Ômicron: restringir viagens tem efeito limitado

Lockdowns, ampla testagem e medidas de segurança, como uso de boas máscaras, parecem ter sido tão importantes quanto restrições a viajantes para conter a pandemia.

Por POR | ARLAINE CASTRO

O presidente da África do Sul, país onde a nova variante do coronavírus, ômicron, foi inicialmente identificada, criticou as restrições de voos impostas mundialmente a viajantes vindos da África Austral.

"A proibição de viagens não é informada pela ciência, não será eficiente em prevenir o avanço dessa variante", criticou Cyril Ramaphosa.

O Brasil está entre os países a impor vetos a viajantes. Na sexta-feira, 26, seguindo recomendação da Anvisa, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse que as fronteiras aéreas estão temporariamente fechadas para passageiros vindos da África do Sul, Botsuana, Essuatini (Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue.

Na terça-feira, 30 de novembro, a Anvisa informou que foram identificados, em um sequenciamento genético preliminar, os dois primeiros casos dessa variante no Brasil, no aeroporto de Guarulhos (SP).

O que dizem as evidências científicas sobre medidas restritivas ao tráfego aéreo?

Ainda em fevereiro de 2020, no início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que restrições a viajantes "geralmente são ineficientes" na tentativa de se prevenir que uma variante chegue a um determinado país, além de ter possíveis impactos econômicos e sociais.

"Medidas de viagens que interferem significativamente com o tráfego internacional só podem ser justificadas no início de uma epidemia, quando permitem que os países ganhem algum tempo", disse a organização na época.

E a mesma recomendação da OMS foi ignorada por muitos países da Ásia, como Cingapura e Taiwan, que restringiram voos da China logo no início da pandemia e depois foram copiados por diversos países ao redor do mundo.

Viajantes brasileiros também foram alvo de diversas restrições, sobretudo durante o período de maior incidência da variante gamma, identificada originalmente no Amazonas.

Desde então, a OMS atualizou suas diretrizes e agora recomenda uma abordagem "baseada em risco" no que diz respeito a restrições de viagens. Elas sugerem que países levem em conta seus níveis de imunidade (pela vacinação e também pela infecção natural), o avanço da variante em questão e a efetividade de medidas como testagem e quarentena.

Mas agregam que "países (...) preocupados que variantes sejam um risco (...) devem adotar uma abordagem precavida e implementar restrições limitadas" e "proporcionais" à ameaça em questão.

Estudos feitos após a fase inicial da pandemia, no ano passado, sugerem que restrições a viagens podem ter tido algum impacto inicial em atrasar o avanço no vírus.

Uma pesquisa publicada no periódico Nature em dezembro de 2000 aponta que essas restrições funcionaram bem no começo da crise global, mas depois foram perdendo eficácia.

Um estudo do centro alemão WZB Berlin Social Science Center, de outubro, chegou a conclusões semelhantes ao analisar fechamento de fronteiras aéreas e índices de mortes por covid-19 em mais de 180 países.

O maior impacto ocorreu quando os países restringiram as viagens externas antes de alcançar a marca de dez ou mais mortes. E acrescentou que uma quarentena obrigatória para todos os viajantes era mais eficiente do que vetos a entradas com base no país de origem do viajante. Por fim, restrições específicas em determinados países tiveram mais impacto do que restrições a viajantes em geral.

Por isso, lockdowns, ampla testagem e medidas de segurança, como uso de boas máscaras, parecem ter sido tão importantes quanto restrições a viajantes no esforço de conter as infecções nos estágios iniciais da pandemia. Texto: BBC News.