O que é que eu faço quando meu filho não para quieto?

Por Rosana Brasil

desobediencia

“Os ratos, que viviam com medo de um gato, resolveram pendurar uma sineta no pescoço do gato. Um rato que tinha ficado o tempo todo calado, falou que o plano era muito inteligente, que com toda certeza as preocupações deles tinham chegado ao fim. Só faltava uma coisa: quem ia pendurar a sineta no pescoço do gato?”

Falar é fácil, fazer é bem mais difícil. O que é que eu faço quando meu filho não para quieto? Como que eu não vou bater, gritar, chama-lo de imbecil, de burro???”.

Quando punimos qualquer comportamento, vemos na hora o efeito da punição e temos o alívio que tanto desejávamos: a criança para de fazer a ação que estava causando desconforto ao adulto. Independentemente de ser violento, de ser contra a lei, bater não funciona, não ensina nada novo e não diminui a ocorrência futura de maus comportamentos. Ao contrário, aumenta a probabilidade de criar uma criança revoltada, ansiosa, insegura e rebelde.

Aí chegamos ao grande problema para os pais: “O que eu faço, então, para pendurar a sineta no pescoço do gato?”

Para diminuir a freqüência de um comportamento temos que aplicar dois procedimentos: extinção do mal comportamento e “reforçamento” do comportamento desejado. Ou seja:

“Reforçamento” é o processo no qual a probabilidade de uma resposta se torna mais alta. Por exemplo: Um bebê começa a balbuciar; faz muitos sons (resposta) até chegar a um que lembre “mam”. Nessa hora, a mãe enche o filho de beijos e abraços (consequência).

Num outro exemplo, a criança está no quarto brincando sozinha, sem atrapalhar ninguém, sem atenção de ninguém. Quando esta mesma criança se engaja em um comportamento desagradável aos pais, por exemplo, falar alto no telefone na sala (resposta), provavelmente terá como consequência bronca, gritos, qualquer tipo de atenção social, que pode ou não aumentar a frequência daquela resposta. Caso os pais usem a punição (bater, por exemplo) a resposta de falar no telefone será interrompida momentaneamente. Mas aquela criança poderá aprender que falar no telefone gera atenção dos pais. Caso esta criança sinta falta de atenção dos pais, temos aí um problema!

Extinção é o cessamento do reforçamento. Se eu me engajo em um comportamento que não vale a pena, não é reforçado, a probabilidade de fazer isso de novo diminui. Se o bebê fala “mam”, mas a mãe não está mais ao lado para abraçá-lo e beijá-lo, logo o bebê parará de emitir tal som. Assim, quando queremos que nossos filhos parem com um comportamento inadequado, devemos parar de dar atenção ao problema (extinção) e valorizar uma resposta alternativa desejável (reforçamento de um incompatível). “Joaozinho, vejo que a conversa com seu amigo está muito boa, no entanto está um pouco alta demais. Você tem duas opções. Você pode continuar a sua conversa amanhã na escola ou você pode continuar a sua conversa no seu quarto. Qual opção você prefere?”. O grande sucesso dessa combinação de procedimentos em detrimento da punição é o fato de ensinarmos a resposta desejada, reforçarmos algo positivo, novo, funcional para a criança.

Bater, humilhar, gritar, resolve o nosso problema; ensinar resolve o nosso, o da criança e de todos que estão em volta dela. Ou seja, ensinar é como penduramos a sineta no pescoço do gato.