Medidas radicais para promover moradia

Antes de uma moratória federal ser implementada, no outono passado, cerca de 40 milhões de pessoas corriam o risco de serem despejadas pelo choque econômico da pandemia.

Por POR | ARLAINE CASTRO

A crise de moradias populares nos EUA já era grave o suficiente antes da Covid-19. Quase um terço das famílias vive de aluguel e quase metade delas gasta mais de 30% de sua renda em habitação. Antes de uma moratória federal ser implementada, no outono passado, cerca de 40 milhões de pessoas corriam o risco de serem despejadas devido ao choque econômico da pandemia. Esse risco pode não desaparecer tão cedo.

Uma das razões para esses números alarmantes é a escassez de moradias realmente acessíveis para quem tem baixa renda. O estoque de moradias públicas acessíveis e permanentes tem diminuído, restando apenas 1,2 milhão de unidades construídas pelo governo federal. Outras moradias a preços acessíveis - muitas das quais são desenvolvidas pelo setor privado por meio de créditos fiscais e subsídios do governo - estão longe de fornecer as cerca de 7 milhões de casas necessárias para pessoas com rendas muito baixas. Dos 20 milhões de lares sobrecarregados de custos nos EUA, apenas cerca de um quarto recebe alguma assistência do governo.

Cada vez mais cidades estão explorando novas maneiras de construir moradias populares e preservar o que já existe. A pandemia criou condições para que as cidades investissem com mais ousadia em moradias populares e assumissem mais controle sobre as forças de mercado que fizeram os preços disparar.

Novas possibilidades estão surgindo com a agenda do governo Biden, e este pode ser o momento mais oportuno em décadas para as cidades começarem a preencher seus déficits de moradias populares. Existem vários modelos promissores - tanto antigos quanto modernos - que mostram como isso pode ser feito. Tudo começa com as cidades assumindo o problema, comprando mais moradias dentro de seu território.

"Vou ser radical: se realmente queremos resolver o problema da habitação neste país, temos que tirar o máximo possível das habitações privadas das mãos dos proprietários e entregá-lo a proprietários públicos e sem fins lucrativos", diz James Stockard, ex-comissário de longa data da Cambridge Housing Authority, em Massachusetts, e professor de estudos habitacionais em Harvard.

Por mais radical que pareça, na verdade é simples. Assim como qualquer outro ator no mercado, tudo o que uma cidade teria de fazer para obter esse estoque habitacional seria comprá-lo.

Aconteceu em Dallas, onde, em maio passado, a autoridade habitacional da cidade comprou um prédio de 347 apartamentos ao lado de uma estação ferroviária. Também aconteceu em Missoula, Montana, onde a autoridade habitacional da cidade prevaleceu em uma guerra de licitações para comprar e manter um complexo de apartamentos de 96 unidades com preço acessível. Aconteceu até mesmo em Gary, Indiana, onde a autoridade da cidade comprou uma escola primária desativada e planeja transformá-la em moradias populares.

Apesar das barreiras de financiamento e dos desafios políticos, cidades de todo o país mostraram é possível. Mas nem de longe percebem que isso é uma opção. "Simplesmente não está no radar deles. 'Prestamos serviços de polícia, recolhemos o lixo, pavimentamos as ruas, mas não compramos casas'", afirma Stockard.

Em Cambridge, a autoridade habitacional tem sido agressiva ao aumentar o estoque de moradias populares da cidade, comprando propriedades existentes e pagando uma grande quantia adiantada aos proprietários de edifícios para que eles estendam o período de acessibilidade das moradias construídas com subsídios federais, que às vezes duram apenas 15 ou 30 anos.

Texto: NATE BERG, portal Fast Company Brasil.