Além da condenação de um policial nos EUA

É comum encontrar queixas de cidadão negros americanos nas redes sociais dizendo sentir que são detidos pela polícia pelo simples fato de serem negros.

Por POR | ARLAINE CASTRO

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu uma investigação na quarta-feira, 21, - horas após o resultado do júri que condenou o ex-policial pela morte de George Floyd - para avaliar se a polícia de Mineápolis, onde Floyd foi morto, usa força excessiva com frequência.

A investigação deve levar a um acordo entre o governo Biden e o local, uma ferramenta que a gestão Obama usou repetidamente para lidar com atos de má conduta policial, segundo o jornal "The New York Times".

Em uma rara condenação à violência policial nos EUA, o tribunal do júri considerou Chauvin culpado pelas três acusações de homicídio feitas pela promotoria. A pena máxima para o ex-policial é de 75 anos e será divulgada daqui a oito semanas, segundo o juiz.

O procurador-geral afirmou que a investigação foi aberta "para determinar se o departamento de polícia de Mineápolis se envolve em um padrão ou prática de policiamento inconstitucional ou ilegal".

"A maioria dos policiais de nosso país desempenha seus difíceis trabalhos de maneira honrada e legal", afirmou Garland. "Acredito fortemente que bons oficiais não querem trabalhar em sistemas que permitem práticas ruins".

A investigação vai apurar a polícia de Mineápolis tem um padrão de uso de força excessiva, inclusive em protestos; se envolve conduta discriminatória; e se o tratamento de pessoas com deficiências de saúde comportamentais é ilegal.

Ela também vai analisar o treinamento, a supervisão, as investigações sobre uso da força do departamento e se os sistemas atuais de responsabilização da polícia são eficazes para garantir que os policiais ajam legalmente.

Os Estados Unidos vivem a mais grave onde de manifestações desde 1968, após o assassinato do líder de direitos civis Martin Luther King Jr.. Desta vez, o estopim dos protestos foi desencadeada pela morte de Floyd.

O caso provocou manifestações em mais de 75 cidades. Em mais de 40 delas, as autoridades decretaram toque de recolher. A Guarda Nacional foi acionada com 16 mil soldados despachados para 24 Estados e a capital, Washington.

Mas o que há além da condenação do policial nessa realidade de violência ligada ao preconceito racial e abuso de poder?

É comum encontrar queixas de cidadão negros americanos nas redes sociais dizendo sentir que são detidos pela polícia pelo simples fato de serem negros. E dados indicam que isso não é apenas uma percepção, segundo a BBC.

Um artigo de Rashawn Ray, do centro de pesquisas Brookings Institution, afirma que pessoas negras têm 3,5 vezes mais chances de serem mortas por policiais do que brancas em situações em que não existe ataque ao policial ou porte de armas. Entre adolescentes, a probabilidade é 21 vezes maior. A polícia americana mata uma pessoa negra a cada 40 horas.

"Um em cada mil negros morre nas mãos da polícia. E por mais impressionantes que sejam essas estatísticas, elas ainda são melhores do que no passado. É por isso que há protestos de Minneapolis a Los Angeles", diz Ray.

Os excessos policiais não são a única faceta do racismo nos Estados Unidos — nem foram o único motivo para os protestos.

Agora, após a condenação de Chauvin, entidades e políticos, até a principal liga de basquete do mundo, a NBA, afirmam que o assassinato de George Floyd alertou para a necessidade de se olhar para a injustiça racial no país, até mesmo, dentro do esporte.

A condenação de Derek Chauvin é "um passo gigante no caminho para a justiça nos EUA", disse Biden, que reafirmou o compromisso com uma reforma policial. Texto: BBC e Reuters.