O Brasil no Conselho de Segurança

Por Gazeta Admininstrator

Na recente visita de Barack Obama à Inglaterra, durante encontro com a imprensa, o presidente norte-americano pode demonstrar, sem meias palavras, que a mentalidade das grandes potências mundiais não têm muita chance de mudar, quando o assunto for abrir mão do poder com relação a potências emergentes.

Como todos sabem, Obama esteve no Brasil e, ao mesmo tempo em que “estimulou” o Brasil a produzir petróleo e se tornar um grande exportador desse produto para os Estados Unidos, manteve-se em silêncio em uma das questões onde a diplomacia brasileira tem mais trabalhado para obter apoio norte-americano: o assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Confrontado em Londres, por um jornalista que lhe perguntou exatamente sobre o porque de países como Brasil, Índia e Coreia do Sul não serem aceitos como membros efetivos do Conselho de Segurança, já que são potências de fato em um novo cenário geopolítico mundial, Obama então “sacou” de uma velha retórica imperialista:
“Democracias como o Brasil estão se desenvolvendo porque países como os Estados Unidos e a Inglaterra criam as condições para isso”. Muito conveniente dizer isso em território britânico, justamente o poder que antecedeu os Estados Unidos no “controle do mundo”.

Obama está duplamente errado.

Primeiro como marqueteiro, depois como estrategista das relações com países que, queiram os Estados Unidos ou não, se tornaram realidades inquestionáveis em um mapa mundial das relações políticas e diplomáticas que não será, mas “já está” redesenhado.

Nesse novo desenho, o Brasil já ocupa, de fato, uma posição importante, relevante, interferente, não apenas pelo tamanho do território, população, mas sobre maneira pela pujança econômica e pela estabilidade política. Em um mundo em que a instabilidade parece ser cada vez mais a regra.

O marqueteiro Obama mostra ser da mesma velha escola norte-americana que, baseados na ideia de seu formidável poder econômico e militar, traduzido em pressão político-diplomática, “definem” o que ou quem é ou não é no planeta.

O mundo tem mudado muito e rapidamente. As recentes insurreições no mundo árabe pegaram quase toda a diplomacia mundial (especialmente as tais “potências tradicionais”) com as “calças na mão”, sem saber como agir, já que a maioria dos regimes que estão sendo amplamente contestados pelas populações árabes, são ditaduras ou sistemas imperiais ditatoriais e antidemocráticos, longamente apoiados justamente por Estados Unidos e Inglaterra.

Certamente Obama pensa como todos os ex-presidentes norte-americanos, republicanos ou democratas, pouco importa, para os quais, os países que não fazem parte da “elite tradicional do mundo ocidental”, serão sempre coadjuvantes, revezando-se de forma cordata e desimportante, nos assentos transitórios do Conselho de Segurança da ONU, sem direito a veto, sem uma voz que efetivamente conte.

Não demora muito e a onda insurgente chegará às Nações Unidas. As grandes pátrias da democracia deveriam ser as primeiras a defender a legitimidade das reivindicações do Brasil, Índia e outros países.
Em vez disso, o “progressista Obama” evoca uma retórica do passado para se referir ao Brasil como se ainda fossemos do tempo em que o governo brasileiro dizia simplesmente “amém” a tudo o que viesse de Londres (até o final da Primeira Guerra Mundial), e de Washington (a partir da década de 30 do século passado).

A história da diplomacia brasileira, uma das mais sofisticadas e eficazes do mundo, prova irrefutavelmente, que o Brasil talvez seja justamente a “voz da razão e do bom senso”, tão necessária em um Conselho de Segurança permeado de sectarismos e partidarismos que sabotam continuamente a legítima e somada busca da paz e do entendimento entre as nações.

Um papel decisivo e preponderante é o que o Brasil tem o direito de reivindicar e está apto a exercer nas Nações Unidas. Está mais do que provado que décadas de lideranças dos mesmos sobre os mesmos, não gerou nem sombra dos resultados esperados.

Carlos Borges: carloscborges@gazetanews.com