O preço da ignorância - Opinião

Por Carlos Borges

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Há um território em que países como Estados Unidos e Brasil, Uganda e Suécia, Filipinas e Paraguai estão rigorosamente no mesmo patamar. Incrível, não?

Esse é um território onde a farsa, a hipocrisia, a mentira, a manipulação e a corrupção são aliadas das classes dominantes que, sem o menor escrúpulo - reconheçamos, nunca tiveram - trabalham 24/7 para não apenas manterem o poder e o sistema do jeito que melhor lhes serve.

Basta uma análise fria sobre o que ocorre em todo o planeta para saber que, guardadas as diferenças de processos históricos, cultura e tradições, estamos vivendo a era do descaramento total e absoluto dom relação ao interesse público.

Países altamente desenvolvidos, com os nórdicos, convivem com as mesmas denúncias de corrupções e desmandos públicos que republiquetas irrelevantes do Caribe, Pacífico ou África. Os escândalos que antes eram muito mais frequentes em países de baixo índice de desenvolvimento sócio, político e cultural, hoje se igualam em gênero, número e grau, mundo agora. Afinal, a tragédia da política dos próprios interessses estão tão globalizada quanto o facebook.

Sinal dos tempos? Sem dúvida. Mas o agente causador desse momento horroroso da moralidade pública e política no mundo, é ao mesmo tempo a sua maior vítima. As populações eleitoras são, cada vez mais, gado teleguiado por um sistema que construiu a mais poderosa estrutura de imbecilidade e infantilização da vida, gerando uma sociedade cujo único valor é o materialismo de satisfação instantânea, sem educação, sem cultura, sem nenhum poder de raciocínio que seja mais sofisticado do que os vídeogames de massacre.

Sim, os eleitores. Somos quem coloca esses homens e mulheres no poder, não somos?

E na hora de votar, nem sequer nos damos ao trabalho de checar o que esses homens e mulheres têm “na bagagem”. E haja “bagagem”, nao é mesmo?

O descaramento é tal, que os políticos, como Obama, já nem se preocupam em prometer coisas que, depois de eleito, nao teve o menor direcionamento honesto e comprometido em cumprir. Ou do candidato republicano Romney, que para seduzir a reacionária plateia de extrema-direita dos Estados Unidos, será capaz de dizer qualquer coisa, desde defender que os gays sejam queimados vivos ou que os imigrantes sejam deportados nos porões dos cargueiros. A única coisa que vale, para estes senhores, é se garantir no poder.

E o povo se aborrece ou sequer percebe isso?

Que nada! Enebriados com o marketing-nosso-de-cada-dia, os eleitores entram na “farra”, não como cidadãos conscientes que devem julgar quem pode corresponder mais adequadamente aos anseios da população, mas como “torcedores” de um jogo que - mal sabem - está muito mais para “cartas marcadas” do que para jogo democrático.

Imigrantes, negros, gays, minorias em geral, que somados seriam a maioria, viram apenas “bucha de canhão” nesta eleição. O mesmo se repete em outras partes do mundo, onde a crise econômica parece não ser tão importante assim, na medida em que Olimpíadas, Copas do Mundo, Jubileu da Rainha e outras “distrações” anestesiam o que seria um processo nacional de indignação e tomada de consciência. Os gregos que o digam...

O sistema mundial de poder é hoje o maior inimigo da educação. Eleitor educado é, para os donos do poder, eleitor inimigo da corrupção e da bandalheira em que se transformou a maioria dos governos do mundo. Quando nao há uma desonestidade flagrante, há o atrelamento descabelado ao dinheiro, ao fator econômico como única via para o caminho da humanidade. A quem interessa que seja assim? As populações ou as elites?

Os erros do passado nao são aprendidos. E aí, mais uma vez, a educação faz uma falta enorme. Vive-se o “salve-se quem puder” de cada dia, com a massa sendo induzida a se comportar cada vez mais tribalmente - vejam só, está todo mundo até se tatuando... - enquanto os donos do poder ficam nervosos que a resistência dos gregos de não quererem se tornar alemães.

Isso me faz lembrar uma frase escrita num outdoor em Tampa Bay, de 1989, ano em que me mudei de vez para os Estados Unidos:

“O preço da educação nunca será maior que o da ignorância” Parece uma frase premonitória...