O Novo Mundo: onde vamos parar?

Por Gazeta Admininstrator

O mundo passa por um ciclo de mudanças que certamente irá modificar, profundamente, o quadro geopolítico que hoje rege as relações econômicas internacionais. Enquanto o mundo árabe vive uma convulsão que poucos poderiam prever, derrubando ditaduras que se julgavam eternas, nos países ricos as autoridades também são desafiadas pelos descontentes demonstrando que o status quo parece estar fora de moda.

A queda dos ditadores Ben Ali, da Argélia, e Hosni Mubarak, do Egito, e as convulsões sociais no Bahrein, na Líbia e no Irã demonstram que os jovens e as mulheres já não mais querem submeter-se às regras obsoletas da gerontocracia que governa estes países e pedem mudanças que garantam liberdade de expressão e acesso à modernidade. O movimento é, em todos países, liderado por grupos majoritariamente formados por jovens que clamam por mais educação, emprego e melhores condições de vida, ao alcance de suas mãos, mas negados por práticas obsoletas, protegidas por sutis barreiras como as encabeçadas pela profissão de valores religiosos, muitos ultrapassados, mas sobreviventes graças a interpretações interesseiras, que através da religiosidade procuram manter vastas populações no obscurantismo e assim, permitir ao "establishment" preponderante os nefastos hábitos do neopotismo, corrupção e manutenção de privilégios.

O irônico é que o catalizador destas revoltas é a tecnologia através de equipamentos e dispositivos, dominada pelos jovens e que atuam como correias de transmissão das ideias revolucionárias: facebook, twitter, emails, skype, smartphones e outros gadgets. Através disto foi possível agregar os jovens em torno dos mesmos objetivos e fazer com que eles saíssem às ruas para enfrentar os regimes ditatoriais encastelados nos minaretes dos falsos líderes muçulmanos.

Se no Norte da África e na Península Árabe os jovens comandaram ? e ainda estão comandando as mudanças ? , os jovens dos países desenvolvidos também demonstram suas insatisfações, como é o caso do corte dos subsídios educacionais proposto pelo governo britânico que enfureceu os estudantes locais. Por falar em estudantes, o estado de Wisconsin também presenciou uma verdadeira batalha entre professores e funcionários da área educacional contra a redução de benefícios proposta pelo recém-empossado governador Scott Walker, que está indignado com a oposição dos servidores do sistema educacional.

Nem é preciso dizer que também nos EUA as ferramentas tecnológicas desempenharam muito bem seu papel, possibilitando o aglutinamento dos insatisfeitos que marcharam pelas ruas de Madison, capital do Wisconsin, para protestar contra as decisões do governador republicano.

O relógio do tempo parece ser o divisor de águas destes protestos. Os mais velhos querem preservar a sociedade como ela está, mas os mais jovens empurram por alterações ? até porque eles vêm sendo os grandes sacrificados pelo sistema. O mundo mudou e não há como parar o relógio do tempo, que diretamente influencia a vida de todos, hábitos, ritos e costumes.

Nos países em desenvolvimento aumenta perigosamente o contingente de desempregados, sub-empregados e de pessoas com pouca instrução que precisam contentar-se em pegar empregos mal pagos para poder sobreviver. O mesmo fenômeno repete-se nos países desenvolvidos, com a agravante de que a população aumentou sua expectativa de vida e os mais velhos continuam por mais tempo no mercado de trabalho, diminuindo a abertura de postos de trabalho para os iniciantes. Some-se a isto, a evolução da tecnologia que ceifa empregos de maneira inexorável.

O desafio consiste em as sociedades conseguirem encontrar o ponto de equilíbrio para que todos os atores sociais consigam desempenhar seus papéis sem sufocar os demais. Algo que, convenhamos, é bem difícil sobretudo quando a própria sociedade nos ensina a ser competitivos, e quase nunca competitividade combina com solidariedade.

Entretanto, a vitoriosa administração desta simbiose entre jovens e velhos parece ser a fórmula ideal, porém desfiadora, para evitarmos ver o crescimento de marginalizados, cujos retratos podem ser vistos nas esquinas suplicando por esmolas ou, pior ainda, cometendo delitos e obrigando a sociedade a reforçar a segurança das pessoas e de seus bens.

Os eventos nos países árabes portam em seu bojo um novo conceito de cobrança política e social, trazendo a iniciativa dos protestos e reivindicações para o povo e para as ruas, tirando-as dos confortos dos salões e dos edifícios bem protegidos por seguranças que ajudam a oprimir os menos favorecidos. O povo parece que aprendeu a reivindicar e provocar os acontecimentos. Os tempos das Marias Antonietas (não tem pão, dêm-lhes brioches) parece que chegou, finalmente, ao fim, depois de quase 200 anos.

Portanto, devemos todos colocar as mãos à obra, porque nós todos somos responsáveis e beneficiários na criação de uma sociedade mais justa e igualitária do ponto de vista social e econômico. Aprontem-se para participar, pois nesta corrida, quem sair atrasado será perdedor, e com grande distância.

* Luigi Pardalese, chefe de Pesquisas Instituto Pardalese, Flórida.