Crianças e armas: Tiros acidentais levantam alerta sobre manter armas de fogo em casa

Por Arlaine Castro

Na Flórida, uma média de 185 crianças e adolescentes morrem por armas de fogo todos os anos, segundo o everytownresearch.org.

Uma menina de três anos deu um tiro em si mesma ao brincar com uma arma de fogo que encontrou no sofá de casa em Goulds, subúrbio de Miami, no sábado, 23. Em outro caso, um menino de 10 anos do norte de Miami morreu depois de atirar em si mesmo na noite de segunda-feira, 25.

Os dois acidentes realçam a falta de segurança ao manter uma arma de fogo em casa. Na Flórida, os pais ou o adulto responsável podem ser acusados de um crime se deixarem uma arma desprotegida onde uma criança possa encontrá-la.

No caso da menina, ela estava sob os cuidados de um familiar quando encontrou a arma carregada e destravada no sofá. Ela foi brincar com a arma e acabou dando um tiro em sua mão direita. Ela foi levada ao hospital onde passou por cirurgia e não corre risco de morte. O familiar, identificado como Orlando Young, 23, foi preso e acusado de negligência infantil com lesões corporais.

De acordo com a polícia, o homem estaria tomando conta da criança e assistindo a um jogo de futebol, quando se levantou e deixou a arma em cima do sofá momentaneamente.

No segundo caso, o menino de 10 anos encontrou a arma e atirou em si mesmo. O acidente aconteceu em uma casa no bloco 14.000 do NW 5th Place, norte de Miami. Ele foi socorrido, mas não resistiu e faleceu no hospital. A polícia investiga as circunstâncias do acidente. A arma está registrada em nome do pai do garoto, que estava em casa no momento do acidente.

As conclusões da investigação serão entregues ao Ministério Público do Estado, que determinará se as acusações serão apresentadas.

Prevenção de acesso infantil

A lei da Flórida exige o armazenamento seguro de armas de fogo. Qualquer pessoa que armazene ou deixe uma arma de fogo carregada e "que saiba ou deva razoavelmente saber" que um menor provavelmente terá acesso a ela pode ser acusada se o menor a possuir ou exibir em um local público ou de forma "rude, descuidada, de maneira irritada ou ameaçadora", de acordo com o Estatuto da Flórida 790.174.

Deve-se, por lei:

- Manter a arma de fogo em uma caixa ou recipiente bem trancado;
- Manter a arma de fogo em um local seguro longe de crianças; ou
- Proteger a arma de fogo com uma trava de gatilho.

A violação é uma contravenção de segundo grau, punível com até seis meses de prisão e/ou multa de até US$ 500, mesmo que a arma não protegida resulte em morte. Isto não se aplica se um menor invadir e roubar a arma de fogo.

No entanto, a lei da Flórida só responsabiliza criminalmente a pessoa que não armazena uma arma de fogo dessa maneira se um menor tiver acesso à arma de fogo sem a permissão legal de seus pais ou responsável legal e a possuir ou exibir: em um lugar público; ou de maneira rude, descuidada, raivosa ou ameaçadora.

Morte infantil por arma de fogo

Em 2020 e 2021, as armas de fogo contribuíram para a morte de mais crianças com idades entre 1 e 17 anos nos EUA do que qualquer outro tipo de lesão ou doença, segundo a organização Kaiser Family Foundation. A taxa de mortalidade infantil por armas de fogo dobrou nos EUA, passando de um mínimo recente de 1,8 mortes por 100.000 em 2013 para 3,7 em 2021.

Na Flórida, armas de fogo são a segunda causa de morte entre crianças e adolescentes, atrás somente de lesões e mortes não intencionais na infância que incluem quedas, afogamentos, queimaduras e envenenamento, aponta o site everytownresearch.org/EveryStat. Na Flórida, uma média de 185 crianças e adolescentes morrem por armas de fogo todos os anos, e 67% dessas mortes são homicídios, diz o site.

Sem contar os últimos casos citados, até julho, em 2023, 22 crianças tinham sido baleadas acidentalmente por armas de fogo na Flórida, por elas mesmas ou por outras pessoas, de acordo com dados do Every Town for Gun Safety. Doze deles morreram.

Em abril de 2021, aproximadamente 30 milhões de crianças nos EUA viviam em lares com armas de fogo, de acordo com um estudo publicado no Journal of the American Medical Association.