Conversando com as crianças sobre racismo

As questões que organizam os valores sociais e hierarquizam determinados grupos em detrimento de outros já estão presentes desde cedo na experiência de todas as crianças.

Por POR | ARLAINE CASTRO

Pode ser difícil conversar com seus filhos e filhas sobre racismo. Alguns pais e mães se preocupam em expor suas crianças a questões como racismo e discriminação em tenra idade. Outros evitam falar sobre algo que eles próprios podem não entender completamente ou não se sentem à vontade para discutir.

No entanto, as questões que organizam os valores sociais e hierarquizam determinados grupos em detrimento de outros já estão presentes desde cedo na experiência de todas as crianças. É preciso lidar com essa realidade e encontrar caminhos adequados de diálogo.

Conversas sobre racismo e discriminação serão diferentes para cada família. Embora não exista uma abordagem única, a ciência não deixa dúvidas: quanto mais cedo pais e mães começarem a conversa com suas crianças, melhor.

Os bebês percebem diferenças físicas, incluindo a cor da pele, a partir dos 6 meses. Estudos demonstraram que, aos 5 anos de idade, as crianças podem mostrar sinais de viés racial, como tratar pessoas de um grupo racial de maneira mais favorável que de outro. Os meios de comunicação, as instituições de ensino, e toda a experiência social nas quais as crianças estão inseridas encontram-se imersas em um racismo estrutural e, por isso, elas vão receber informações sobre os lugares sociais a que supostamente estão "destinadas" as pessoas a partir da cor da pele. Ignorar ou evitar o assunto não protege crianças, ao contrário deixa-as expostas a preconceitos que existem onde quer que vivamos.

Como falar com seus filhos e filhas sobre racismo

A maneira como as crianças entendem o mundo evolui à medida que crescem, mas nunca é tarde para conversar com elas sobre igualdade, justiça e racismo. Aqui estão algumas maneiras de iniciar essa conversa de acordo com a idade da criança ou do adolescente:

Crianças menores de 5 anos

Nessa idade, as crianças podem começar a perceber e apontar diferenças nas pessoas que veem ao seu redor. Como mãe, pai ou responsável, você tem a oportunidade de estabelecer delicadamente o fundamento de sua visão de mundo. Use uma linguagem apropriada para a idade, de fácil compreensão.

Reconheça e comemore as diferenças - Se sua criança perguntar sobre a cor da pele de alguém, você pode usar essa oportunidade para reconhecer que as pessoas realmente são diferentes, mas também para apontar coisas que temos em comum. Você pode dizer, por exemplo: "As diferenças são uma parte essencial da experiência humana. Cada pessoa é única, e não existe ninguém igual no mundo, não é maravilhoso?"

Esteja aberto(a) - Deixe explícito para a sua criança que você está sempre disponível para responder as perguntas dela e encoraje-a a sempre perguntar tudo o que quiser. Se ela apontar pessoas diferentes - como as crianças pequenas costumam fazer por curiosidade -, evite calá-la ou ela vai acreditar que esse assunto é um tabu. Explore o que ela pensa sobre a diferença e vá "corrigindo" até que ela entenda que não é correto julgar ou comparar diferenças. E, se ao contrário, ela tiver sofrido uma situação de discriminação, encoraje-a a conversar e acolha seus sentimentos direcionando-os para um campo de valorização e positivação do tópico que tenha sido motivo de depreciação (cabelo, cor da pele, outro característica fenotípica, etc.)

Fale sobre justiça - As crianças, especialmente por volta dos 5 anos de idade, tendem a entender muito bem o conceito de justiça. Fale que o racismo é injusto e que devemos combatê-lo. Use exemplos de atitudes certas ou erradas, sobre acesso a direitos e deveres de cada um ou uma, incluindo ela mesma. Fale sobre empatia.

Texto: UNICEF Brasil.