O limite da vaidade: Quando a beleza representa risco à vida

Por Marisa Arruda Barbosa

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A cirurgia plástica está ficando cada vez mais comum. De acordo com a American Society of Plastic Surgeons (ASPS), 13.8 milhões de pessoas fizeram cirurgias plásticas em 2011 nos Estados Unidos (incluindo cirúrgicas e minimamente invasivas), representando um crescimento de 5% em relação a 2010. Além disso, 5.5 milhões de cirurgias de reconstrução foram feitas no ano passado, também representando um aumento de 5%.

Ao mesmo tempo em que é um procedimento quase que comum, as escolhas podem ser fatais para uma pessoa que resolva passar por algum tipo de intervenção. Má escolha de médicos e tentativa de economizar na hora da cirurgia pode sair caro.

A notícia da morte de uma brasileira após uma lipoaspiração em New Jersey no final de janeiro chocou a comunidade local. Segundo informações do “Comunidade News”, o irmão de Graciane Carvalho Sampaio, Wendel Carvalho Silva, alega que sua irmã morreu por erro do cirurgião Fadi Bajjani, que tem clínica em West Morris Plans, NJ. Ela fez lipoaspiração na barriga, aumento dos glúteos e colocação de prótese de silicone. Segundo Wendel, Dr. Bajjani teria aplicado a gordura retirada da barriga na região das nádegas, atingindo uma veia e comprometendo o coração, provocando um infarto em Grazy ainda na mesa de cirurgia. Ainda de acordo com a reportagem, Dr. Bejjani não aparece na relação de cirurgiões credenciados pela Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos.

Ou seja, o que era para ser uma cirurgia simples, acabou em tragédia, talvez por erro médico, por problemas de saúde que Graciane teria omitido, ou por uma má escolha do médico. A ASPS pede que pacientes façam “lição de casa” e pesquisem o histórico de seu médico antes de contratá-lo.

Próteses PIP

A carioca Andreia Mattos, de 40 anos, que vive em Deerfield Beach, FL, levou um susto no último Natal, ao descobrir que a marca da prótese de silicone que ela colocou no Brasil há três anos (a Poly Implants Prothese – PIP) usa silicone inapropriado para uso médico, o que eleva o vazamento do gel no corpo humano.

Desde então, Andreia perdeu sua paz. “Não consigo dormir”, conta. “O SUS (Sistema Único de Saúde, no Brasil) autorizou a remoção das próteses que estejam vazando, o que não é meu caso”. Mesmo que seja aprovada para fazer a cirurgia pelo SUS no Brasil, Andreia conta que precisa entrar na fila, tirar férias e ir ao Brasil. “É uma confusão”, resume Andreia, que tem dois filhos.

Ela diz que aprendeu uma lição: tentar economizar está saindo mais caro. “Dentista, cirurgia, tudo isso que precisa ter reparo ou tratamento longo, eu prefiro fazer aqui. É caro, mas pelo menos eles dão garantia”, conclui Andreia.

“Um ano depois que fiz a cirurgia de implante dessas próteses, tive problemas e precisei fazer outra cirurgia”. Mas depois disso, conta que não teve mais problemas.

Andreia tem uma lista de médicos para se consultar em Miami, mas diz que é caro. No Brasil, ela gastou 5 mil reais para fazer a cirurgia com um médico conceituado de Volta Redonda, no Rio de Janeiro.

“Você faz isso por autoestima, para se sentir bem. Gastei 5 mil reais mais as passagens, para no final escutar que usaram material industrial na minha prótese? Depois temos que pagar por isso tudo sozinhas. Não foi de graça”.

Depois desse susto, Andreia, que já fez várias cirurgias plásticas, disse que pararia por aqui mesmo. “Não tem como ficar brincando. Não tem ninguém para pagar e é um risco só nosso e de mais ninguém”, concluiu.

Sheyla Hershey

A brasileira Sheyla Almeida Hershey, que vive em Houston, no Texas, é talvez o caso mais extremo do mundo em relação à obsessão por cirurgias plásticas. Natural de Vitória, no Espírito Santo, Sheyla contou ao Gazeta News que começou a fazer cirurgias plásticas aos 19 anos, e até hoje já foram 22 só nos seios, fora lipoaspiração, aumento dos lábios, entre outras. No total, ela calcula que já gastou cerca de 250 mil dólares em cirurgias – pois as fez no Brasil, se não, nos EUA, seria quase 1 milhão de dólares.

Em 2007, Sheyla conseguiu o recorde de maiores seios do Brasil, com 1200 ml de implante, mas não ficou satisfeita. Depois de mais cirurgias, alcançou o recorde do Mercosul, com 3500ml, e em 2010 tornou-se o recorde mundial, entrando para o “Guiness World Records”, com 5500ml.

No entanto, em junho de 2010, um dia após fazer a cirurgia de implante no Brasil, quando ficou com 5500ml, Sheyla chegou aos Estados Unidos com uma forte infecção e precisou ficar internada. Ela conta que como não havia próteses do tamanho que queria, tinha colocado duas próteses em cada seio, com um médico de São Paulo que pediu a ela não revelar seu nome. Ela conta que ele dividiu com ela todos os gastos hospitalares devido à infecção. “Ele não me deixou, mas fui eu que implorei para fazer os implantes, que são também muito além do permitido por lei no Brasil”, explica Sheyla. No Brasil, o limite é de 650ml, e nos EUA isso varia por estado.

Infecção serviu como alerta

Depois da infecção, Sheyla precisou tirar os implantes em outubro de 2010 e ficar mais de um ano sem nada. Ela agora está com 3800ml, usando um “expansor” no lugar da prótese, para ir preenchendo com mais silicone, até que chegue novamente aos 5500ml, seu sonho.

“Depois de minha infecção, precisei retirar os implantes, e correu na internet a notícia que eu perdi o recorde, mas falei com o pessoal do Guiness, e como foi por motivo de doença, eles disseram que se eu fizer o implante em dois anos, não perco o posto”, explica.

Sheyla alega que a infecção serviu como um alerta, não para parar, mas para respeitar a cirurgia plástica como “uma coisa séria; não pode viajar um dia depois de fazer uma cirurgia”.

Ela conta que tem dor nas costas por causa dos seios, mas que quando ficou sem os implantes, apesar de não ter dores, queria morrer, ao ver-se no espelho. “As pessoas julgam na internet que é ridículo. Mas com 5500 ml eu me sinto melhor, mais mulher, feliz. Por isso irei fazer a cirurgia em breve”. Sheyla conta que já foi diagnosticada por um psiquiatra com Body Dysmorphic Disorder, uma desordem mental que afeta a percepção que a pessoa tem do próprio corpo, e por isso toma antidepressivos. Ela diz se arrepender de ter feito tantas lipoaspirações no passado, motivo pelo qual seu corpo criou resistência a anestesias, e precisa de doses muito mais fortes que outras pessoas.

Sua próxima cirurgia será em San Diego. Ela diz ter medo de infecção sim, mas não da morte. “Todos irão morrer um dia, mas não me imagino vivendo sem meus seios”.

Hershey trabalha em programas de TV, reality shows, e começará a gravar, no dia 19, episódios com o programa “My Strange Addiction” no canal TLC.