O professor é a resposta - Editorial

Por Carlos Borges

Chemistry Teacher with Students in Class

Não deveria ser novidade alguma, mas virou manchete do “New York Times” e da maioria dos grandes meios de comunicação dos Estados Unidos.

A revelação dos resultados de uma pesquisa que foi aplicada durante 20 anos, medindo o desenvolvimento acadêmico e outros aspectos da vida dos estudantes norte-americanos, do ensino elementar à universidade, evidencia o que toda a pessoa de bom senso já sabe, desde criança: os alunos de professores dedicados e comprometidos se tornam adolescentes e adultos com performances acentuadamente superiores.

Bons professores sempre “fizeram a diferença” e há uma “infinidade” de exemplos no dia-a-dia que apenas constatam essa realidade. Mas a partir dos anos 80, uma onda de criticismo e desprestígio inundou as salas de aula norte-americanas.

Os professores passaram a ser apontados como os principais “culpados” pelo declínio no aproveitamente acadêmico – mais precisamente, as famosas notas – de crianças e adolescentes nos Estados Unidos.

Foi a fase em que o aproveitamento escolar nos Estados Unidos levou o país ao que foi considerado um “vergonhoso 8º lugar” entre as nações mais ricas e desenvolvidas do mundo, no quesito “notas escolares” e “aproveitamente acadêmico”. A revelação desse ranking pelas agências das Nações Unidas, colocou os Estados Unidos atrás de Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Singapura, Noruega, Suécia e Suíça.

Houve até “gozação” internacional e troca de farpas diplomáticas, por conta de pronunciamentos “humilhantes” do então primeiro-ministro japonês, que acusou os jovens estudantes norte-americanos de “preguiçosos e mimados”.

Desde então, a sequência das administrações de Bill Clinton (8 anos), George W.Bush (8 anos) e Barack Obama (3 anos), tem dedicado especial atenção a esse problema.

O estudo agora publicado, e realizado pelos acadêmicos Raj Chetty e John Friedman da Universidade de Harvard em parceria com John Rockoff da Universidade de Columbia, conclui que, os estudantes que recebem orientação e apoio de bons e dedicados professores, não só melhoram sensivelmente suas notas escolares, como aumentam o interesse pelas atividades acadêmicas, demonstram mais segurança e equilíbrio em seu comportamento e, quando entram no mercado de trabalho, são muito mais bem- sucedidos.

Os efeitos positivos dos bons professores sobre esses alunos vão muito além do aproveitamento acadêmico. Alunos orientados por professores atualizados, dedicados e comprometidos, se tornam mais resistentes à iniciação nas drogas (uma “praga” quase incontrolável na maioria das escolas públicas do país) e, no caso das meninas, reduzem drasticamente a possibilidade de gravidez adolescente (outra “praga” no ambiente escolar norte-americano).

Para se ter uma ideia da dimensão desse estudo, é só levar em conta que nada menos que 2,5 milhões de estudantes norte-americanos, desde a Elementary School às escolas técnicas, por um período de 20 anos: de 1990 a 2010. Quase todo o ano de 2011 foi consumido na tabulação e interpretação científica desses dados, para finalmente gerar o estudo que está sendo divulgado.

Se não há novidade nenhuma em saber e reafirmar a crucial importância dos professores na vida de cada um dos seres humanos (dos Estados Unidos ou de qualquer parte do mundo), há, entretanto a “novidade” de se resgatar o óbvio: há que se apoiar e prestigiar os professores, investindo em sua formação e – importantíssimo – constante reciclagem.

Afinal, em um tempo em que a educação dos jovens deixou de ser exercida pelo binômio pais-professores e “migrou” tragicamente para o binômio professores-televisão, o resgate do peso específico da escola na formação das novas gerações é uma prioridade tão prioritária quanto a preservação ambiental. Gerações futuras, melhor educadas, certamente farão um trabalho bem melhor do que nós, adultos de agora, promotores do atual estado de selvageria mundial, estamos fazendo.