Jornalismo é publicar o que se deve

"A sociedade se tornou mais polarizada e descrente a partir desse fenômeno, sobretudo no recorte político", argumenta Manuella Maria Silva Menezes.

Por POR | ARLAINE CASTRO

O jornalismo não é publicar o que se quer, mas o que se deve. "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade". Essa frase, de William Randolph Hearst, é bastante famosa entre os profissionais da comunicação, especialmente aqueles que trabalham na imprensa, por trazer uma visão idealista e até romântica sobre o impacto da reportagem na sociedade. Porém, se no mundo offline, dominado pela mídia impressa e por emissoras de rádio e televisão, as fronteiras entre informação e propaganda eram mais visíveis nas páginas de papel e nas grades de programação, não podemos dizer o mesmo dos tempos conectados em que vivemos" , analisam Mariana Mandelli e Isabella Galante no texto: Jornalismo, informação e publicidade: fronteiras borradas, publicado no site especializado EducaMidia.

Com a internet, a forma como nos comunicamos mudou profundamente, e a de fazer jornalismo também. No entanto, a ética, que pauta a profissão, segue intacta como o norte de qualquer veículo de comunicação. Pelo menos é como deve ser e como o grupo Gazeta News sempre fez e continua fazendo.

Com base em uma análise da história do jornalismo e em entrevistas com especialistas, a sociedade se tornou mais polarizada e descrente a partir desse fenômeno, sobretudo no recorte político, argumenta Manuella Maria Silva Menezes, na Universidade Católica Portuguesa, em sua dissertação de mestrado "Como as fake news impactam o jornalismo no século 21", que investiga o impacto das fake news no campo da comunicação, publicada no site de jornalismo Nexo.

No estudo, a autora defende que estudar profundamente este evento torna-se crucial para entender a comunicação da era atual e também evitar que se cometam injustiças baseadas em mentiras. As fake news põem em xeque a verdade e a missão do jornalismo, cuja função primordial é informar corretamente, para que os membros da sociedade se posicionem fundamentados na realidade ou, conscientemente e se preferirem, em seus próprios valores, mas sem utilizar subterfúgios para tal.

Em uma sociedade democrática, não há como debater saudavelmente nenhuma medida, da saúde à imigração, se os cidadãos e as autoridades não estiverem alinhados sobre o que é, de fato, verdade. Ou, pelo menos, sobre o que é a verdade factual. A desinformação confunde e transforma o debate em um duelo infindável de opiniões. Já em um regime autoritário, sem imprensa livre ou diversidade política, e com liberdade de expressão limitada, as mentiras podem tranquilamente ganhar as manchetes dos meios de comunicação sem que sejam ameaçadas por dúvidas ou inquirições.

Para investigar o impacto das fake news no comportamento dos consumidores de informações nas mídias sociais, a pesquisa percorre a história do jornalismo, a fim de identificar os contextos sociais em que ocorreram mudanças significativas, e como cada etapa deixou ideias ou modus operandi encontrados hoje na disseminação de desinformação.

As conclusões do trabalho identificam a dúvida, a polarização e a descrença que o fenômeno das fake news gerou na sociedade, com destaque para o campo político e midiático/jornalístico.

"Educar para a informação, considerando todas essas nuances e camadas complexas do mundo digital, é a melhor maneira de formarmos cidadãos livres e aptos a fazer escolhas conscientes. E esse processo precisa começar dentro da escola", ressalta o EducaMidia.

Trechos extraídos dos textos: Jornalismo, informação e publicidade: fronteiras borradas, do EducaMidia e Como as fake news impactam o jornalismo no século 21, do Nexo.