O preconceito social no Brasil é triste

Por Fernando Rebouças

Sou contra o racismo e qualquer tipo de bullying, seja em nível social e profissional presente na  sociedade e no cotidiano. Porém, existe a teoria e a prática e, infelizmente, no Brasil, a prática sempre vence da seguinte forma: Se você é afrodescendente, indígena, branco pobre, baixinho e gordinho você é colocado de lado, é pouco considerado e, nos casos mais radicais, atacado até nas redes sociais por aquilo que você é e vive.

No Brasil, na prática, só existe uma forma de uma pessoa ser respeitada plenamente: Pertencer à classe A, ganhar mais de 15.000,00 reais por mês, ter duas casas boas, três carros na garagem, formação no exterior e demais atributos materiais de reconhecimento que lhe conferem o respeito físico, psicológico e social que a mera legislação, educação e cidadania deveriam garantir. Ou seja, em nosso país, na prática você pode ser preto, branco, índio, baixo e gordo, mas se você tem dinheiro e status social você é respeitado e aceito publicamente do jeito que você nasceu e do jeito que você vive, mas o preconceito, muitas vezes,  ainda persiste. Você pode ser tudo de normal ou anormal na visão dos outros, desde que você seja “gente boa” e bem conceituado financeiramente pela sociedade e pelos territórios midiáticos verticais (mídia de massa) e horizontais (autocomunicação nas redes sociais e demais plataformas).

Não digo que é negativo ter dinheiro e muito menos desaprovo o sucesso social e profissional de um cidadão, digo que é negativo e muito grave uma atleta brasileira ser chamada de “macaco” depois de uma derrota no judô nas Olimpíadas de 2012 e somente ser plenamente respeitada quando consegue conquistar a medalha de ouro nas Olimpíadas de 2016, o respeito não pode sofrer condições, pois o respeito já é uma condição inicial na percepção do outro em nossa vida e no nosso convívio. Na prática, em nosso país, será que ainda precisamos ganhar uma medalha de ouro, um emprego com alto salário e acumular grande patrimônio para sermos respeitados, independente da nossa etnia, classe social e condição?

Independente dos resultados obtidos num projeto laboral, é natural que um bom trabalho produza uma  imagem com a exposição de seu autor em destaque perante os demais, nesse caso,  a pessoa está exposta quando tira nota dez numa turma, quando  leciona numa importante escola, quando atua num filme e numa novela, ou quando se torna líder em qualquer tipo de projeto social e profissional. Mas, é triste vermos bons alunos serem perseguidos na saída de suas escolas pelo simples fato de terem tirado a melhor nota, é triste uma pessoa ser perseguida por ser considerada “feia” ou “bonita”, é triste testemunharmos casos de dezenas de idiotas maltratando uma celebridade nas redes sociais por causa da cor de sua pele, é triste convivermos com um indivíduo que não tem o mínimo respeito pela outra pessoa a ponto de necessitar ser intimidado e penalizado para aprender a respeitar, isso quando determinado fato se torna massivamente público nas mídias e nos tribunais.

Além de todos os tipos de preconceitos nocivos e condicionamentos socioeconômicos para uma pessoa ser plenamente respeita no Brasil, podemos identificar a inversão da cidadania no país, onde você precisa ter condições e acesso à justiça para ser respeitado. Diariamente, a educação e os bons exemplos falham na construção de uma sociedade brasileira mais justa e igualitária. Além de equilibrar o acesso à alimentação, educação regular, moradia, saúde e segurança, a igualdade social inclui o respeito pelo outro, mesmo que você não admire determinada pessoa pelas suas opiniões, tarefas e aparência, a sua primeira obrigação é aceitar o outro e não pré-julgar o outro em sua integridade física, psicológica e social. Ninguém é perfeito, o ser humano comete erros sim, mas quem não respeita o outro nunca será aceito de verdade por ninguém. Na vida o que você dá você também recebe, essa é a primeira lei do destino e do convívio.