O príncipe e a sapa

Por Adriana Tanese Nogueira

o principe e o sapo
Há príncipes que casam com sapas. Alguém que já viu essa? Quantas vezes nos surpreendemos diante de um casal onde ele é o bacana da história e ela é a pobre de espírito. E nos pegamos pensando: “Puxa, como aquela mulher é sortuda! Ele é tão bom com ela!” Ou: “Quanta coisa ela tem por ter casado com ele!” Mulheres que batalham e ganham sua vida no braço e nos neurônios, que desenvolvem determinação, paciência e perseverança muitas vezes não têm aquele apoio que mereceriam, ajudando-as a alcançar seus objetivos e a realizar projetos valiosos. Muitas vezes bastaria pouco para dar um salto... e se sonha (ainda) com um príncipe que venha e nos dê uma mão solidária... Mas nada de príncipe. Olhamos para os lados e vemos aqui e ali (não são comuns) homens que parecem prontos a ajudar suas damas em seus projetos e desejosos. Mas olhando com mais atenção vemos, porém que, fora uma percentual minúscula, a situação que enxergamos tem algo “estranho”. Esses homens se portam como cavalheiros pacientes e generosos para com suas mulheres, providenciando-lhes uma vida confortável e, como se diz, oferecendo-lhes repetidas “colheres de chá”. O mimo por elas recebido parece, visto de fora, não merecido, pois elas podem não ser tão inteligentes ou generosas ou sinceras como haveria de ser uma dama que acompanha tão nobre cavalheiro. As aparências, porém, enganam. Não há damas porque não há cavalheiros nessa história. Como escrevi no post “Sempre amamos a pessoa certa”, todas as relações amorosas não são casuais. O romantismo que as envolve é como um véu dourado e perfumado que encobre as engrenagens que fazem a relação existir e funcionar. Como peças de Lego, as dinâmicas psicológicas de um se encaixam nas da outra, nem sempre para o bem maior dos dois. Os bastidores deste tipo de relação revelam uma realidade diferente. Da mesma forma como a luz precisa da escuridão para se sobressair, assim pessoas inteligentes, mas com baixa autoestima precisam de pobres de espíritos para a autoafirmação. Esse tipo de homem é patriarcal e imaturo. Patriarcal, porque sentir-se o chefe de família e o “dono do pedaço” faz parte de sua identidade, e com uma mulher assim é fácil. E ele é imaturo porque evidentemente teme encarar alguém do seu “tamanho”. Como o magricelo vai fugir dos bons de briga, assim o homem imaturo foge de mulheres inteligentes, mulheres que têm algo a acrescentar, mas que podem também coloca-los em discussão. Relacionar-se com alguém que não está à nossa altura nos permite, de alguma forma, fazer tudo o que queremos. Tem-se carta branca. E aqui está a prova de que não há cavalheiros nessa história: fora Maria Teresa de Calcutá, passar a própria vida com pessoas cultural e intelectualmente mais pobres do que nós bloqueamos nossa própria evolução. Homens pós-patriarcais dividem responsabilidades e poderes equitativamente. Não dão suporte emocional para mulheres-meninas, pois eles precisam de mulheres adultas para sua própria realização e desenvolvimento pessoal. É a história do príncipe que casou com a sapa. De fora ele é um príncipe, mas quando se olha no espelho ele se vê sapo.