Fake news e eleições: veja filmes e livros

"As fake news, vale lembrar, não são uma novidade. Elas existem desde os primórdios do jornalismo. A diferença da atualidade está no casamento com a tecnologia (...)".

Por POR | ARLAINE CASTRO

As eleições nos Estados Unidos e no Brasil estão aí e um fenômeno que preocupa profissionais da comunicação, do direito, das ciências sociais e políticas e a sociedade civil em geral são as famosas fake news.

Elas são apontadas como parte de um fenômeno mais amplo, que é o da pós-verdade (ou pós-fato, como preferem alguns especialistas). O termo pós-verdade foi eleito a palavra do ano de 2016 do Dicionário Oxford.

No entendimento da Universidade de Oxford, a expressão pós-verdade relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais.

As fake news, vale lembrar, não são uma novidade. Elas existem desde os primórdios do jornalismo. A diferença da atualidade está no casamento com a tecnologia, que amplia a velocidade de compartilhamento, as facilidades de edição e simulação de veículos noticiosos (cada vez mais surgem páginas de fake news que imitam a diagramação, layout e redação típicos do jornalismo) e o engajamento das pessoas com as mentiras. Sim, muita gente quer acreditar na mentira simplesmente porque concorda com ela, porque ela contribui, de alguma forma, para seus valores e visões de mundo.

De acordo com estudiosos dos fenômenos das fake news e pós-verdade, o marco desta onda tecnológica atual foi mesmo o ano de 2016, por conta das eleições de Donald Trump e do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia, coisa que até hoje tem dado muito o que falar por lá).

Enquanto o dia da eleição não chega, a gente pode entender um pouco mais sobre os impactos da desinformação na política e no cotidiano e aprender quais sãos seus mecanismos e as motivações de quem está por trás das principais máquinas de mentiras espalhadas pelo mundo: no Brasil, na Rússia e até na pacata Macedônia.

O Observatório da Imprensa selecionou dez obras (seis filmes e quatro livros) nacionais e estrangeiras que discutem as fake news no contexto eleitoral.

FILMES

Privacidade Hackeada (2019); The Waldo Moment (2013); O dilema das redes (2020); Fake news - baseado em fatos reais (2017); Rede de ódio (2020); e Contágio (2011).

LIVROS

A morte da verdade: notas sobre a mentira na era Trump (Michiko Kakutani); Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais (Jaron Lanier); Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news (Matthew D'Ancona); e A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital (Patrícia Campos Mello).

Hiperpolarização

Em entrevista à Agência Senado, o doutor em Filosofia Wilson Gomes, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), disse que a disseminação de notícias falsas é um fenômeno persistente, ao contrário do que muitos pesquisadores diziam, quando avaliavam a divulgação de notícias falsas como um movimento pontual. Para ele, as fake news se tornaram fenômeno a partir de 2016, em um ambiente de "hiperpolarização política" e com o avanço da direita conservadora e digital.

O professor também ressaltou que a produção de fake news está ligada à prática da "política suja". Wilson Gomes lembrou que já existiam notícias falsas nas guerras mundiais do século passado, mas o avanço da conexão tecnológica permite que as fake news se espalhem de forma rápida e para todos os lugares.

— Hoje não há front: não há lugar que não possa ser alcançado. Fake news tem a ver com o mundo digital, com ambientes de convivência, com uma espécie de retribuição de amor digital — apontou o professor.