O bullying nosso de cada dia

Por Adriana Tanese Nogueira

O bullying é um fenômeno sempre discutido - talvez seja mais comum hoje do que no passado, ou então somos nós que o percebemos mais e nos conformamos menos. O fato está que o bullying é um evento corriqueiro nas escolas. E, se é verdade que estas - os professores e diretores - precisam tomar atitudes efetivas para enfrentar o problema, precisamos também compreender como ele nasce, porque, ao entender sua origem, nossas chances de erradicá-lo aumentam consideravelmente.

O bullying é uma forma de relação baseada no poder entendido como supremacia de um sobre o outro. Perguntemo-nos: de onde será que nasce a necessidade de colocar alguém para baixo, de se sentir superior? De onde nasce essa vontade de se afirmar, de se fazer ouvir, de ser respeitado a todo custo?

Apesar dos métodos errados, o bullying é a expressão da necessidade da criança ou do jovem de ser ouvido, de ser alguém, de ser respeitado, de ser levado em consideração. Se a criança ou o jovem chega a esse ponto, é porque ele não se sente valorizado, se sente um “nada”. Ou seja, não se sente amado. E onde será que ele desenvolveu este problema? Com quem será que ele teve a experiência de não ser ouvido, de não ser importante, de não ser respeitado?

Antigamente, acreditava-se que já nascíamos bons ou ruins. Com o passar do tempo, foi se percebendo o quanto o ambiente influencia a construção da personalidade e, hoje, sabemos que determinadas características genéticas podem ser despertadas ou não pelo ambiente. Portanto, o ambiente no qual uma criança nasce é fundamental para o desenvolvimento de suas qualidades e de seus defeitos. O bullying pode ser lido, portanto, como uma denúncia da má qualidade de relação que a criança tem em casa. O bullying é o sintoma da relação que a criança tem com os pais. Uma criança que foi respeitada, conhece o respeito; uma criança que foi desrespeitada, conhece o desrespeito.

Infelizmente, é muito comum as crianças sofreram bullying de seus pais. O bullying é uma relação de poder baseada na força do mais forte, onde mais forte quer dizer duas coisas: mais bruto, duro, grosseiro, prepotente e insensível; ou mais brutalmente distante, duramente insensível, desatento e desinteressado. Na ausência de recursos educacionais para criar uma criança se utiliza, muitas vezes, o bullying para colocá-la “em seu lugar”: deboche, humilhação e mandar calar são muito comuns. Outras vezes, o bullying desenvolvido pelo filho é o resultado de sua revolta contra a desconsideração que os pais têm a seu respeito.

A brutalidade da falta de atenção para com uma criança pode se transformar em ódio e vontade de vingança por parte desta. Não precisa bater num filho para machucá-lo. Basta não dar atenção, não levar em consideração as necessidades compatíveis com sua fase de desenvolvimento; basta não ouvir sua verdadeira voz. Uma criança poderá reagir com depressão/inquietação ou com raiva, conforme seu temperamento.

O bullying nada mais é que aquele que diz: “Eu não gosto disso! Eu não quero isso!”. Só que no lugar de tirar satisfação com quem engendrou a relação, a criança aprendeu que ser prepotente é “legal”, porque é o que os adultos ensinam, eles que “podem tudo”. Assim, esses jovens repetem nos outros o que viveram, com dois resultados: por um lado se vingam do sofrimento padecido, descarregando a raiva, o desprezo e o ódio que armazenam; por outro, esmagam nos colegas o que aprenderam a considerar “fraqueza”: a sensibilidade, a vontade de aprender, a introspecção, o silêncio, a calma, a reflexão, a diversidade, a criatividade, a espontaneidade, a timidez, a doçura, etc.