O Brasileiro e o ?Vírus do Imediatismo?
Grande novidade, não é mesmo? Todos sabemos que junto com o amor ao futebol e o culto ao carnaval, o brasileiro, em sua grande maioria, já nasce contaminado incuravelmente pelo “vírus do imadiatismo”.
Tudo, a todo tempo, reflete essa ansiedade pelos resultados imediatos.
Até mesmo os que aceitam e entendem a necessidade de sacrifícios para que alcancem quaisquer objetivos na vida, tendem a aceitar esses sacrifícios na expectativa de que sejam mínimos e que passem o mais rapidamente possível.
O mundo não funciona assim. A vida gira de uma forma bem diferente.Depois dos alardes por aqui de que muitos brasileiros estão abandonando o “sonho americano”, agora é o Brasil que se mostra alarmado diante do famoso “êxodo” que, na verdade, é um êxodo dos mais previsíveis, e que já se repetiu várias vezes, em ciclos, no passado.
Isso porque o Brasil teme que os bilhões de dólares que nós, imigrantes, mandamos religiosamente à nossa mãe-pátria, fiquem menos bilhões e mais milhões.
Quando chegaram aqui, muitos brasileiros, ao primeiro sinal de “bonança”, ou até mesmo por terem trazido uma poupança “de casa”, investiram rapidamente em BMWs e casas maravi-lhosas. Era a busca do “deu certo” rápido e rasteiro. Sem nenhuma preocupação com planejamento, nenhuma desconfiança com relação às armadilhas de uma sociedade efetivamente capita-lista e feroz.
Agora, o reverso da moeda. A crise de fato, existe. O retorno de muitos brasileiros, também é um fato. Mas longe, muito longe de ser chamado de “tendência”, muito menos de “êxodo”. A imprensa tem refletido – e ampliado – essa “percepção” de uma forma pouco ou nada precisa.
O vírus do imediatismo se reflete tanto que, ao primeiro sinal constante de crise, imposição de sacrifícios à vista, busca-se a mudança radical, nem um pouco pensada.
Alguém já se dispôs a falar sobre um outro “fenômeno” dos mais comuns dentro da comunidade brasileira? “A volta dos que não foram?”
Sim, porque “A volta dos que não foram” não é apenas a constatação de que a percentagem de brasileiros que estariam retornando é muito menor do que a alardeada.
“A volta dos que não foram” é também a ladainha dos que retornam ao Brasil, com algum dinheiro poupado (ou não), acreditando em uma melhoria das condições de vida do Brasil, ou achando, como muitos dizem, que “a América já era”, para, meses depois, voltarem para cá. Esse fenômeno do “bate e volta” é dos mais antigos, mais freqüentes e mais amargos, porque reflete uma condição real, nada imediatista.
A conquista do “sonho americano” requer uma visão muito além do imediatismo. Muito distante da fantasia gerada pela “Loteria do Green Card”, dos empregos braçais de 40, 50 dólares a hora. Essa conquista passa por encarar os altos e baixos que a própria trajetória do país apresenta.
Para uma parcela de imigrantes brasileiros que veio para cá, unicamente com o intuito de ganhar dinheiro e mandar para o Brasil, o momento americano não é dos mais fáceis. Há até uma certa “justificativa”. São brasileiros que ape-nas “ganham dinheiro” nos Estados Unidos, mas seguem “vivendo” no Brasil.
Mesmo estes, correm o risco de um melancólico “bate e volta”. O ciclo é histórico. Ocorre desde o final dos anos 80. E desde então, a população brasileira “fixa”, na América, se multiplicou por 20 ou 30. Destes, menos de 5% estão “voltando”.
É só esperar para ver. Nada mais justo para quem vê a vida nos Estados Unidos apenas como um “estágio para ganhar dinheiro” que se sinta desencorajado a ficar, lutar por suas legalizações e driblar a crise que, como sempre foi, será superada por anos futuros de prosperidade. Como sempre foi.
Mas nada é mais injusto do que estender a toda a comunidade brasileira, o estigma de uma sociedade “derrotada” em seu sonho de aqui construir uma vida melhor. Os 95% que aqui ficam, querem apenas que a verdade dos fatos não seja “engolida”, pela ilusão do alarmismo imediatista.
