O gosto amargo, mas necessário da ajuda ?aos ricos?

Por Gazeta Admininstrator

O capitalismo, como brilhantemente admitiu o ex-presidente Bill Clinton em uma de suas visitas à China, “é um sistema dos mais imperfeitos, mas infelizmente, o ser humano ainda não inventou nada melhor e que funcione para todos”.

O socialismo, especialmente aquele idealizado com certa ingenuidade pela grande maioria dos seres humanos, é uma possibilidade ainda distante, esbarrando não no propalado “reacionarismo sistêmico” da estrutura de poder capitalista e sim, na própria incapacidade do ser humano em compartir para somar.

Acabamos de assistir a um dos momentos mais emblemáticos deste início de milênio, no quadro político e econômico internacional. O “pacote” – não de 700 bi, mas de mais de 840 bilhões de dólares – aprovado pelo legislativo e transformado em Lei por George W.Bush, é uma clamorosa demonstração de que o sistema capitalista norte-americano andou abusando de ser irresponsável, ganancioso e auto-destrutivo.
Porque o governo teve que “socorrer” os ricos? Porque na verdade os ricos semper serão os menos afetados por qualquer tragédia econômica que ocorra em qualquer país capitalista. Os ricos, além de já serem ricos, têm em sua grande maioria, toda uma estrutura de defesa contra as catástrofes financeiras. Têm altíssimas poupanças, patrimônio, recursos os mais diversos para enfrentar qualquer situação.

E mais: os ricos, apesar das hipocrisias de salão, sempre se juntam em defesa de sues interesses, enquanto aos pobres cabe sempre a arena selvagem da desunião e da “farinha pouca meu pirão primeiro”.
O “pacotão de 840 bilhões” tem efetivamente o objetivo de salvar algumas corporações gigantescas, mas de quebra, poderá salvar cerca de 3 milhões de empregos.

Portanto, para os contribuintes norte-americanos (e todos os brasileiros que decentemente pagam seus impostos nos Estados Unidos), que são quem “paga a conta”, engolir esse pacote teve um gosto amargo, mas necessário. É como tomar óleo de rícino: um remédio de gosto insuportável, mas possivelmente eficaz no combate à doença.

O pânico que se estabeleceu semana passada com a inicial derrota do pacote, deu bem a medida do quanto apavorados estavam setores do poder norte-americanos, diante de uma possibilidade de recssão muito – mais muito mesmo – mais severa do que a história crise de 1929.

Para quem não sabe, o “crash” da Bolsa de New York em 1929 levou dezenas de milhões de americanos para as filas de racio-
namento de comida, gerando cenas que, vistas hoje, se assemelham em muito à Europa do pós-guerra, onde fome, desabrigo e pessimismo generalizado dominavam corações e mentes.

O risco ainda existe. O “pacotão” é um “band-aid de luxo”, que pode, ao final das contas, não evitar a grave possibilidade de infecção generalizada que reside sob a pele de um sistema que precisa e deve ser radicalmente aperfeiçoado.

Obama vai ter poder e vontade para capitanear tais mudanças? Ele pode até estar sendo sincero quando diz que quer e vai mudar. Mas nos Estados Unidos, onde o poder do mega-capitalismo é quem realmente (ainda) decide tudo, Obama pode evoluir rapidamente de “o presidente da mudança” para ser “apenas o presidente”.

McCain teria poder e vontade para mudar a própria raiz do Partido Republicano e mudar a face do sistema norte-americano? Primeiro ele tem que superar as últimas semanas de complicadas performances e queda livre nas pesquisas, para depois pensar no que vai fazer se chegar à Casa Branca.

O fato é que nem Obama nem McCain me passam a idéia de que algo substancial irá mudar no “lay-out” do capitalismo norte-americano. Só o eleitor, através da eleição de uma nova geração de legisladores comprometidos com mais igualdade e menos marketing auto-promocional, é que pode, lenta e gradualmente, mudar esse quadro.

Agora pergunto eu: a nova geração de legisladores norte-americanos tem competência ou interesse em abraçar essa causa? A julgar pela ignorância, incompetência, amadorismo, desinformação e despreparo das novas gerações, as chances são mínimas.

Vamos em frente!