"Um abuso": Brasileiros enfrentam dificuldades com aumento do aluguel na FL

Mudanças para imóvel menor, até mesmo para um trailer, e dividir a moradia estão sendo alternativas encontradas.

Por Arlaine Castro

"Já vi casos de $700 de aumento. Não vamos esperar para ver", diz Tânia Aquino. O casal comprou um trailer.

Brasileiros que moram na Flórida estão lidando com o aumento dos custos do aluguel. Com dificuldade para encontrar moradia acessível, eles enfrentam mudanças para imóvel menor, até mesmo para um trailer, ou estão decidindo dividir a moradia com mais pessoas.

Na verdade, o mercado de aluguel da Flórida se tornou problemático para muitas famílias e trabalhadores que lutam para pagar os preços dos aluguéis nos últimos dois anos, de acordo com um relatório de março de 2022 do Florida TaxWatch.

"O meu subiu quase 700 dólares, um absurdo. O da minha vizinha foi 1.000 dólares, achei um abuso. Isto tudo aqui em Boca Raton", desabafa Isabel Bertolini.

Sem negociação com o proprietário, que avisou sobre o aumento do aluguel de US$2.050 para US$3.050 daqui a 60 dias, uma outra brasileira que preferiu não revelar o nome, mora em Boca Raton e decidiu se mudar. "Eles não estão dando nenhum desconto. Dois anos de contrato e nenhum atraso. Estou muito triste de ter que sair", lamenta.

E no ano passado, o preço das casas no estado também aumentou. “A ascensão implacável precificou muitos possíveis compradores de casas, levando-os a alugar e pressionando os preços para cima nos mercados de aluguel da Flórida”, explica o TaxWatch.

"Vamos mudar para um trailer"

Morando em um apartamento no Rosemont Windermere, em Orlando, Tânia Aquino e o marido já decidiram se mudar para um trailer.

"Hoje pagamos $1150 e um monte de taxas. Já sabemos que nosso aluguel vai subir e não tínhamos o interesse de renová-lo. Então compramos um trailer e, quando vencer nosso contrato, vamos viver nele. Um cara que trabalha comigo teve o aluguel aumentado em $550 e já vi casos de $700 de aumento. Não vamos esperar para ver", conta.

Novos dados do Realtor.com sobre aluguel de casas na área metropolitana de Miami revelam que o aluguel aumentou mais de 55% ano a ano a partir de fevereiro. Por exemplo, o custo médio do aluguel em Miami para uma unidade de um quarto em fevereiro de 2022 era de US$ 2.420 e US$ 3.220 para uma unidade de dois quartos. Esses números representam um aumento de cerca de 34% nos preços médios de aluguel ao longo do ano, segundo relatório do Florida TaxWatch, um instituto de pesquisa de contribuintes apartidário e sem fins lucrativos.

No entanto, o aluguel também aumentou em outras partes da Flórida no mesmo período. Em Orlando-Kissimmee-Sanford, o aluguel subiu 35,4%. Em Tampa-St. Petersburg-Clearwater, o aluguel subiu 32,3%. Em Jacksonville, o aluguel subiu 24,9%.

O que está causando esse aumento?

Fim do período pior da pandemia, crescimento contínuo da população, oferta limitada de moradias e aumento do valor do seguro de propriedade estão entre os principais motivos citados por corretores de imóveis e outros profissionais do setor imobiliário da Flórida.

Neise Cordeiro, corretora na região de Orlando, analisa que há um aumento de pessoas que estavam vivendo com suas famílias - durante a pandemia por exemplo - e que agora querem voltar a morar por conta própria. Somado a isso está o crescimento contínuo da população e a oferta limitada de moradias, a inflação recorde e o aumento do valor do seguro de propriedade.

“Estes são apenas alguns dos fatores que aumentaram o custo da moradia em todo o estado da Flórida. De acordo com dados da RentHub, na Florida Central o valor médio do aluguel aumentou aproximadamente 19% entre dezembro de 2020 a novembro de 2021”, cita.

Para poder arcar com o custo do aluguel, como alternativa, muitos estão começando a dividir a moradia com os chamados “roommates”. “Aconteceu com um conhecido meu aqui em Orlando. Ele desocupou a casa onde vivia, o dono do imóvel aumentou o valor para um preço X e alugou para 3 casais, um dos casais com filhos pequenos. Ou seja, três famílias estão morando na casa e arcando com o aluguel do imóvel. Outras pessoas estão com temor de se tornarem moradores de rua caso não tenham condições de arcar com seus aluguéis”, ressalta.