O Papa, o Brasil a Igreja e a Realidade

Por Gazeta Admininstrator

Nada como a passagem do tempo, a evolução natural e as imagens (que graças a Deus são cada vez mais abundantes em captação e arquivo) para demonstrar de forma clara porque a Igreja Católica, indiscutívelmente ainda a religião com maior número de fiéis, está em crise permanente há décadas, no Brasil.
Finda a passagem do Papa Bento XVI pelo nosso país, e o que fica como imagem mais forte não é nem de longe a imagem carismática e inspiradora de uma Igreja que foi comandada aé poucos anos por João Paulo II.
Não se esperava que Bento XVI arrabatasse corações católicos (e muitos não-católicos também) como o fez em todo o mundo, o polonês Karol Woytila, nome real de João Paulo II. Desde sua consagração como sucessor do mais popular Papa em toda a História da Igreja Católica, sabia-se que Bento XVI teria uma performance claramente “low profile”.
A imagem deixada por Bento XVI é a de uma Igreja Católica cada vez mais distanciada da realidade da vida das pessoas. Pessoas que se sentem católicas, mas que a cada dia mais e mais não conseguem entender como o Vaticano pode ser contra o uso de preservativos (camisinhas), contra a ordenação de mulheres, pela manutenção da virgindade e outros dogmas que, cobvenhamos, não passam de uma deslavada hipocrisia num mundo em que a realidade se impões fria e claramente.
Em vez de ser um Papa da Concórdia e alavancar uma mudança de atitude na igreja católica do Brasil, que já foi considerada a segunda mais imprtante do mundo em prestígio político (atrás apenas da italiana) e possuidora do maior “rebanho” de fiéis.
Vistos com frieza matemática, a Igreja Católica no Brasil de hoje deve seguramente ter perdido metade da participação e importância que tinha, por exemplo, a meros 20 anos atrás.
E que ninguém se apresse em “apontar” o extraordinário avanço das seitas evangélicas como a razão principal para o declínio do catolicismo entre os brasileiros – admitido pelo próprio Vaticano, o que em sí já é um poderoso sinal dessa verdade. A Igreja Católica se mostra como um organismo pesado e incapaz de se mover a mais que um milímetro por década. É muito pouco para uma civilização que vive em ritmo de fibra ótica.
A Igreja da Santa Sé exibe um pânico em mudar. Teme perder sua identidade fundamental e, do ponto de vista puramente mercadológico, acredita que é melhor manter satisfeita a sua base conservadora mais radical (aquela que, no frigir dos ovos, defende até a volta das missas rezadas em Latim) do que arriscar uma renovação que a torne permanentemente atraente para as novas gerações.
Os jovens brasileiros que se dizem católicos, o fazem em sua esmagadora maioria, sem dar grande atenção ou sequer prestarem atenção ao que estão disendo. São católicos aleatórios, pelo fato de terem sido criados por famílias que se reconheciam católicas porque ainda conservam elementos arraigados da prática católica que foi a base religiosa “mater” da Nação Brasileira.
Mas não são e dificilmente virão a ser “católicos” em seus corações e mentes, porque não têm como identificar nos cânones retrógrados e dogmáticos do catolicismo do Vaticano, a sua própria vida, a sua visão do que é ter fé, crer em Deus e nos ensinamentos de Jesus Cristo.
O católico moderno, sem ser nenhum extravagante ou alucinado, deseja uma Igreja que não julgue e nem condene. A noção de “pecado” professada pelo catolicismo tradicional e reacionário é tão inviável que já há os que duvidem abertamente de que a Igreja de Bento XVI teria qualquer chance de recuperação de sua relevância.
Num mundo em que menos de 30% da população mundial se apresenta como “católicos”, a religião da Santa Sé já não é nem a terceira mais professada, perdendo em número de seguidores para o Maoísmo, o Islamismo e o Evangelismo.
Não é nada não, mas há menos de um século, a Igreja Católica era um poder tão absoluto e dominante, pelo menos políticamente, no mundo, que praticamente não havia país ou governo, mesmo aqueles onde o catolicismo sempre foi minoria, que não reverenciasse as opinioes e ditames do Vaticano como absolutamente relevantes, quando não, preocupantes.
A Igreja de Bento XVI morre de medo de mudar. Esse medo é a sua maior fraqueza.
Até porque segue maquiando seus “pecados” históricos e sua imobilidade debaixo da eterna maquiagem do “atrelamento bíblico”.
Não há mesmo como evitar a conjectura de que, de fato, como afirmam muitos teólogos e estudiosos nas mais diversas línguas, encarar que foi de João Paulo II o “canto do cisne” de um Vaticano de relevância maior.
Uma coisa é certa. Nada fará com que a esmagadora maioria dos católicos usem camisinha (graças a Deus) e nada fará com que os abortos sigam ocorrendo, seja como último recursos para pessoas imprevidentes, ou seja simplesmente para exercer o direito individual e sagrado de ser dono absoluto de seu próprio corpo.
Em tempo: tive formação católica por grande parte de minha vida e ainda valorizo inúmeros pontos do catolicismo. Mas lamento esse afastamento cada vez mais incompreensível que a Igreja Católica do Vaticano tem, do mundo real em que vivemos.