"O coronavírus está interrompendo alguns sonhos": brasileiros na Flórida que decidiram voltar para o Brasil

Por Arlaine Castro

Miami international airport 3 joe pries
"Passa pela cabeça voltar sim" Além daqueles que já decidiram voltar, há também brasileiros que admitem ter pensado seriamente a respeito. Como Samanta Pereira, que mora em Tampa há quatro anos com o marido e os filhos e conta que chegou a pensar em ir para o Brasil durante esse período. "Eu pensei em voltar pelo fato da seriedade do vírus. E consequentemente pareceu que a nossa fragilidade ficou mais evidente frente à pandemia. Então eu pensei que deveria estar perto dos parentes nesse momento acho que por sentir a morte mais perto", afirma. Brasileira em Orlando com doenças crônicas conta como superou a COVID-19 Segundo Pereira, ela desistiu depois de pensar melhor e perceber que ainda não cumpriu o objetivo pelo qual veio. "Pouco tempo, poucas realizações", diz. E também pela expectativa da pandemia no Brasil que pode ser pior do que nos EUA. Sem trabalho e sem renda, mas preferem ficar Na Flórida, onde vivem mais de 300 mil brasileiros, segundo estimativa do Consulado do Brasil em Miami, parte da comunidade vive a angústia de não saber se vai ter dinheiro para o aluguel e para a comida a cada dia que passa. Segundo o pastor Silair Almeida, que coordena a arrecadação de alimentos e entrega de cestas básicas da PIB-Florida em Pompano Beach, as filas já enchem duas horas antes da entrega das cestas. "Tem muita gente desempregada. Tem muita gente sem documento que não recebe ajuda do governo", salienta. Questionado se ouviu ou conhece brasileiros que falaram em voltar, o pastor diz que até famílias onde nenhum adulto está trabalhando no momento e dependem das cestas básicas doadas, não pensam em voltar. "Mesmo com a crise muitas não pensam em voltar para o Brasil porque acham que as condições lá estão piores do que aqui", declara. [caption id="attachment_196753" align="alignleft" width="270"] Dinamara Costa e a filha de 12 anos tentam voltar de Orlando para Brasília. Foto: arquivo pessoal.[/caption] "O que era pra ter sido um sonho virou pesadelo" Tentando voltar para o Brasília (DF) desde o dia 23 de março, Dinamara Costa está com a filha de 12 anos em Orlando e conta que a companhia aérea (Copa Airlines) não remarcou as passagens e ela está sem dinheiro. "Sou autônoma, vim passar uma semana com minha filha, mas aconteceu essa pandemia e a empresa aérea não me dá suporte de nada, nem para o hotel, para alimentação, nada", desabafa. "Voltaria dia 23 de março e estou aqui até hoje numa dificuldade". Sem trabalho, brasileiros na FL se reinventam para pagar as contas durante a pandemia Mesmo tendo vindo a passeio, Costa está na luta para voltar para o Brasil. Ela trabalha com depilação em Brasília e não tinha previsto que passaria tão mais tempo do que o planejado. Ela e a filha estão atualmente em um quarto alugado por $500 em um bairro de Orlando, mas os 30 dias estão vencendo e ela não sabe como vai fazer, pois diz que não tem dinheiro para pagar por mais tempo. "Eu pensei que antes de completar um mês nós já teríamos voltado. Aluguei um quarto por $500 dólares e é o que está nos salvando, mas dia 1° já tenho que sair. O que eu faço com minha filha de 12 anos na rua com apenas $40 dólares?", desabafa desesperada. "O que era para ter sido um sonho, virou pesadelo", me organizei mais de ano pra vir conhecer a cidade e tudo fechado. Não conhecemos nenhum parque. Estamos com medo pela pandemia e dentro do quarto o tempo todo porque é estranho você estar na casa de outras pessoas que não conhece. É frustante". Lembrando que algumas companhias aéreas ainda estão com restrição de voos para o Brasil e retomarão as viagens somente em maio ou junho. Brasileiros se juntam para comprar passagens para famílias em MA As comunidades brasileiras no norte do país também passam pela mesma realidade, com pessoas escolhendo voltar a ficar nos EUA e passar fome. Em Framingham, cidade de Massachusetts que abriga uma intensa comunidade brasileira desde os anos 80, o fechamento súbito e quase total dos negócios acabou com o trabalho dos que vivem fora da economia formal. Nas últimas duas semanas, cerca de 800 pessoas ligaram para o Brazilian American Center de Framingham, segundo informação do Metrowest Daily News. Isso é quatro vezes o número de chamadas normalmente recebidas pela organização sem fins lucrativos, que apoia a grande comunidade de imigrantes da área, diz o jornal. "Eles nos ligam o tempo todo, o dia todo", disse aoMetrowest, Liliane Costa, brasileira e diretora executiva do centro, completando que está ajudando também a arrecadar dinheiro para a compra de passagens para as famílias. Mas o caminho de volta à estabilidade em Framingham não chegará tão rápido e a única saída que algumas famílias estão vendo é voltar para o Brasil, onde podem contar com redes de amigos e familiares - coisa que ainda não construíram nos Estados Unidos. *a entrevistada prefere não se identificar. Leia também Brasileiros falam sobre o impacto na rotina e nos negócios por causa do coronavírus Escolas da Flórida ficarão fechadas pelo restante do ano letivo