O costume do cachimbo deixa a boca torta

Por Gazeta Admininstrator

Nós brasileiros temos uma estranha, bizarra, relação com a Lei.
Por falta de costume, irreverência – sempre ela, a maldita “irreverência” que justifica todas as mazelas – ou simplesmente aversão a seguir regras, fomos catequizados e nos acostumamos a driblar e ridicularizar as regras.
Só quando, por revolta ou puro folclore, ironizamos essa nossa triste condição, e aí lançamos mão do velho jargão “que país é esse?” para reclamadas leis que não são cumpridas ou devidamente aplicadas.
Só para variar, vamos abrir mão da auto-complacência e admitamos: nós, povo brasileiro, temos realmente condição de reclamar de nosso Legislativo e também do Judiciário?
Não seria hora de acordarmos para o fato de que essas instituições seriam um retrato fiel do que somos como Nação? Como candidatos reais a países de primeiro mundo?
O culto à desobediência e avacalhação das leis em nosso país vem de muito, muito longe. Muitas das atitudes descritas pela História como patrióticas e revolucionárias, em desobediência aos ditames da Corte Real em Lisboa - que nos controlou e possuiu por quase quatro séculos - eram, na verdade, atos de rebeldia folclórica, ciente da impunidade ou do desinsteresse pela punição. Muita bravata e pouco patriotismo, os problemas do Brasil parecem que eram e, em certa medida, ainda o são.
Para quem é imigrante brasileiro e optou – seja só por grana ou seja lá por que for – por viver num país onde há, de fato, leis que são temidas, respeitadas e mais que tudo, aplicadas, esse é, com certeza, um dos maiores choques. O primeiro choque, o positivo, é sentido pela turma do bem, que gostaria de ver o povo brasileiro respeitando a si mesmo e a todos os compatriotas dentro dos padrões de civilidade que se almeja. Esses até se surpreendem ao ver que, apesar de serem contrários à avacalhação das leis e à perda do respeito às instituições, também estão impregnados, em certo nível,dessa verdadeira “doença” que é a “catimba”, prima do “jeitinho”, ambas descendentes diretas da “irreverência” (no mau sentido, que fique bem claro).
O segundo choque, esse muito forte e que gera situações até agressivas, é sentido porque já vem com um DNA anárquico, devastador, sem nenhuma referência de auto-respeito, quanto mais de respeito pelo próximo, pelas instituições ou pela Lei.
Dirigir alcoolizado, não seguir regras de trânsito, não pagar impostos devidos, não respeitar as autoridades constituídas, não observar as restrições legais de idade, as restrições de comportamento, as mínimas regras de convivência social são só algumas delas. E o pior é que muitos ainda justificam plenamente esse comportamento como sendo “o jeito de ser brasileiro”.
Essa rebeldia faz parte do dia-a-dia de um grande número de imigrantes que não parece interessado a entender nada do que se passa à sua volta. Apenas seguem a rotina mecânica da sobrevivência dentro do gueto que, por sua vez, realimenta, em território externo, mazelas trazidas de nossa própria terra.
Essa atitude não vai levá-los a lugar algum. Somente a mais confusão, menos entendimento e nenhum crescimento. Porque crescimento interior e exterior, riqueza espiritual e material, derivam de muitos fatores. Entre eles, disciplina, respeito às regras e seriedade. Os que alcançam algo fora dessa geometria são casualidades. Exceções que servem apenas para confirmar a regra. As sociedades mais avançadas do ponto de vista das leis e da organização social, estão muito longe de serem perfeitas. E os Estados Unidos, em que pese serem um magnífico exemplo como experiência de convivência e diversidade humana sob um mesmo template jurídico-institucional, também são um mar de defeitos, problemas e incongruências. Mas a força da Lei é inquestionável e é isso que dá a base de riqueza a esta Nação.
É preciso que alguns brasileiros que seguem se sentindo “desconfortáveis” com os rigores e o respeito puro e simples da Lei, realmente entendam e acreditem que essa mesma Lei existe para porteger-nos de nós mesmos. De nossa “rebeldia” primitiva , que pode ser eventualmente saudável, mas é quase sempre burra e inócua. De nossa “irreverência” tão decantada como “estilo e jeito de ser” e que a mim, me parece mais uma desculpa esfarrapada para não fazer as coisas como devem ser feitas.