difícil, mas você parecer homem, você ser preto, azul, ser como você é, no momento que ninguém paga as tuas contas e todo mundo depois de sete dias não é mais nada nessa Terra, então, pra que discriminar? Acho que antes de discriminar as pessoas, você tem que saber a alma que você está quebrando. Aliás, a alma da pessoa que discrimina os outros já está quebrada. A gente acha que não, mas com o tempo essas coisas vão afetando o psicológico. O preconceito gera ódio. Seja para o homossexual, para raça, cor, religião, tudo. Cada um tem que viver a sua vida e se amar mais. O preconceito gerou muito ódio na minha vida pessoal e ajudou para que eu não tivesse muito sucesso na minha carreira. Até onde o ódio está indo, até onde está destruindo as pessoas?, questiona.

Sou mulher, nasci e vou morrer assim

"Na verdade, as pessoas são preconceituosas. Seja americano ou brasileiro, todo mundo é preconceituoso. Muitas pessoas não conseguem se aceitar, então eles não podem aceitar outro. É isso que quero deixar bem claro. Sou mulher e não tenho vontade nenhuma de trocar de sexo. Eu nasci assim, primeiramente respeito a vontade de Deus. Não tenho vontade de ser alguma coisa que Deus não tenha me colocado. Eu nasci assim, jamais vou querer ser homem. Nasci como mulher, então foi como Deus quis. Serei mulher até o dia que eu morrer. Isso é certo, eu tenho essa consciência dentro de mim. Só quero respeito", finaliza.

O Gazeta News entrou em contato com a academia citada e aguarda retorno.

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