O impacto da morte de Bin Laden na comunidade

Por Gazeta Admininstrator

Marisa Arruda Barbosa

Os residentes do sul da Flórida têm uma relação peculiar com os eventos do 11 de Setembro, uma vez que três dos 19 terroristas que sequestraram os aviões que foram atirados contra as torres gêmeas em New York moraram na região nos meses de preparação aos ataques.

Mohammed Atta, Marwan al-Shehhi e Ziad Jarrah estudaram em uma escola de aviação no sul da Flórida e tiveram aulas práticas em aviões do aeroporto de Lantana. Eles também frequentaram a biblioteca pública de Boca Raton para usar os serviços de internet, de onde devem ter se comunicado com seu líder, o chefe da Al Qaeda, Osama Bin Laden, morto no dia 1º.

O quiropata David Maklan, com clínica em Deerfield Beach, se lembra do dia 11 de setembro como se fosse hoje. “Naquele dia não atendemos quase ninguém pois todos estavam na frente da televisão”, conta. Maklan percebeu a primeira queda de movimento, que viria a afetar diversas pessoas nos 10 anos que se seguiram. “As pessoas pararam de viajar, e como a Flórida é um estado muito turístico, acabamos sendo muito afetados”.

Enquanto se fala na crise financeira de 2008, para os imigrantes, a grande crise talvez tenha começado logo depois dos ataques. Com o medo de eventos ainda piores, a fiscalização de imigrantes tornou-se mais rígida.

“A fiscalização foi uma ideia boa, mas isso causou impacto forte na vida dos imigrantes”, disse Alfredo Jurado, do The Law Office of Alfredo Jurado, em Pompano Beach. “Uma das medidas que causou grande impacto foi que as regras para tirar carteira de motorista ficaram muito mais rígidas, e imigrantes indocumentados, que antes conseguiam ter o direito de dirigir, não conseguiram mais tirar driver’s license na Flórida”.

Com os imigrantes no foco de investigações, diversos negócios da área, que cresceram também através do relacionamento com imigrantes, também sofreram duras consequências.

“Nós tínhamos três agências abertas e, no espaço de seis meses, estávamos somente com uma”, disse Bella Ferreira, dona da agência de viagens Bella Travel. “Perdemos praticamente 99% da clientela americana, embora os brasileiros tenham continuado viajando, já que tinham a necessidade de ir para o Brasil. Mas as pessoas passaram a ter medo de viajar e ficaram quase um ano sem decidir novas viagens”.

“Mesmo quando voltaram a viajar, foi necessário um período de readaptação a um novo mundo pós 11 de Setembro, que é sentido por todos. A pessoa precisa se programar para ficar pelo menos uma hora passando pelos procedimentos de segurança do aeroporto”, comenta Ferreira.

Edson de Almeida, da concessionária Napleton, em Riviera Beach, diz que o 11 de Setembro afetou “dramaticamente” sua profissão. “Nossa clientela diminuiu praticamente 50%”, conta Almeida. “Antes qualquer um era aprovado para a compra de veículos, depois do 11 de Setembro, as mudanças nos sistemas de segurança e de financiamento acabaram com isso. Foi a pior coisa que nos aconteceu”. Almeida não ficou desempregado, mas teve que se reajustar ao novo mercado de trabalho.

O que esperar depois da morte de Bin Laden

A notícia do dia 1º, de que tropas americanas mataram Osama bin Laden no Paquistão, causou grande repercussão por todo o mundo. Para o governo americano, foi uma missão cumprida, enquanto para familiares de vítimas de ataques terroristas, embora isso não os traga de volta, foi motivo de alívio. Com o passar dos dias, o mundo está tendo tempo de fazer reflexões mais sóbrias.

Na Pines Middle School, em Pembroke Pines, o principal Carlton Campbell pediu que professores falassem da morte de Bin Laden como um importante evento histórico e discutissem em sala de aula. “Se não, você perde essa oportunidade de ouro para educar as crianças”, disse ele ao Sun Sentinel.

“Acredito que o resultado da morte de Bin Laden seja boa, principalmente do lado financeiro do país. Para que ficar em guerra agora?”, diz Ferreira. “Estou feliz, não porque ele foi morto, mas porque foi encontrado. As pessoas ainda tinham medo de novos ataques. Sei que isso não acabou, mas o líder principal, o mais perigoso e inteligente, está morto. Acredito que o país vai dar a volta por cima economicamente. A morte não foi por vingança mas por missão cumprida, um compromisso do país em dar sentido à guerra”.

Almeida já não é tão otimista. “Eu não sei se algo vai mudar com a morte de Bin Laden. Ele abriu caminho a outras pessoas”, disse. “O ‘damage’ que ele fez ficou para sempre. O sistema de segurança, de financiamento e as novas leis não irão mais mudar”.

Jurado projeta que pelo menos por agora, o governo ficará com atenção extra aos sistemas de segurança para prevenir novos ataques. “Com isso, imigrantes podem ser afetados também”, lamenta. “Pois para impedir o terrorismo, o governo acaba afetando os imigrantes, com medidas de segurança mais rígidas para ingressar no país. Mas acredito que no futuro tudo ficará mais tranquilo”.

“Eu acredito que assim como a nação se uniu com o 11 de Setembro, a mesma união está acontecendo com a morte de Bin Laden”, concluiu Maklan.

Para comentários e sugestões: CLIQUE AQUI

Para ler a versão completa do Jornal Gazeta Brazilian News CLIQUE AQUI