O pesadelo da infraestrutura

Por Gazeta Admininstrator

A essa altura do campeonato, como se diz em gíria bem brasileira, só mesmo aqueles cegos que não querem enxergar (que são os piores, como diz outro ditado popular) não são capazes de reconhecer que os avanços econômicos do Brasil colocaram nosso país em um patamar bem diferente daquele que estávamos há, digamos, 20 anos atrás.

Gradualmente o Brasil está vencendo desafios considerados impossíveis ou “hercúleos” como a pobreza em seus diversos níveis, de 40% de nosso povo, a fome crônica que assolava 25% da população, o acesso limitadíssimo ao ensino superior, etc.

Mas há um desafio gigantesco e que paira como grande ameaça a tudo o que o país conquistou nesses anos recentes: a falta de infra-estrutura que possa não só recuperar décadas de atraso, mas, ao mesmo tempo, estabelecer a vital plataforma de sustenção de um crescimento de 8% ao ano.

O Brasil segue não tendo rede de esgotos em uma substancial parcela das cidades.

Excetuando as rodovias “chiques” do Estado de São Paulo, as estradas na maioria dos estados brasileiros são precárias e pouquíssimas novas rodovias são construídas.

O planejamento urbano das grandes cidades é uma piada de mau gosto, exibindo o mais bizarro processo de ocupação de solo sem nenhum critério, ou então, desrespeitando os zoneamentos previstos em lei mas “derrubados” pela corrupção avassaladora.

E nossos aeroportos, hein? Nem precisa ser muito “viajado” para saber que em matéria de aeroportos o Brasil segue estacionado no pátio do terceiro mundo. Países muito menos ricos que o Brasil cuidam dos aeroportos que fazem os nossos maiores e “melhores” corarem de inveja. Mais uma vez: se queremos ver o Brasil equiparado em desenvolvimento com os “grandes” do mundo, uma boa medida, além, é claro dos índices sociais e de inclusão na economia, são as nossas “portas de entrada”.

Não tem nada mais frustrante que desembarcar, por exemplo, no Aeroporto de Cumbica, subdimensionado, ou no Aeroporto Tom Jobim, maltratado e sem manutenção. Isso se ficarmos apenas nos dois maiores terminais do país. Vocês sabiam, por exemplo, que o Aeroporto Internacional de Fort Lauderdale, uma cidade com menos de 200 mil habitantes tem mais “gates” que o Aeroporto de Cumbica? Mesmo levando-se em conta as grandes diferenças econômicas entre Brasil e Estados Unidos, a gente está comparando o aeroporto de uma cidade do tamanho de Piracicaba, com o aeroporto da maior cidade da América do Sul e uma das 5 maiores do mundo!
A Copa de 2014, primeira grande “vitrine mundial” desse novo Brasil que quer assento no Conselho de Segurança da ONU e, com toda a justiça, se enxerga como futura 5ª maior economia do planeta.

E o pavor de todos os que querem ver o Brasil respeitado, é a possibilidade de um vexame colossal, com terminais improvisados com tendas de plástico, e a utilização massiva de residências como “hospedagem de suporte” à nossa pequena, caríssima e em geral modesta rede hoteleira.

Aliás, tem um grupo de “oportunistas de plantão”, de vários países, acenando com soluções “rápidas e baratas”, mas descaradamente temporárias para “adequar” nossos aeroportos, com a instalação de terminais infláveis. Seria cômico se não fosse sério.

A presidente Dilma anunciou um pacote bilionário de investimentos em infraestrutura. Mas os números anunciados - quem se “enfronha” no tema, sabe disso - não são suficientes sequer para recuperar e dar um aspecto profissional e digno aos terminais que já possuímos.

A mentalidade do “band-aid”, muito comum na administração pública brasileira, e a mentalidade dos “investimentos sem riscos, assegurados pelo dinheiro público”, que caracterizam a nossa iniciativa privada, não ajudam em nada.

O Brasil, seus governantes e seus grandes empreendedores da iniciativa privada, precisam enxergar esse novo momento do país com uma nova visão e uma nova atitude. E essa atitude deve necessariamente se refletir em investimentos de infraestrutura, com o Estado cuidando de áreas onde o interesse privado não tenha razão de existir, e a iniciativa privada ocupando todos os territórios onde possa desenvolver uma atividade econômica produtiva, lucrativa e empregadora.

Um mutirão de fé no futuro do país, que é uma perspectiva real, mas que pode ser violentamente “brecado” ou severamente “desacelerado”, se não houver, nessas e em outras áreas, a mesma seriedade e determinação que, por exemplo, o governo e a iniciativa privada vêm tendo no setor energético, no qual, o Brasil é hoje uma incontestável liderança mundial.