O zika e as árvores

Por Fernando Rebouças

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[caption id="attachment_107234" align="alignleft" width="300"] Foto: Vinícius Mantovi[/caption]

Desde cedo, nos tempos de escola, aprendemos que as florestas são essenciais para os seres vivos, para a manutenção do equilíbrio ambiental e, principalmente, para a cadeia alimentar. Mas, além de seres vivos e equilíbrio ambiental, as florestas possuem a capacidade de “administrar ou cristalizar” diferentes tipos de vírus. O intenso ritmo de desmatamento de uma floresta pode desequilibrar a disposição de certos elementos microscópios, liberar insetos e vírus de forma desordenada para outros biomas e cidades.

Atualmente, o Brasil e outros países das Américas têm enfrentado um surto do vírus da zika, dengue e chikungunya transmitidos pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti. No Brasil, há 60 anos atrás, no dia 2 de abril de 1955, o último foco do Aedes aegypti foi extinto na zona rural de Santa Terezinha, no interior da Bahia. Em 1958, o Brasil havia erradicado o inseto. Porém, em 1967, ele reapareceu, sendo novamente extinto em 1973.

Na época, a eliminação do mosquito foi consequência de uma campanha que envolveu a maioria dos países das Américas a partir dos anos 1920, com a direção da Fundação Rockfeller. Em 1947, a Organização Pan-americana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde uniram esforços para erradicar o mosquito do continente, com a preocupação em relação à febre amarela.

Mas, e as florestas?

Em matéria publicada em 6 de fevereiro de 2016, pelo jornal Washington Post, o professor de doenças microbióticas e de estudos ambientais, Durland Fish, da Yale University, afirmou que a epidemia de zika causada pelo mosquito é um dos maiores exemplos recentes das negativas consequências geradas pelas intervenções humanas sobre o meio ambiente. O intenso desmatamento pode favorecer a reprodução de vetores de doenças.

Além da opinião de Durland Fish, numa análise mais abrangente, por exemplo, o desmatamento pode causar a diminuição de predadores naturais dos vetores. Quando uma área florestal é desmatada, espécies de peixes, anfíbios, répteis, aves e outros insetos que se alimentam de diferentes tipos de mosquito podem ter suas populações diminuída em determinados biomas, possibilitando a livre multiplicação de vetores.

Recentemente, no dia 4 de novembro de 2015, durante o seminário Vigilância em Saúde das Doenças Virais Chikungunya, Zika e Dengue, a pesquisadora Ana Bispo, do Instituto Oswaldo Cruz afirmou:

“Nos últimos 20 anos, temos observado padrões diferentes de arboviroses, ou seja, vírus que são transmitidos ao homem por vetores artrópodes, como é o caso da dengue, do chikungunya e da zika. Os vetores dessas doenças têm sido considerados urbanos e fatores como o aquecimento global, a urbanização descontrolada, o desmatamento e a globalização podem explicar essa alteração comportamental”.

Entre tantas histórias de identificação da origem do vírus, o zika teria sido identificado pela primeira vez na floresta Zika, em Uganda, em 1947, num macaco rhesus e, no ano seguinte, num mosquito Aedes africanus. Além do desmatamento, da falta de saneamento básico e outros fatores antrópicos, a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014 teria levado o vírus da Zika em maior quantidade para o Brasil através do intenso trânsito de pessoas e objetos. Outra possibilidade é a possível migração terrestre do vírus do Chile.

Independente dos fatores bióticos e antrópicos, Brasil, EUA  e União Europeia estão empenhados nas pesquisa e desenvolvimento de uma vacina. Portanto, não adianta somente “caçar” o mosquito; é necessário obras de saneamento básico, principalmente, em áreas carentes da América Latina, um novo modelo de vigilância sanitária contra vírus e pragas nas Américas, maior controle sobre o desmatamento e sobre a poluição de rios e mares, entre outras iniciativas que exijam uma visão mais especializada sobre o meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas. Plantar e respeitar as árvores também são atitudes positivas em tempos de desequilíbrios biológicos.

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