O momento do nosso idioma - Opinião

Por Carlos Borges

Portugues

Um dos aspectos mais significativos do corrente “status” que a economia do Brasil vem desfrutando no mundo é o verdadeiro “frenesí” em torno do aprendizado do idioma português, mais precisamente o “Português Brasileiro”.

O antigo sonho visionário que alguns (especialmente os educadores) sempre tiveram em ver reconhecido o papel da língua como herança e manutenção da identidade dos nacionais brasileiros como de seus filhos e netos vivendo (temporária ou permanentemente) no exterior, se materializa pela velha via: o interesse econômico.

Neste momento, ainda, de crise econômica mundial, em que pese os tímidos avanços norte-americano rumo a uma recuperação, um profissional bilingue, que domine ao mesmo tempo o inglês e o português está em voraz demanda. Chega a existir uma “corrida” em certos setores da economia, em busca de atrair esses profissionais bilingues, valorizados como nunca e como a maioria acharia ser improvável.

Se enganam os que pensam que esse é um fenômeno passageiro. O “frisson” pode até ser que sim, já que todo o “frisson” tem o aspecto da transitoriedade modal e/ou circunstancial. Mas há muito pouca dúvida de que o papel econômico do Brasil no mundo venha se degredir, depois de atingir a marca de sexta (rapidamente caminhando para quinta) economia mundial, muito provávelmente no final do corrente ano. Portanto, o interesse pelo nosso idioma vai seguir em “alta”. Paralelamente e, também em função desse fato, estamos vivendo um movimento histórico, inédito e único, de mobilizações e iniciativas importantíssimas para o estabelecimento de uma política do Estado brasileiro com relação ao nosso idioma como uma prioridade de afirmação internacional.

Diferente de outros países, como Espanha, França, Alemanha, e mesmo em escala menos eloquente, Portugal, os governos brasileiros, ao longo da história republicana, nunca tiveram a prioridade de tratar a língua portuguesa como patrimônio, como elemento definidor além da nacionalidade, mas como identidade internacional de nosso país.

Nesses outros países que citamos, há o reconhecimento de que o idioma é também uma propriedade de valor econômico inestimável. Espanha, França, Itália, Alemanha e Portugal tiram dos seus idiomas, altas percentagens de seu Produto Interno Bruto, através das indústrias representadas pelos livros, artes cênicas, mídia e uma série de outros segmentos.

A necessidade de que haja, por parte do Estado brasileiro, uma política definida em relação ao nosso idioma, deixou de ser um “mimo acadêmico”, como ainda muitos, geralmente pouco letrados, consideram.

É uma necessidade vital , uma plataforma sólida para que não só nos afirmemos com ainda maior consistência no âmbito global, como ampliemos considerávelmente o espectro de possibilidades economicas para nossa terra e nossa gente.

O idioma inglês se tornou uma espécie de “língua universal” por conta de inúmeros fatores históricos e econômicos. Mas a grande alavanca de sua disseminação foi a cultura de massas, especialmente a partir do cinema norte-americano, que foi o primeiro “veículo universal” de colonização cultural.

Por conta da combinação do poder sedutor do cinema, o marketing incessante e a solidificação dos Estados Unidos como superpotência mundial, o inglês substituiu, a partir do final dos anos 40, o francês como “língua internacional”. Os norte-americanos compreenderam bem o papel da exportação de seu idioma e logo fizeram espalhar pelo mundo milhares de centros de promoção cultural e ensino do idioma, fazendo com que aprender inglês se tornasse sinônimo, ao mesmo tempo, de “status” e “necessidade profissional”. Alguém questiona o sucesso dessa estratégia?

O Estado brasileiro precisa de um plano semelhante e que começa pela definição de uma política com relação ao nosso idioma na arena internacional. Portugal, um país que, sem nenhuma ofensa, não tem nem sombra da preponderância econômica do Brasil, está cada vez mais empenhado nesse objetivo.

E se valendo do fato que é, efetivamente, o “berço” do idioma, deixa o Brasil (onde estão 80% de todos os que têm o português como idioma, no mundo), Portugal tem dado exemplos e lições importantes de como tratar o idioma com a seriedade e prioridade devida.

Com relação ao “momento” do nosso idioma, dois eventos relevantes ocorreram ou está para ocorrer: No último dia 20, tivemos o Encontro Educacionista em Nova York, promovido pelo Movimento Educacionista do Senador Cristóvam Buarque e patrocinado pelo Banco do Brasil.

No mesmo final de semana foi a vez do Curso de Capacitação de Professores de Português, realizado em Miami-Dade e promovido pelo Consulado Geral do Brasil em Miami / Ministério das Relações Exteriores. Curso este que já havia sido promovido em San Francisco e Washington-DC.

Na próxima semana irá acontecer em Fort Lauderdale, dias 4 e 5 de maio, no Broward Center for the Performing Arts, o I Encontro Mundial do Ensino de Português-EMEP. Dentro do Seminário Focus Brazil, este será um dos painéis mais importantes, coordenado pela American Organization of Teachers of Portuguese e contando com delegações de seis países e 11 estados norte-americanos.

Embora destinado a educadores de todas as partes do mundo, o EMEP é um evento que deve despertar o interesse de todos os que entendem o papel essencial da promoção do nosso idioma, não apenas como língua de herança, mas como instrumento de afirmação internacional e ferramenta econômica ponderosa e inquestionável.