O livro digital ainda não é ecológico

Por Fernando Rebouças

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O livro digital não é mais ecológico do que o impresso. Em pleno ano de 2016, um livro impresso é um repositório de conhecimentos que pode permanecer durante séculos numa estante e ser produzido com papel certificado (ou outro suporte físico como tela fina de garrafa pet reciclada) e ser aberto sob a luz do dia ou luz de vela sem gasto obrigatório de energia e bateria para ser lido.

Enquanto que o livro digital é um arquivo que pode corromper com o passar do tempo, o livro digital demanda o uso de leitores eletrônicos que são descartáveis pela indústria do consumo, cujos equipamentos ainda são mal descartados como todos os tipos de lixos eletrônicos nos lixões do terceiro mundo, o lixo eletrônico ou “e-lixo” ainda não é reciclado plenamente no mundo. O hábito de leitura de um livro digital ainda precisa de uma tela que precisa de um equipamento móvel, que precisa de bateria, que precisa de energia para carregar pelo menos 1 vez por semana, que precisa de peças, que precisa de reinstalação de aplicativos e sistemas, etc...O livro digital emite mais CO2 no gasto de energia por cada escala de uso do arquivo no equipamento, sem falar no gasto de CO2 na geração de energia elétrica de termoelétricas para alimentar e resfriar servidores. Quando a internet e a informática se tornarem 100% solares e limpas, aí sim o livro digital será uma alternativa de leitura mais ecológica, tão importante quanto um livro impresso com papel reciclado ou certificado ou outro suporte de menor impacto.

Não sou contra o e-book, o considero uma importante alternativa de acesso à leitura e ao conhecimento. O e-book possibilita que um leitor na Tailândia leia um clássico em língua inglesa disponibilizado no site da biblioteca de uma universidade de Londres, entre outros exemplos de acessibilidade, de autopublicação com baixo custo, geração de negócios e distribuição mais rápida de obras. Porém, ainda não podemos conceder ao livro digital o selo de “produto 100% ecológico” e superior ao livro impresso somente pelo fato de não utilizar papel.

A digitalização da produção de conteúdos, atualmente, é considerada uma dos primeiros passos obrigatórios da pré-produção de um livro pelos editores (publishers). Quando você organiza o conteúdo textual e visual em softwares de edição e gera um PDF, o mesmo PDF pode ser utilizado para revender o seu livro no formato digital na Amazon ou ser enviado para uma gráfica imprimir a sua obra por escala (com tiragem) ou sob demanda (impressão a cada pedido). Portanto considero a digitalização do conteúdo uma grande evolução na indústria do livro.

Mas devemos ter o cuidado ao considerar o livro digital 100% ecológico somente pelo fato de não utilizar o papel. Lembre-se da energia que o livro digital consome ao ser acessado através de uma tela, de um equipamento com bateria que em dois anos será descartado e trocado por um equipamento mais moderno, lembre-se da energia que o seu tablet ou smartphone consome para acessar aplicativos e sites de e-books e na energia que os servidores utilizados por esses sites também consomem, afinal, qual é a matriz energética que o servidor do leitor tailandês e da biblioteca londrina (que exemplifiquei anteriormente) utilizariam? Imagine e pesquise mais.