O Natal dos solitários

Por Gazeta Admininstrator

E a gente aqui, muito feliz da vida diante da possibilidade de curtir quatro dias inteiro de “feriadão natalino”, da quinta ao domingo.

É bom quando os dias 24 e 25 de dezembro caem exatamente dessa forma, coladinhos com o fim de semana. Vira um “feriadão Boas Festas”, para se aproveitar mais ainda o cada vez mais raro convívio com a família. Tempo para ficar em casa, relaxar e, à noite, celebrar com os amigos.

Infelizmente, o Natal não pode ser e nem será feliz para tantos outros. E a perspectiva dos quatro dias seguidos de “atmosfera natalina” talvez seja angustiante para os que vivem dominados pela tristeza, a depressão, a nostalgia e a solidão.

Lembro de um tempo, não muito distante, quando se tratava que “depressão” com um irresponsável “sai dessa fossa”. Os tempos passam e está mais do que claro que a depressão e o sentimento de isolamento são duas das mais graves doenças psicológicas e sociais de nosso tempo.

Um tempo de violentos contrastes. De enorme riqueza e luxo para uns e de carências absurdas, impensáveis, para tantos outros. O “momento natalino” enfatiza isso de uma forma tão acentuada que é impossível não se envolver, comover.

Esse é um tempo em que muitos valores – dignificantes ou não – afloram em todas as pessoas. É um tempo de expectativa de dar e receber presentes, é um tempo de expectativa em dar e receber afeto. Para uns poucos, é tempo de reflexão (quem é que ainda realmente faz isso?). Para a maioria das pessoas, é tempo de gastar dinheiro e celebrar porque “ninguém é de ferro e 2009 já foi amargo o bastante”.

A verdade é que todos têm razão. E a possibilidade de usar o chamado “espírito natalino” para espantar os “males” e “maus humores’, é mais do que válida.

E que tal ir além disso? Que tal fazer uma pequena, ínfima diferença na vida das pessoas que, eventualmente, não estão se sentido “incluídas” nesse momento festivo?

Aquele parente sempre mais distanciado, bem que pode receber um telefonema-surpresa. Aquele amigo que inexplicavelmente “sumiu de circulação”, que tal procurar saber como ele está. Talvez, até convidá-lo para se integrar à ceia com a sua família.

Sei que muita gente pode achar tolice. Eu não. Embora não tenha como fazer muita coisa por tanta gente que, sei, se sentiria muito bem ao ser lembrada ou considerada num momento como esse, não posso evitar de pensar sempre em quem não tem – ou não enxerga que tem – motivo nenhum para celebrar o espírito do Natal.

A solidão mata. A depressão corrói almas e transforma seres humanos, muitas vezes, em animais. Reclusos, feridos, arredios, mas, absurdamente carentes e aptos a sair dessa escuridão vazia diante de um gesto de fraternidade.

Fraternidade e carinho são presentes que não se compram em loja. São sentimentos quase que em extinção numa humanidade que acelerada e alucinadamente corre em direção ao materialismo absoluto.

O materialismo que, apostem, é a maior de todas as causas dos males que afligem um planeta doente e cego pela ambição e ignorância.

Está meio surrado, mas, o amor ainda pode muitas coisas. Está em desuso, mas, a fraternidade ainda tem uma força transformadora descomunal. Só precisam ser exercidos, Ao mínimo que sejam.

Pensem nisso, amigos leitores, O Natal nos dá chance de, pelo menos uma vez por ano, agirmos como se existíssemos além de nós mesmos.