Futuro híbrido: o mundo pós-pandemia

Nessa retomada, os centros de inovação apostam que o futuro não será como antes - e nem como é hoje, com tudo feito à distância.

Por POR | ARLAINE CASTRO

O avanço da vacinação permite esboçar planos para uma vida pós-covid. Nessa retomada, os centros de inovação, conhecidos pelos espaços físicos que reúnem startups e empreendedores em bancadas de trabalho coletivas (além de oferecer café e água saborizada, mesas de pingue-pongue e pufes para descanso), apostam que o futuro não será como antes - e nem como é hoje, com tudo feito à distância. Centros como o Habitat, do Bradesco, o Cubo, do Itaú, e o Google for Startups enxergam um futuro híbrido para os seus espaços.

Até 2020, esses locais registravam fluxo intenso de pessoas - no Google for Startups, em São Paulo, 4 mil "startupeiros" circulavam mensalmente pelo espaço. Isso porque, além de sentar à mesa para disparar e-mails e fazer telefonemas, realizar encontros com desconhecidos pelos corredores fazia parte da rotina de negócios. O cenário, é claro, mudou com a chegada da covid.

Desde então, os centros de inovação precisaram tomar um caminho diferente, apostando tudo no digital. A criação de bancos de dados internos, com nome e área de atuação das startups, tentaram facilitar a conexão entre empreendedores desconhecidos. Além disso, eventos passaram a ser transmitidos online, permitindo que centenas de participantes de novas regiões do Brasil assistissem.

Com um campus na capital paulista (ainda totalmente fechado para visitantes), o Google for Startups, programa de aceleração de companhias de tecnologia impulsionado pela gigante de buscas, também percebeu que o caminho digital trazia audiência de todo o País. Além disso, a empresa percebeu que a nova modalidade tornou mais fácil reunir startups (virtualmente, é claro) com figurões do mundo tecnológico de fora do Brasil.

"Com o digital, conseguimos acessar especialistas do Google de qualquer parte do mundo. Antes, ao colocar em vídeo um especialista de outro país em uma sala cheia de empreendedores, isso talvez fosse percebido como uma experiência menos valiosa", conta André Barrence, diretor do Google for Startups para a América Latina. "Hoje, tornou-se algo absolutamente normal."

Além de o digital tornar-se o "novo normal" nestes tempos, a ferramenta provou que pode trazer mais eficiência. "O trabalho no digital tem sido eficiente e proporciona, mais diversidade, porque consegue realizar maior inclusão de pessoas distantes em uma mesma equipe, o que traz uma colheita maior de opiniões. E isso atrai mais inovação ao ecossistema", explica Eduardo Jotta, professor de inovação do Insper.

Para Gilberto Sarfati, professor de inovação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a diversidade de startups proporcionada pelo modelo híbrido é positiva para o cenário brasileiro de inovação — ainda que, para ele, o contato físico e os encontros de corredor se mantenham como o horizonte preferido.

O futuro aponta para um cenário phygital (junção das palavras em inglês physical com digital), mas ninguém sabe qual será a proporção.

Parte da trilha do caminho híbrido acontece porque os protocolos sanitários devem continuar. Nada de eventos lotados e somente parte dos convidados poderão comparecer presencialmente.

Assim, o espaço físico ganhará um significado adicional que antes não existia, explica Barrence. "Ter o espaço físico como um ponto de encontro vai ter muito valor e vai ser maior do que no período pré-pandemia", observa. "As pessoas vão ter a intenção de estarem presentes e vai haver muito mais qualidade nessas interações."

Fonte: Texto "Centros de inovação apostam em modelo híbrido para retomada pós-pandemia", publicado pelo Estadão via portal Terra.