Obama & Romney: farinhas do mesmo saco? - Opinião

Por Carlos Borges

120120_obama_romney_ap_328

Virtual candidato republicano a enfrentar Barack Obama nas eleições presidenciais de novembro, o empresário Mitt Romney tem um elenco enorme de diferenças, da mesma forma que outro elenco enorme de similaridades com o atual presidente.

As diferenças, o eleitorado já sabe. Obama nasceu pobre e subiu na vida a custa de muita dedicação aos estudos e disciplina. Romney nasceu em berço de ouro e, embora tenha também alcançado sucesso por seus próprios méritos, é inegável que teve aquela confortável plataforma que só os nascidos ricos possuem.

Ser pobre, em si, não é virtude. Ser rico, em si, não é pecado.

Obama, primeiro afro-americano eleito presidente do país mais influente do mundo, fruto de casamento interracial numa época em que, dependendo do estado onde você vivesse, isso era crime passível de prisão, emergiu de uma situação extremamente adversa para se tornar uma estrela em sua trajetória universitária. Militou ardorosamente em programas sociais e em organizações políticas. Daí, a alcançar a presidência, um fato histórico e memorável.

Romney é um “self made man” no mais tradicional estilo norte-americano. E tem uma ambição de poder político tanto ou maior que Obama. Afinal, vivemos num país em que, desde que se nasce, todos os meninos (sim, porque por aqui, diferente do Brasil, a Presidência ainda é um “clube do Bolinha”, onde “menina não entra”) são levados a sonhar com a possibilidade do sucesso extremo: ser presidente!

O que Obama e Romney trarão para a arena eleitoral? Muitas promessas, algumas literalmente impossíveis de serem sequer levadas a sério, de tão irrealísticas que são. Uma avalanche de marketing via TV e internet. Vale tudo radical!

Um festival de acusações sem pé nem cabeça, onde cada um vai tentar “vilanizar” o outro.Obama se identificando como o “Presidente do Povão” e Romney vestindo a faixa de “Campeão da verdadeira América, da livre iniciativa, das oportunidades, etc e tal”.

Que diferença faz isso para os 12 milhões de imigrantes indocumentados que seguem vivendo no mais lamentável e assustador “limbo” da história norte-americana?

Embora tenha se comprometido, durante a campanha que o levou à Casa Branca, em 2008, a promover uma mudança radical nas leis imigratórias, Barack Obama fez justamente o contrário nesses quase quatro anos de governo. Sob sua “batuta”, deportou-se mais imigrantes do que em todos os 25 anos anteriores. Houve mais endurecimento e dificuldades para os indocumentados do que nunca. Acuado pela brutal resistência dos congressistas, Obama, pragmaticamente, deixou essa “bandeira” inconveniente e impopular com a população de cidadãos norte-americanos e não só abandonou os imigrantes à própria sorte como radicalizou ações que o seu antecessor, o republicano e enxovalhado George W. Bush, nunca teria o desplante de fazer.

Comparado a Obama, Bush foi um presidente que demonstrou real interesse em resolver a questão dos indocumentados e, nas duas vezes em que levou ao Congresso, a sua proposta foi destroçada, sabem por quem? Pelos democratas que queriam unicamente uma solução que lhes dessem “cabedal político”.

É isso, enfim, que os imigrantes indocumentados são para os dois grandes partidos mastodontes norte-americanos. “Massa de mobilização” e “cabedal político” a ser usado da forma mais cínica possível, em véspera de eleição. Tem sido sempre assim.

Agora, vamos ver Obama retomando as promessas de “solução imigratória”.

Enquanto isso, Romney, que para convencer a ala de extrema direita do Partido Republicano, andou “baixando o pau” nos indocumentados, também vai mudar de tom e acenar com “estudos e possibilidades” na área dos imigrantes ilegais.

De fato, até pode ser que venha a existir um clima menos desfavorável aos imigrantes indocumentados no próximo termo presidencial, que começa em janeiro de 2013. Mas esse clima nunca será ditado pela determinação, seja de um reeleito Obama, seja pelo “sangue novo”, representado por Mitt Romney.

Num tempo em que a Presidência dos Estados Unidos se tornou uma dança de egos, vaidades e sede de poder, as verdadeiras causas populares são meros “joguetes” numa plataforma dominada pelo marketing e pela publicidade, cuidadosamente arranjados para manipular a opinião pública. Aonde está o idealismo, o comprometimento com as causas da população, todos os segmentos dessa fantástica salada étnica e cultural que são os Estados Unidos? Certamente está bem longe da esfera de “prioridades”, seja de Obama ou Romney.

Mas vamos em frente observar a campanha que vem por aí. Vamos tentar enxergar alguma sinceridade, algum lampejo de compromisso real em qualquer um dos dois “superstars” da eleição que, como já sugerí várias vezes, caminha para ser decidida como num “game show” da TV, votada por telefone e levando em conta quesitos como “aparência”, “vestuário”, “habilidade oratória” e outras “qualidades” típicas de um tempo em que o que parece contar é apenas a aparência da verdade e nunca a dita cuja.