Crescimento econômico mundial desacelera

Uma inflação mais alta do que o previsto, sobretudo nos Estados Unidos e nas principais economias europeias, está provocando um aperto das condições financeiras mundiais.

Por POR | ARLAINE CASTRO

As três maiores economias do mundo estão quase parando, com importantes consequências para as perspectivas mundiais. A inflação é uma grande fonte de preocupação.

A economia mundial, ainda às voltas com a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia, enfrenta um panorama cada vez mais sombrio e incerto. Muitos dos riscos negativos apontados na edição de abril do World Economic Outlook começaram a se concretizar.

Uma inflação mais alta do que o previsto, sobretudo nos Estados Unidos e nas principais economias europeias, está provocando um aperto das condições financeiras mundiais. A desaceleração da economia chinesa tem sido pior do que o previsto, em meio a surtos de Covid-19 e lockdowns, e a guerra na Ucrânia gerou novas repercussões negativas. Como resultado, o produto mundial contraiu-se no segundo trimestre deste ano.

Em nossa previsão de referência, o crescimento cai de 6,1% no ano passado para 3,2% neste ano e 2,9% no próximo ano, um recuo de 0,4 e 0,7 ponto percentual em relação às previsões de abril. Isso reflete a estagnação do crescimento nas três maiores economias do mundo — Estados Unidos, China e a área do euro — com importantes consequências para as perspectivas mundiais.

Nos Estados Unidos, a queda do poder de compra das famílias e o aperto da política monetária reduzirão o crescimento para 2,3% neste ano e 1% no ano que vem. Na China, novos lockdowns e o aprofundamento da crise imobiliária reduziram o crescimento para 3,3% neste ano - o mais baixo em mais de quatro décadas, excluído o período da pandemia. E na área do euro, o crescimento foi revisto em baixa para 2,6% neste ano e 1,2% em 2023, como reflexo das repercussões da guerra na Ucrânia e de uma política monetária mais austera.

Apesar da desaceleração da atividade, a inflação mundial foi revisada para cima, em parte devido à elevação dos preços dos alimentos e da energia. A inflação neste ano deve atingir 6,6% nas economias avançadas e 9,5% nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento - correções para cima de 0,9 e 0,8 ponto percentual, respectivamente - e deve se manter elevada por mais tempo. A inflação também se ampliou em muitas economias, refletindo o impacto das pressões de custo decorrentes de rupturas nas cadeias de suprimentos e da escassez histórica de mão de obra nos mercados de trabalho.

Num cenário alternativo plausível em que alguns desses riscos se concretizam, como um corte total do fluxo de gás da Rússia para a Europa, a inflação aumenta e o crescimento mundial desacelera ainda mais, para cerca de 2,6% neste ano e 2% no próximo; o crescimento só esteve abaixo desse patamar cinco vezes desde 1970. Nesse cenário, tanto os Estados Unidos como a área do euro experimentam um crescimento próximo a zero em 2023, com repercussões negativas sobre o resto do mundo.

Nos níveis atuais, a inflação representa um claro risco para a estabilidade macroeconômica presente e futura, e trazê-la de volta às metas dos bancos centrais deve ser a prioridade absoluta das autoridades. Em resposta aos dados mais recentes, os bancos centrais das principais economias avançadas estão retirando o apoio monetário mais rapidamente do que prevíamos em abril, enquanto muitas autoridades monetárias nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento já haviam começado a elevar as taxas de juros no ano passado.

O consequente aperto monetário sincronizado entre os países é sem precedentes e deverá ter forte impacto, com a desaceleração do crescimento mundial no próximo ano e um recuo da inflação. Artigo: Pierre-Olivier Gourinchas/Blog FMI.