O que Parreira não teve coragem de dizer

Por Gazeta Admininstrator

No festival de acusações e lamúrias, cinismos e “paixonites” que cercou a eliminação do Brasil na Copa, ficamos mais de uma semana observando entrevistas, lendo reportagens e colecionando depoimentos de todas as fontes disponíveis.

Eu torcia desesperadamente para ouvir dos jogadores, especialmente os “super estrelos” e do técnico Parreira, algo que acabei melancólicamente tendo que me resignar a não ouvir: a voz da humildade e do bom senso.

Como o Brasil é um país sem memória, parece novidade a atitude do treinador da nossa seleçao. Parreira, m sujeito inteligente e capaz, talvez ao lado do finado Claudio Coutinho, responsável pela introdução da figura do “treinador high tech” no futebol brasileiro, sempre tem um ou mais reis na barriga.

Sempre, e sem acanhamento, posou como “dono da verdade” e nunca demonstrou o mais tênue traço de humildade.
Da mesma forma que o Brasil de 2002 e Portugal de 2006 traduziam em campo o espírito lutador, bravo e comprometido com a causa, do gaúcho Felipão, o time brasileiro que foi mais uma vez eliminado pela França era o retrato fiel do “estilo Parreira”.

Mas a esperança é a última que morre e lá fui eu seguir todas as chances que tive de “percar” nas entrevistas de Parreira dos últimos 10 dias, algo que o “recuperasse”, que o “humanizasse”.
Não conseguí nada. Apenas em entrelinhas muito safadas, o treinador admitiu à TV alemã e alguns jornalistas brasileiros que “é realmente muito difícil fazer com que estrelas como Ronaldo e Ronaldinho sigam os esquemas táticos ditados pelo treinador”.

Bem, o Brasil pode ter muitas estrelas do futebol. Da mesma forma que tem a Inglaterra, Alemanha, Itália e França. Bem ou mal, o que se presenciou nestes outros times foi uma unidade real em torno do projeto de seu trenador e de sua seleção.

O que Parreira não teve e receio que nunca terá, é coragem de dizer a todos que o a sua seleção cometeu um pecado nosso velho conhecido, desde a tragédia de 1950: o “já ganhou”.
Nossos jogadores chegaram à Copa com um”status” e uma presunção tão altos, que a própria comissão técnica resolveu inovar, criando a “concentração fashion”, onde quase tudo foi permitido, inclusive saídas noturnas e um nível de descomprometimento nunca antes ousado.

Onde a seleção brasileira estava, havia um carnaval em torno, uma festa contínua, torcedores aos milhares assistindo aos treinos. Aliás, a CBF faturou até vendendo direito de arena e venda de ingressos para treino da seleção. Nossos adversários nem precisaram mais contratar seus “espiões” e “olheiros”.
Desta vez, o Brasil foi para a Alemanha “tão campeão”, que dispensamos cuidados e respeito aos adversários. Tivemos até a tola ingenuidade de acreditar mesmo que o que aconteceu em Paris em 1998 nunca mais voltaria a acontecer.

E aí, dentro da inocência maior do torcedor brasileiro, aparece aquela surrada tese de que “mais uma vez o jogo foi comprado”. Na cabeça dessa gente o Brasil só perde assim, se for comprado.
Não, senhores, o jogo não foi “comprado”.
”Vendida”, sim, foi, vem sendo e temo que continuará sendo, a dignididade e bravura de nossos “craques”. O futebol é apenas um relexo do país. Nem chega a ser um reflexo totalmente genuíno, porque se tem umacoisa que o brasileiro não é, é covarde. Talvez arredio a conflitos e guerras ( o que não éum defeito, enfim), mas covarde não é mesmo.

Quanto a ser preseunçoso e viajar na maionese, aí deixo que cada um tire suas próprias conclusões.
O que eu e creio milhões de brasileiros adorariam ter ouvido e visto Parreira declarar era algo mais ou menos assim:
“Erramos. Pedimos desculpas ao torcedor brasileiro e ao país por nao termos tido a postura de garra e dignidade que era nosso dever. Somos a cara do Brasil e todos nós ganhamos fortunas. Não somos pagos para ganhar sempre, mas de nós deve ser exigido sim, lutar sempre. Não lutampos, nos entregamos e merecíamos ser eliminados. Vamos corrigir isso aí, com outra equipe, outra mentalidade. Me desculpe, Brasil.”

Ah se Parreira tivesse essa personalidade...
A torcida brasileira, mesmo magoada com a eliminação, mesmo envergonhada com o papel ridículo que fizemos contra a França, saberia reconhecer seu gesto de humildade e grandeza e iria perdiá-lo.
Mas como muitos brasileiros “viajados”. Parreira prefere enfiar a cabeça na areia e seguir o exemplo dos avestruzes. Achando que, não admitir seus próprios erros é, de alguma forma, “não dar o braço a torcer”, “Revelar segurança e auto-estima”.
Uma pena.

O amor que temos pelo futebol e pelas cores de nosso país merecia gente com caráter no comando das coisas. Mas isso sim, parece que é papo de gente que “viaja na maionese”.
Acorda Alice !
Daqui a pouco até eu vou estar acreditando nessa história que anda por aí pela Internet sobre a “compra da Copa de 98”.
Do jeito que Parreira e alguns jogadores brasileiros agiram depois da derrota na semana anterior contra a França, dá para a gente acreditar em qualquer coisa.