Brasileira que colocou recém-nascida no lixo em Boca Raton é condenada a 7 anos e meio de prisão

Por Arlaine Castro

Rafaelle Sousa, 38 anos, se declarou culpada de tentativa de assassinato e abuso infantil e foi condenada na quarta-feira, 27, a 7,5 anos de prisão pelo tribunal do condado de Palm Beach, sul da Flórida.

A brasileira Rafaelle Sousa, 38 anos, que colocou sua filha recém-nascida em uma lixeira de West Boca em maio de 2019, se declarou culpada de tentativa de assassinato e abuso infantil e foi condenada na quarta-feira, 27, a 7,5 anos de prisão pelo tribunal do condado de Palm Beach, sul da Flórida.

O caso chocou a comunidade e teve grande repercussão em todo o estado. Rafaelle já cumpriu três anos de prisão e, por ser imigrante indocumentada, ficará sob custódia do ICE e será deportada após concluir a sentença.

 

Relembre o caso

Segundo depoimento de Rafaelle às autoridades, ela não sabia que estava grávida e, no início da manhã de 8 de maio de 2019, sentiu fortes cólicas, foi ao banheiro e teve a criança. Em choque, ela segurou o bebê, que, segundo ela, não chorou em nenhum momento, o que a fez pensar que estivesse morto.

Ela aguardou por cerca de três horas, e então, como estava com a pele azulada e sem chorar, acreditou que estivesse morto. Ela então pôs o bebê em uma sacola e a colocou dentro de um dumpster na entrada do complexo de apartamentos Boca Entrada Boulevard, em West Boca.A brasileira disse que teria ainda voltado para confirmar que a bebê não estava viva, mas não se aproximou porque havia pessoas no local.

Horas depois, funcionários do condomínio ouviram um choro e, ao constatar que se tratava de uma criança, ligaram para a polícia. Na noite do mesmo dia, policiais foram até o apartamento de Rafaelle e a levaram para a cadeia sem direito a fiança.

O que alegou a defesa

"Já lidei com pessoas que viam o mundo como um monstro", disse a advogada J. Samantha Vacciana. "Ela não é um deles." "A criança bateu com a cabeça no assento de porcelana ao descer, disse Vacciana, e Sousa pensou que ela estava morta. Ela pegou o bebê do vaso sanitário, já com a pele azulada e sem respiração", completou.

Sem saber que estava grávida, ela havia tomado Tylenol e pílulas dietéticas para lidar com a dor e o ganho de peso repentino nos últimos meses, incapaz de pagar uma consulta médica e alheia ao fato de que estava esperando sua segunda filha, alegou a defesa.

"As pessoas olham para ela e pensam que veem esse monstro", disse a advogada. “O que eles estão vendo é alguém que teve uma experiência traumática grave que os levou a ter um colapso mental ainda mais grave”.

Vários profissionais de saúde estavam preparados para testemunhar a favor de Rafaelle caso o caso fosse a julgamento. Eles estavam preparados para explicar por que, após meses de automedicação, o bebê de Sousa nasceu azul e silencioso; como Sousa, sangrando e em choque, reagiu da maneira que ela respondeu.

"A evidência e o apoio estavam lá, mas ela não estava confiante de que eles encontrariam um júri disposto a ouvi-los", disse Vacciana.

O juiz sênior do condado de Palm Beach, Barry Cohen alertou Sousa na quarta-feira que sua confissão de culpa a sujeita à deportação para o Brasil ao ser libertada da prisão, mas ela assim preferiu.

O que diz o pai 

Em entrevista ao Gazeta News após o ocorrido, o marido e pai do bebê, Carlos Jimenes Martins, disse que não tinha ideia de que ela estava grávida. Amigos próximos do casal também confirmaram essa versão. Segundo informações da comunidade brasileira, Rafaelle trabalhava como manicure em um salão de beleza e tem um filho (na época com três anos), com Carlos.

A criança, de nome Sarah e hoje com três anos, foi transportada para o hospital e depois ficou em abrigo até que o pai conseguiu a guarda da filha. 

Segundo Carlos ao Gazeta News na época da prisão, o último contato que ele teve com Rafaella foi na noite em que ela foi presa. “Cheguei do trabalho, a polícia estava em minha casa. Quando a intérprete em espanhol disse que iam fazer exame de sangue na gente eu logo me prontifiquei”, relatou Carlos. “Foi então que ela (Rafaella) me olhou e disse ‘Cuida do Noah (filho de 3 anos), não me abandona. Eu disse: por que Rafaella? E ela disse: ‘o bebê era meu’. E eu olhei para o chão, coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Meu Deus do céu’”. Foi então que Carlos se dirigiu ao policial e relatou o que sua esposa, com quem é casado há 10 anos, tinha acabado de revelar. Carlos relata que logo ficou desconfiado se a bebê era dele e colheu material para o exame de DNA. Mas quando viu foto da menina, ele a achou muito parecida com o irmão. “Se eu soubesse que ela estava grávida jamais a deixaria sem ir ao médico”, afirma. Rafaella, que é natural do Maranhão, disse a Carlos que não sabia da gravidez e quando teve a menina ficou com medo de avisar. “Ela disse que a bebê não respondia de jeito nenhum e que por isso a colocou no lixo. Mas graças a Deus ela sobreviveu”.

"Eu conheço a verdadeira Rafaelle. As coisas teriam sido tão diferentes se ela soubesse que estava grávida. O bebê não chorou", afirmou a amiga próxima, que foi testemunha da defesa no julgamento de Rafaelle Sousa.

Em entrevista exclusiva ao Gazeta News, a amiga e outra brasileira que atua como defensora de vítimas pelo Immigrants Resource Center do sul da Flórida, contaram a versão da Rafaelle e os fatos anteriores à ação. Gravidez ectópica, susto, medo por ser imigrante indocumentada e confusão mental - o que a levou a deixar a recém-nascida numa sacola na área da lixeira em Boca Raton?

Leia a cobertura do caso abaixo

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