As mulheres e o direito ao voto nos EUA

"O processo de acesso ao voto para mulheres de outros grupos dependeu do avanço das lutas de direitos civis mais amplas. Mas (o sufragismo) é um movimento importante"

Por POR | ARLAINE CASTRO

Aprovada pelo Congresso americano em 1919 e ratificada em 18 de agosto de 1920, a 19ª emenda à Constituição Americana previu a garantia do voto feminino a todas mulheres, graças à luta sufragista, iniciada principalmente no ano de 1800.

Há 100 anos, em 18 de agosto, o estado do Tennesse foi o último a votar a favor da emenda, introduzida ao Congresso inicialmente em 1878.

Apesar da aprovação, nem todas as mulheres tiveram o acesso garantido ao voto. As negras, por exemplo, foram praticamente excluídas da ação conquistada por sufragistas brancas, que se distanciaram de ativistas negras através de divisões na conciliação entre gênero e raça.

O voto feminino negro foi de fato validado apenas em 1964, com a Lei de Direitos Civis.

"O sufragismo traz o debate, mas você ainda tem limitações de participação. No caso grupos minoritários, como negros e estrangeiros, ainda vão depender de outras lutas para conquistar o direito do voto", explica a doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) Denilde Holzhacker.

"Para avançar no direito de voto, as mulheres brancas acabaram aceitando um processo que criava barreiras às mulheres negras. Este processo aconteceu especialmente nos movimentos das mulheres no sul do país, que tinham fortes políticas segregacionistas", completou.

Em 1920, os Estados Unidos, recém saídos da Primeira Guerra Mundial, ainda eram marcados por uma sociedade fortemente patriarcal, apesar da conquista importante, ainda havia restrições em relação às quais mulheres poderiam votar, como alfabetização, conhecimento sobre a Constituição, autorização de pais ou maridos e/ou apresentação de pagamento de impostos.

"O processo de acesso ao voto para mulheres de outros grupos dependeu do avanço das lutas de direitos civis mais amplas. Mas (o sufragismo) é um movimento importante que deflagrou uma discussão sobre o papel da mulher na sociedade e também no ambiente político", informou Denilde.

Mulheres asiáticas e latinas também enfrentaram dificuldades para ter acesso ao voto feminino nos Estados Unidos, já que a luta pelo direito à cidadania foi outra questão isolada pelo movimento sufragista.

Dias atuais

Nesta terça feira (18), o presidente Donald Trump disse que iria perdoar formalmente a ativista de direitos das mulheres, Susan B. Anthony, presa na cidade de Rochester (NY) em 1872 por votar ilegalmente, quando o ato ainda era proibido no país. O anúncio foi feito durante evento na Casa Branca que celebrou o centenário da conquista.

Ela foi uma importante sufragista na luta pelo voto feminino e uma das principais líderes da Associação Nacional de Mulheres Sufragistas.

Antes de ser julgada, Anthony discursou em 29 cidades americanas sobre o direito do voto. "Nós, o povo, formamos essa União. Não foram os brancos, ou os homens, mas todos nós".

No Brasil, o voto feminino foi incorporado à Constituição de 1934 depois de muita luta que começou em 1880. A pioneira foi a dentista Isabel de Mattos Dillon, que aproveitou as introduções promovidas pela Lei Saraiva na legislação brasileira.

Esta lei, de 1880, dizia que todo brasileiro possuidor de um título científico poderia votar. Por esta razão, Isabel Dillon usou esta brecha para exercer seu direito solicitando sua inclusão na lista de eleitores do Rio Grande do Sul.

A República, no entanto, não ampliou o direito de voto às mulheres. Apenas dizia que "cidadãos maiores de 21 anos" poderiam votar. Claro está que isso excluía as mulheres naquela época.

Em 1910, surgiu o Partido Republicano Feminino, fundado pela professora Leolinda de Figueiredo Daltro. Inspirado nas suffragettes inglesas, o PRF organizava passeatas, lutava pela educação voltada para o trabalho e pressionava o governo para que lhe concedessem o direito ao voto.

Texto: CNN Brasil e portal Toda Matéria.