Mulher, brasileira, imigrante: dos desafios da chegada à atuação na comunidade da Flórida

Em grupos de apoio e organizações, brasileiras se juntam e mostram empatia quando o assunto é ajudar quem precisa.

Por Arlaine Castro

(Esq.à dir) Vera Shäfer, Andreia Di Bari, Jeannie Almeida, Paloma D'avila, Josie Cardoso, Naides Brum e Flaviane Carvalho (centro).

Com uma população composta 51% por mulheres, 26% delas de hispânicas e latinas, de acordo com dados do censo relativos a julho de 2021, a Flórida concentra grande parte das mulheres brasileiras nos Estados Unidos.

Atualmente, elas estão em centenas de grupos e se ajudam de uma forma única. Seja com trabalhos voluntários, arrecadando alimentos e roupas para as recém-chegadas ou para quem esteja precisando, as brasileiras mostram empatia quando o assunto é ser mulher, brasileira e imigrante.

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Gazeta News entrevistou várias brasileiras que atuam diretamente na comunidade com diferentes tipos de trabalhos e apoio sobre os desafios de ser uma mulher imigrante na Flórida.

Vera Shäfer - Fundadora do Brasileirinho.com.

Diretora em três organizações: Rotary Boca Raton West, BBG - Brazilian Business Group e da Fundação VFP - Vamos Falar Português. Atuante no projeto: Fuxico Sem Fronteiras, com o apoio das Artesãs da Florida e do Rotary, e Fundadora do Brasileirinho.com.

“Uma das muitas vantagens de ser mulher brasileira imigrante na Flórida e que também se percebe em alguns outros estados americanos é a proliferação de grupos de mulheres em redes sociais tais como ‘As Gringas’. Tais grupos potencializam e enobrecem reações de total empatia e seus esforços por ajudar umas às outras. Sejam elas avós, mães, filhas e correlatas, profissionais ou donas de casa, estudantes ou visitantes, a reação a um pedido de ajuda é sempre algo com o que podemos contar, muito positiva. Nossa união aqui é muito forte”.

Andreia Di Bari - defensora de crianças adotivas

Faz dois trabalhos voluntários. Um como ‘Child’s advocate’ na West Palm Beach Courthouse, onde visita crianças que estão no sistema por abandono dos pais e verifica se elas estão sendo bem tratadas, comendo, dormindo bem, indo ao médico e escola. Tudo é colocado em um relatório para o juiz.

Também ajuda em uma ONG em Miami “Welcome Baby” - Grupo de voluntárias brasileiras que arrecadam fraldas, berços e artigos de bebês para doar para mães carentes, independente da condição imigratória. Organização faz parte da casa espírita Bezerra de Menezes.

Sobre o papel da mulher dentro da comunidade brasileira, DiBari acredita que “é extremamente importante. De informação, de apoio mútuo! Umas ajudando às outras. Principalmente as que chegaram agora, por motivo de violência doméstica, medo de ficar sem marido, medo da imigração. Precisamos dar apoio, amor e carinhos umas às outras. E ajudar com recursos que o governo oferece, independente do estado imigratório”.

Jeannie Almeida - voluntária na Group Home Foster Kids 

“Imigrar não é fácil, mas depois de quase 30 trinta anos de Flórida, posso dizer que fiz deste estado minha casa. No país das responsabilidades e oportunidades, fui acolhida por todos, porém tenho orgulho e um carinho especial pela nossa comunidade brasileira que sempre é muito generosa e solidária. Juntos realizamos inúmeros projetos sociais e ajudamos muitas famílias. No momento estamos arrecadando produtos de higiene para mais de 200 crianças na Group Home Foster Kids em Miami Gardens e Center for Families Child Enrichment”.

Naides Brum - conselheira de famílias e mulheres brasileiras

“Vim para os Estados Unidos no final da década de 90. Mas ao chegar nos EUA, o idioma e a cultura impactaram minha vida além do que eu estava preparada. Por isso, fui em busca de um terapeuta para nossa família e não encontrei quem falasse português. Foi assim que despertei para esse chamado, resolvi ser essa voz no aconselhamento para minha comunidade. Criar filhos, enfrentar desafios da língua e emocionais como um imigrante são atos heróicos que demandam uma clareza emocional muito grande. A princípio, comecei com trabalho voluntário em minha igreja (More Than Conquerors Church) e a seguir, Suzanne Marcellus, CEO da Fundação Cristã House of Protection me convidou para organizar o projeto de aconselhamento para famílias brasileiras. Ela não imaginava como essa iniciativa iria impactar o sul da Flórida. Em menos de três anos, já éramos conhecidos na comunidade e muitas mulheres brasileiras foram auxiliadas em situação de violência doméstica e outros abusos emocionais. Hoje, 7 anos depois, continuamos atendendo a base de doações financeiras, dando esperança e força para nossa comunidade”.

Flaviane Carvalho - brasileira que salvou criança de maus-tratos

“Ser mulher é uma dádiva de Deus, pois nós recebemos porção dobrada de amor e somos capazes de potencializar está amor em cada vida que nos cerca. Enfrentamos muitas dificuldades sim, ainda encontramos discriminação e desrespeito, mas somos e temos força e garra para correr atrás daquilo que sonhamos. Somos especialistas em mudar situações difíceis em festa! Às vezes parece que carregamos o mundo nas costas, a carga é sim, muito pesada para nós mulheres e ainda mais para aquelas que encaram o desafio de imigrar. Porém, temos coragem para encarar os desafios e resistência. Como imigrante já me senti diminuída, fragilizada, já pensei em desistir, mas persisti. Hoje me sinto bem profissionalmente e ainda com muito a conquistar. Como membro da comunidade brasileira e orgulhosa que sou, sei que representei bem nossa comunidade brasileira na expressão de um instinto feminino, trouxe um bom exemplo de coragem, perspicácia e compaixão ao próximo e me alegra saber que minha atitude trouxe orgulho e motivação para muitas outras mulheres imigrantes”.

Josie Cardoso - Grupo Safe Place

Coordenando o Grupo Safe Place, que apoia brasileiras com câncer, ela diz que “Ser uma mulher imigrante é enfrentar os desafios de uma cultura diferente; estar disposta a viver o sonho idealizado de morar fora do seu país ainda que isso nem sempre seja fácil; é lutar sem medir esforços para cumprir um propósito de vida! Fazer parte do grupo de apoio seja como voluntária ou paciente; é presenciar a cada dia o milagre de viver em meio às adversidades; é viver com o propósito de vencer sempre!”.

Paloma D’avila - Consultora Financeira

“Ser uma mulher brasileira imigrante é poder trazer para este país o cuidado com o próximo, a dedicação na profissão e fazer a diferença para nossa comunidade através do nosso conhecimento. Hoje eu represento uma empresa americana e trago educação financeira gratuita totalmente traduzida para o português, apresentando para os brasileiros as mesmas possibilidades que os americanos tem para a construção do seu planejamento financeiro, como aposentadoria, plano da faculdade para os filhos, proteção familiar e de patrimônio através do seguro de vida com benefício em vida, entre outras oportunidades. A maioria dos brasileiros não tem conhecimento sobre as suas finanças aqui e acham que não podem ter nada por estarem sem status imigratório, e a realidade é outra. Podemos sim, e devemos ter nosso planejamento financeiro em dólar, no país que escolhemos para mudar as nossas vidas e da nossa família”.