O muro de McCain

Por Gazeta Admininstrator

Parece mesmo que resta pouca esperança ao candidato republicano John McCain em ser o sucessor de George W. Bush na Casa Branca.

Todos os seus recentes discursos apontam para uma “radicalização” nada inespe-rada de uma candidatura que neste momento está 17% em desvantagem com relação a Barack Obama.

O “barco” de McCain está à deriva e parece não ter mesmo nenhum outro porto alcançável que não o do radicalismo de direita. É de se imaginar que, na extrema-direita norte-americana, racista, anti-imigrante, anti-quase tudo, tem gente até torcendo por um novo ataque terrorista antes das eleições, para que McCain ganhe algum tipo de relevância em seu discurso pró-guerra e, mais recentemente, pró-“muro da vergonha”.

Isso mesmo. O senador McCain, que durante o segundo mandato de Bush foi praticamente o único ardente defensor da reforma imigratória que beneficiaria cerca de 12 milhões de indocumentados e que, diversas vezes, se pronunciou contra a construção do “muro” na fronteira entre Estados Unidos e México, agora defende o mesmo muro e até a sua ampliação.

Num país onde marketing é tudo e “mentira” e “verdade” podem ser sinônimos dependendo da qualidade e eloqüência do discurso, pode parecer despercebido que McCain corteje, hoje, os votos das alas religiosas mais retrógradas, quase medievais, da sociedade norte-americana. McCain age como se absolutamente nada tenha importância, a não ser a manutenção de suas chances eleitorais.

Neste particular, McCain está muito parecido com Hillary Clinton. Talvez o maior erro estratégico da então “imbatível” Hillary, foi demonstrar que estaria disposta a vender a alma ao diabo para fazer história e se tornar a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos. O povo disse não a Hillary, como, muito provavelmente, irá dizer “não” a McCain e sua retórica que muda de idelogia como quem muda de cueca.

Pior é que os radicais de direita norte-americanos não são tolos. Eles sempre detestaram McCain. E não acreditam em sua repentina “conversão”. Diferente do Partido Democrata, que abriga toda a sorte de tendências, da extrema-esquerda aos liberais, o Partido Republicano tem uma supremacia relevante de grupos de direita centristas e outra poderosa fatia de extrema-direita. McCain foi escolhido candidato “apesar” da forte oposição dos extremistas. Agora, para tentar unir o partido e ter alguma chance de disputa com o favorito Obama, McCain está, literalmente, disposto a tudo.

Tem negado ter dado declarações que são constantemente veiculadas na TV, ou seja, “desmentindo o vídeo-tape”. Tem se “desculpado” de posições assumidas há menos de dois anos, sem entretanto justificar essas mudanças de pensamento como algo natural e sim, simplesmente negando que algum dia tivesse pensado de outra forma.

Nesse contexto, a questão imigratória não passa de um joguete.

Como indocumentado não vota e a parcela eleitoral que realmente se sensibiliza a favor dos ilegais são os eleitores latinos (12%), McCain “joga a tolha” com relação a esses importantes votos (que até então o respeitavam como um republicano pró-imigrante) e aposta em atrair os votos dos eleitores americanos brancos, de postura anti-imigrante.

A “ousadia” de McCain em espicaçar seu passado pró-imigrante reflete claramente o nível de desespero estatítico de sua campanha. Tudo pesa contra ele: idade avançada, saúde abalada, falta de credibilidade como político e como administrador. A única coisa que exibe como bandeira de campanha é sua experiência com a guerra e seu heróismo nos campos de batalha.

Mas será que isso será suficiente para eleger um Presidente agora? Com o país submerso em crise econômica e de auto-estima, onde o índice de aprovação do atual governo é o mais baixo da História? Onde há uma clara intenção de mudança, ainda que seja dentro de limites típicos do centrismo norte-americano?

Pode ser. Tudo pode ser. Até mesmo McCain com seu discurso de guerra e muro da vergonha, superem o “momento” nacional vivido pela proposta Obama, que vem sendo muito bem recebida pelo povo norte-americano.

A conclusão a que se chega é de que não há mais nada sagrado. O que importa é vencer, a qualquer preço, passando por cima do que tiver que ser. Ainda que sejam 12 milhões de vidas.