O que os indocumentados devem esperar de Barack Obama

Por Gazeta Admininstrator

Há uma nova onda de esperança – certamente com muito pé no chão porque “gato escaldado tem medo de água fria” – por parte dos 14 milhões de imigrantes indocumentados, com o que venha a ser a nova proposta de reforma imigratória do governo de Barack Obama, que será empossado em duas semanas.

Todos os sinais indicam que haverá sim, uma mudança substancial na política que, por oito anos de administração Bush (apesar das propostas de legalização apresentadas pelo presidente e rejeitadas pela ala radical de direita do Partido Republicano), colocou uma imensa massa trabalhadora, indocumentada, sob o rótulo infame da ilegalidade e do crime. Crime este de apenas lutar por uma vida melhor.

Três das indicações para o gabinete de Obama refletem de forma clara a intenção do novo presidente em fazer aquilo que já deveria ter sido feito há muito tempo: uma ampla legalização de quem aqui já está, há anos, trabalhando e vivendo uma “vida provisória” de incertezas e temores.

Se forem confirmados, a nova Secretária de Segurança Nacional, Janet Napolitano, o novo Secretário de Comércio, Bill Richardson, e a nova Secretária do Trabalho, Hilda Solis, serão elementos de forte oposição às mais famosas “bandeiras anti-imigrantes” dos últimos oito anos: o “Muro da Vergonha”, que vem sendo cons-truído na fronteira entre México e Estados Unidos; e as “milícias anti-imigrantes”, formadas por cidadãos comuns e que se colocaram – ilegalmente – na posição de “patrulheiros” das fronteiras.

Muitas pesquisas de opinião pública foram manipuladas, ao longo dos últimos anos, para tentar “provar” que a população norte-americana era desfavorável à legalização dos imigrantes. Na verdade, as pesquisas mais sérias a respeito, feitas pela CNN, revelavam, já em 2006/2007, que mais de 60% dos americanos entendiam a legalziação dos imigrantes indocumentados que aqui já estão estabelecidos, como única alternativa viável para o problema.

Em 2008, novas pesquisas revelavam que, apesar do espectro da crise econômica e do desemprego em massa, 58% da população ainda apoiava de forma clara a legalização da imensa maioria dos 14 milhões de indocumentados que o próprio governo de Washington estima, vivam, atualmente, no país.

Cientistas socias de várias partes do mundo concordam num ponto que tem sido muito debatido nos últimos meses. A reorganização da mão-de-obra mundial passa, necessariamente, pelos fluxos, organizados e regulamentados, de mão-de-obra local e imigrante, interagindo de forma dinâmica. Muito diferente do que propõem as atrasadas políticas anti-imigratórias e falsamente nacionalistas que viscejam na Europa, Ásia e Estados Unidos.

Na contramão desse processo, muitos países, como Canadá e Austrália, estão entendendo melhor e mais rapidamente a necessidade de combater de vez o preconceito anti-imigrante e alertar a população para os claros benefícios que a imigração traz para a economia e o mercado de trabalho local.

A legalização vai corrigir inúmeras distorções. Foram muitos e bizarros os erros das táticas da gestão Bush. Para atender às pressões dos setores mais atrasados do Partido Republicano, viveu-se quase uma década gastando milhões de dólares na “caça” a imigrantes ilegais, punindo traba-lhadores, destroçando famílias, causando mortes e gerando uma imagem péssima para o país e o povo norte-americano. Foi uma brutal ruptura com a tradição norte- americana de acolher imigrantes e dar-lhes proteção, afinal, foi dessa forma que os Estados Unidos se tornaram a nação mais poderosa do mundo.

Há razões de sobra para ter esperanças de que o governo de Barack Obama comece, ainda que lenta e gradualmente, a colocar as “coisas no seu devido lugar” no campo da Imigração. A perseguição aos indocumentados nos Estados Unidos se tornou uma mancha de vergonha e sangue na história recente de um país que, pelo menos por 8 anos, perdeu o rumo de sua própria história.