O equilíbrio emocional e sua relação com o câncer

Por Arlaine Castro

A influência das emoções na saúde humana, já apontada pelo grego Hipócrates no século IV a.C., recebe atenção cada vez maior na área médica. Na UNESP, várias pesquisas associam as condições emocionais dos pacientes ao aparecimento e tratamento das doenças. Uma das linhas de investigação destaca a relação do câncer entre mulheres com problemas como estresse, distúrbios familiares e conjugais.

A relação entre as emoções e o surgimento de alguns tipos de câncer ou outras doenças devastadoras já é estudada ultimamente com maior seriedade. O surgimento de doenças após longo períodos de estresse não é raro. A imunidade baixa contribui para infecções e vírus atacarem.

“Não se pode ter uma visão reduzida, não é só pelas emoções que alguém ficou com câncer, há outros fatores que implicam no surgimento da doença”, explica o psiquiatra Mario Alfredo de Marco, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

No entanto, evidências mostram que os sentimentos podem ser um fator importante no desenvolvimento da doença. Alguns estudos nessa linha estão publicados no livro “Psico-Oncologia: Caminhos e Perspectivas”, organizado pela psicóloga Carmen Maria Bueno Neme, pesquisadora na área da saúde e desenvolvimento humano da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru.

“O estresse é atualmente reconhecido por seus efeitos imunodepressores e potencialmente relevantes para a gênese das neoplasias malignas (nome científico do câncer)”, afirma ela no livro. “As pessoas interpretam e enfrentam os fatores de estresse de forma diversa e podem prolongar ou não sua exposição a esses fatores. Como conseqUência, pode manter ou não profundas alterações psicofisiológicas desencadeadas, como a imunodepressão”.

Algumas pesquisas sugerem que a ação do estresse sobre o organismo humano pode provocar modificações funcionais em células, diminuição de linfócitos e de imunoglobina, atuando na redução das defesas do corpo.

As relações familiares e conjugais são as mais potentes geradoras de estresse, de acordo com pesquisas realizadas por Neme comparando mulheres com e sem câncer de mama, útero e ovários. “Também descobri nas pesquisas que as mulheres com câncer tinham mais dificuldade em lidar, resolver e superar mágoas, contrariedades (com filhos ou maridos drogados), perdas e culpas (por aborto, morte dos filhos), além de dividir sentimentos e emoções”, revela Neme.

A pesquisadora, contudo, reconhece o caráter multifatorial das doenças. “Hoje já sabemos que a maioria das doenças é multideterminada e que há uma confluência de fatores (genéticos, biológicos, psicológicos, ambientais, alimentares, de comportamentos e hábitos, etc.) envolvidos em seu surgimento”.