O inferno de David Goldman

Por Gazeta Admininstrator

O norte-americano David Goldman tem um filho que é americano-brasileiro e está vivendo um inferno por conta disso.

Para quem não sabe quem é David Goldman, um brevíssimo relato.

Jovem e belo modelo norte-americano, David Goldman casou-se com a igualmente jovem e bela socialaite brasileira Bruna Bianchi Carneiro Ribeiro.

No auge do romance, tiveram um filho, Sean, cidadão norte-americano que, hoje, tem cerca de 9 anos. Viviam numa bela casa no estado de New Jersey até que Bruna retornou ao Brasil levando Sean e lá se casou com o famoso advogado João Paulo Lins e Silva. Anos depois, Bruna morreu, durante o parto de seu segundo filho.

Há quatro anos, o drama da vida do pai de Sean é tentar, de todas as formas legais, reaver o direito inalienável de pai. Embora esteja contando com o suporte das autoridades norte-americanas, não está sendo fácil enfrentar algo muito mais poderoso: a força política do padrasto de Sean.

Parece-me evidente que Justiça nenhuma no mundo aprovaria que alguém “retirasse”, numa “canetada”, a paternidade de quem quer que seja. O próprio garoto, nas poucas oportunidades em que pôde ser visto ou entrevistado, demonstra saudade e interesse em ficar com o pai que já não o vê há cerca de 5 anos.

Houve um momento em que a ação da justiça brasileira parecia ser a luz no fim do túnel para o desesperado David. Ele conseguiu ter direito de visita ao filho, no Rio. Depois de ficar dias sem dormir, na expectativa da viagem, ele desembarcou no Rio e se dirigiu, imediatamente, para a casa de Lins e Silva. Uma liminar cassando o direito que ele acabara de receber, foi emitida por um juiz local e, mais uma vez, ele não viu o menino.

O drama de David Goldman é tão bizarro, que motivou um especial de 90 minutos no famoso programa “Dateline”, da rede ABC, na semana passada, mostrando com filmagens chocantes, o desenrolar de uma trama mais parecida com uma telenovela do que acontecimento da vida real.

Um drama recheado de todos os ingredientes: truculência, intolerância e até ameaças de morte. Isso porque David afirma ter sido “aconselhado” a “esquecer” o filho, se não consequências muito piores ocorreriam e sua vida estaria em risco.

Sem dinheiro para seguir numa batalha legal inglória contra uma das oligarquias mais famosas da justiça carioca, David espera, agora, que haja uma interferência direta do Departamento de Estado dos Estados Unidos com o Itamaraty, no sentido de que Sean, que é legalmente um cidadão norte-americano, possa ser repatriado e retorne ao convívio do pai.

No Brasil, muito se critica os poderes Executivo e Legislativo. E não sou eu que vou agora afirmar que esses dois poderes têm, historicamente, uma enorme carga de culpa na imagem negativa que projetam para a grande maioria do povo brasileiro. Mas o Judiciário, que segue sendo lento e caótico, possivelmente abrigue nichos (ou melhor seria chamar de “antros” de corrupção, truculência e abuso de poder, em proporções muitas vezes maiores que os poderes Executivo e Legislativo. Isso porque, enquanto a cada nova eleição o eleitor pode “demitir” vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e o próprio presidente, o mesmo não se aplica aos senhores juízes, desembargadores, etc.

Não há quem controle, supervisione ou tenha nenhuma autoridade “de fato” sobre o Judiciário e, como todos sabemos, o “corporativismo” funciona quase que
impecavelmente em instituições como as tais.

A “decisão pessoal” e, possivelmente, arbitrária e ilegal, de “cassar” o sobrenome Goldman da certidão de nascimento de Sean, deveria ser revertida de forma que essa “mentira jurídica” não ganhasse, (como ganhou) status de verdade, a ponto de impedir um pai de reaver seu filho.

Um escândalo, um absurdo, uma vergonha. Imaginemos o contrário. Um pai brasileiro casado com uma americana no Brasil que estivesse lutando para reaver seu filho. Você, que vive nos Estados Unidos
e sabe como a Justiça aqui é exercida, acredita que a Justiça norte-americana (por mais defeitos que ela, também, com certeza tem) estaria negando a esse pai até mesmo o direito de ver o seu filho?

A resposta, claramente, é, “provavelmente, não”.

O Brasil, hoje, já é grande e importante demais para continuarmos nos permitindo a ter uma Justiça de calabouços e jagunços. E uma justiça real e transparente é o mínimo que todos merecemos.