A cultura vai sobreviver à pandemia?

Mais de 20 mil shows foram suspensos entre janeiro e março na Ásia e incluem turnês de famosos. Os prejuízos podem chegar a US$ 286 milhões, segundo a revista Billboard.

Por POR | ARLAINE CASTRO

O prejuízo para o setor cultural com cancelamento de shows e adiamento de estreias de cinema por causa da pandemia será de grande impacto em todo o mundo. Países anunciam medidas para ajudar, mas mesmo assim, como ficará o setor e os artistas que dele dependem?

As instituições culturais permanecem em um padrão perigoso de crise e enfrentam um futuro profundamente incerto. Mesmo que alguns tomem medidas provisórias de reabertura, a maioria permanece fechada sem nenhuma data de reativação ainda definida. E mesmo os que já planejam reabrir, enfrentam diversos obstáculos como a falta do público e aplicação das medidas de segurança impostas pelas autoridades de saúde e pelo governo.

Nos Estados Unidos, o segmento de Performing Arts Centers tem uma estimativa de perda em venda de ingressos em torno de US$ 42.5 bilhões, de acordo com estudo do Brookings Institution.

O artigo do jornal Nexo intitulado "O impacto do coronavírus na cultura. E o papel dos governos", de autoria de Camilo Rocha e publicado em março deste ano, cita que, "no Reino Unido, o ao vivo era responsável por mais de um quinto da receita do setor da música."

No Reino Unido, casas de shows e turnês se preparam para enfrentar grandes prejuízos com as dezenas de cancelamentos. Entre as turnês bloqueadas estão Avril Lavigne, The Who, Green Day, Pearl Jam e Madonna. Na França, o Tomorrowland, maior evento de música eletrônica do mundo, teve sua data em março cancelada.

Segundo a revista americana Billboard, mais de 20 mil shows foram suspensos entre janeiro e março na Ásia. Os cancelamentos incluem turnês de nomes grandes como Avril Lavigne, Green Day e BTS. Os prejuízos podem chegar a US$ 286 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão de reais).

No sul da Flórida, a matéria especial dessa semana "Como a pandemia afetou o setor cultural e artistas brasileiros na Flórida" (página 10) mostra como está sendo esse impacto para o setor de Performing Arts Centers e também para artistas brasileiros que têm como ganha-pão as apresentações culturais na Flórida e EUA no geral.

Representantes dos setores culturais de vários países pressionam governos para que implementem medidas que aliviem os prejuízos de instituições, empresas e trabalhadores da área. No Brasil, entidades ligadas à música, ao cinema e à cultura cobram as autoridades. Após a aprovação da lei Aldir Blanc no Congresso, o governo federal abriu crédito extraordinário de R$ 3 bilhões a estados, municípios e ao Distrito Federal para viabilizar o pagamento do Apoio Emergencial a artistas.

A lei, sancionada em junho, prevê pagamento de três parcelas de um auxílio de R$ 600 a artistas informais.

Se reinventar e encontrar novas maneiras de agradar o público e, consequentemente, de ganhar dinheiro, é o que os artistas estão fazendo. Lives nas redes sociais, shows nas plataformas digitais, exibição on-line - tudo isso mostra que a pandemia só acelerou uma migração para mais um meio de encontro entre artistas e o público.

Mas isso não tira a importância do contato direto com o público e também não chega ainda ao mesmo patamar de lucro para o artista em si. Talvez para as grandes empresas de entretenimento digital, como a Netflix, que viu seu lucro disparar na pandemia por causa do aumento de acesso. Mas enquanto as grandes corporações lucram, os artistas padecem. Continuam no limbo. Muitas dúvidas pairam sobre o setor que diverte, relaxa, busca espairecer um público cansado da pandemia.

Mas os artistas estão cansados. Precisam de apoio e de um futuro mais promissor no mundo pós-covid.