O Brasil e a crise financeira mundial: uma atualização

Por Gazeta Admininstrator

* Por Luiz Henrique Perlingeiro

A economia brasileira derrapou, no último trimestre de 2008: o PIB diminuiu 3,6%, comparado com o trimestre anterior. Para o primeiro trimestre de 2009, diante da queda de 14% na produção industrial, o Governo já admite uma recessão técnica, com previsões dos analistas de nova queda no PIB, desta vez, variando de 1% a 2%.

A crise internacional, que chegou ao Brasil, principalmente, pelo crédito, obrigou o Governo a tomar várias medidas para que os empréstimos às pessoas físicas e empresas retornassem aos limites antes da crise: aumento no volume de recursos nos bancos com a diminuição da exigibilidade de depósitos junto ao Banco Central, aumento no limite para garantir a aplicação em CDBs de bancos pequenos e médios, disponibilização de linhas de crédito no Banco o Brasil e Caixa Econômica para financiar a compra de veículos, bens duráveis e materiais de construção, linhas especiais para o comércio exterior, etc.

Os dados de março/2009 publicados pelo Banco Central informam que o volume de crédito no mercado atingiu R$1.2 trilhões, entretanto, devido à elevada inadimplência, principalmente de pessoas físicas ? 8,3% ?, os bancos privados ficaram mais seletivos na concessão de empréstimos, o que provocou o círculo vicioso: restrição no crédito, inadimplência maior, aversão ao risco, restrição no crédito.

O impacto na economia real tem atingido, principalmente, os setores que mais empregam, fazendo com que a taxa de desemprego atingisse, por exemplo, em março de 2009, 9%. Quando o produto real diminui, a arrecadação fiscal cai, algumas despesas do governo aumentam, como é o caso do seguro desemprego. O Governo, por sua vez, tem pouca margem de manobra, pois investe menos que 1% do PIB, o que o impede de aplicar recursos em obras de infra-estrutura para gerar mais empregos. Esta deficiência tem origem, basicamente, no direcionamento dos recursos para pagar os juros da dívida interna que, hoje, alcança 50% do PIB.

A crise, no entanto, é uma boa oportunidade para se corrigir problemas com os quais convivemos há muito tempo. No Brasil, o ?spread? bancário é uma anomalia. Depois de quase 15 anos de estabilização, nada se fez para corrigir a disparidade entre as taxas de captação e de aplicação dos bancos.

A crise financeira fora do Brasil e o choque que provocou em nossa economia mostram a importância do crédito para o funcionamento eficiente de uma economia moderna. Conclusões:

1 - Com a queda da produção industrial pelo segundo trimestre consecutivo, o Brasil já se encontra tecnicamente em recessão, e as previsões para o PIB 2009 já apontam uma retração próxima de 1%;

2 - A recente entrada de recursos estrangeiros na Bolsa e na compra de títulos públicos representa a volta do capital especulativo, aproveitando o baixo preço das ações e benefícios fiscais ? isenção do IR sobre o ganho de capital;

3 - O nível de ?exposure? dos bancos privados brasileiros é de 26.7% do PIB. A rentabilidade advém de altos ?spreads?, tarifas e financiamento ao setor público, o que tem dado a alguns a falsa impressão de ser o sistema financeiro brasileiro muito seguro. Aos interessados recomendamos ?cuidado !?.

* Luiz Henrique Perlingeiro foi vice-Presidente do Citibank, Corporate Bank - RJ, Brasil, diretor do Unibanco, Corporate Bank ? RJ, Brasil, diretor da ABCBT Consulting (afiliada à ABC Technologies ? USA). Atualmente, é consultor Senior da Westchester International Corp, Florida, onde desempenha tarefas na estruturação de financiamentos internacionais, proteção de ativos e planejamento fiscal, cobrindo o Sudeste do Brasil, além de ser representante do BBG no Brasil.