Como fuzil AR-15 se tornou popular nos EUA

Acessível, customizável, leve e letal, o rifle estilo AR-15 se tornou um para-raio na amarga guerra cultural americana em relação às armas.

Por POR | ARLAINE CASTRO

A convenção anual da Associação Nacional de Rifles (NRA, na sigla em inglês) foi realizada no fim de semana de 15 de abril após dois massacres consecutivos.

Os ataques em Nashville (Tennessee) e Louisville (Kentucky) — que juntos deixaram 11 mortos em apenas duas semanas — reacenderam protestos em todo o país e apelos para proibir rifles de estilo militar.

No centro de exposição da NRA, no entanto, os negócios estavam indo de vento em popa. Havia centenas de estandes dedicados a customizar a arma que se tornou o cartão de visitas dos autores de massacres: o fuzil AR-15.

Acessível, customizável, leve e letal, o rifle estilo AR-15 se tornou um para-raio na amarga guerra cultural americana em relação às armas. Enquanto os tribunais debatem a Segunda Emenda da Constituição, que garantiria o direito de portar armas, e analisam se devem expandir ou restringir os direitos às armas, a ascensão do AR-15 é um ponto crítico para ambos os lados.

Mas o país não chegou a esse momento por acaso, afirmam especialistas e profissionais da indústria de armas. Entenda, a seguir, como milhões de americanos adotaram o AR-15.

'Sou um entusiasta de armas'

Colion Noir, um dos ativistas negros mais proeminentes da NRA, conta que, na primeira vez que disparou uma arma, ficou apavorado. Mas no segundo tiro, ele diz que se apaixonou pelo poder que sentiu ao "conter uma explosão" na palma da mão.

"Sou um entusiasta de armas", diz.

Assim como milhões de americanos, Noir começou a atirar com armas portáteis de pequeno porte. Mas com o tempo ele se viu gravitando em direção a um novo tipo: o AR-15.

"Se você pensa em comprar um carro novo, por algum motivo, você sempre vê esse carro em todos os lugares", diz ele sobre seu crescente amor por armas. "Foi mais ou menos isso que aconteceu."

E talvez seja porque o AR-15 e rifles semelhantes estão de fato em todos os lugares nos Estados Unidos. De acordo com algumas estimativas da indústria, há mais de 20 milhões de fuzis do tipo AR-15 de propriedade legal nos EUA hoje.

O rifle se tornou uma das armas mais reconhecidas na América. Sua silhueta está estampada em cafés, chapéus, bandeiras e adesivos. Alguns legisladores dos EUA orgulhosamente usam broches com a imagem no peito; outros propuseram um projeto de lei para tornar oficialmente o fuzil a "arma nacional" dos Estados Unidos.

Mas o aumento da popularidade do AR-15 também está inexoravelmente ligado ao aumento dos massacres nos Estados Unidos. A imprensa chamou o rifle de "a arma preferida dos atiradores", e o AR-15, ou uma arma semelhante, foi usado em pelo menos 100 ataques em que quatro ou mais vítimas foram feridas ou mortas na última década, de acordo com dados fornecidos pelo Gun Violence Archive.

Embora pesquisas mostrem que armas de pequeno porte estão envolvidas na maioria das mortes por arma de fogo nos Estados Unidos, fuzis AR-15 foram usados nos massacres das escolas de Sandy Hook e de Parkland; do festival de música em Las Vegas; da igreja de Sutherland Springs; da boate Pulse em Orlando; da escola primária de Uvalde; do colégio Covenant School, em Nashville — e nesta semana, da agência bancária do Old National Bank, em Louisville.

Nada disso passou despercebido por Noir, que disse entender por que alguns americanos passaram a temer o fuzil. Mas, segundo ele, o poder de fogo semiautomático que faz os manifestantes antiarmas recuarem é a mesma coisa que atrai uma legião fiel de proprietários de AR-15.

Texto: BBC News.