Obama, sem folclore

Por Gazeta Admininstrator

A visita do presidente norte-americano Barack Obama não produziu as manchetes bombásticas que alguns esperavam.

Obama não anunciou a inclusão do Brasil na lista dos países cujos cidadãos não precisam de vistos para entrar nos Estados Unidos.

Obama não se comprometeu em apoiar a candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Obama não assinou o tratado previdenciário que dará direito, tanto a brasileiros quanto a norte-americanos, contar para a aposentadoria os anos de trabalho fora do país.

Esses eram três temas que circulavam intensamente na mídia brasileira no exterior, embora nem tanto na grande mídia do Brasil.

Isso não significa que esses temas, importantíssimos para os estimados 1.5 milhão de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, estejam “fora da pauta”. Muito pelo contrário.

Como alguém que acaba de descobrir o quanto subestimava a enorme potencialidade de uma parceria, o líder norte-americano agiu com extrema cautela.

Para os norte-americanos o Brasil segue sendo um enigma absoluto. Puritanos e disciplinados, eles não entendem como o país do futebol, carnaval, sensualidade e cultura festeira, pode estar, rapidamente, caminhando para ser a quinta maior economia do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão e Alemanha.

Por isso, como é de esperar, o “entrosamento” e a maior confiança entre Estados Unidos e Brasil virá, como se dizia no tempo da “abertura política” do general Ernesto Geisel (o terceiro dos ditadores militares produzidos pelo regime de 1964 e que iniciou a reabertura política no país).

Acontecerá sim, de forma “lenta, gradual e segura”. E, sem a menor sombra de dúvidas, pelo que mais interessa aos norte-americanos neste momento: melhorar os negócios com o Brasil. Não que sejam ruins, muito pelo contrário. O comércio entre os dois países nunca parou de crescer. Mas tem crescido muito menos que outras parcerias brasileiras. O fato de a China ter se tornado o maior parceiro comercial brasileiro, superando os norte-americanos, incomoda bastante.

Outro fator inegável é a mudança de tom. Obama é, definitivamente, um presidente americano que não desembarca com cara de “turista bwana”, vindo visitar os aborígenes sul-americanos, encantado com suas danças exóticas e comidas mais ainda.

Bush ensaiou esse “upgrade”. Mas como era fraco em muitos sentidos, perdeu a chance de fazer do Brasil um dos únicos lugares do mundo onde não seria radicalmente defenestrado.

Obama fez discursos cautelosos. Foi amável, respeitoso, sério e nos tratou como devemos ser tratados.

Sua postura reflete a consciência de que o Brasil de 2011 é um país visto de forma radicalmente diferente do Brasil de, digamos, 1990. Mas há uma longa e cuidadosa estrada a ser construída até que os benefícios de uma relação bilateral forte e comprometida se torne realidade.

Até porque, o Brasil pós Lula e agora Dilma, está muito mais para delimitar seu próprio campo de ação nas arenas internacionais da política e economia do que permanecer “a reboque” de um atrelamento com os Estados Unidos. Esse é um fato positivo para nosso país. Ajudará na demarcação de uma nova realidade, onde não existirá nunca um “atrelamento automático”, como, por exemplo, o que une os Estados Unidos à Inglaterra ou a Israel.

Também nunca será de animosidade burra ou passionalidade inconsequente, como são as relações norte-americanas com países menos relevantes estrategicamente (com todo meu respeito), como são México e Venezuela.

É muito salutar, para um jornalista brasileiro que ama apaixonadamente o Brasil mas vive há 22 anos nos Estados Unidos e estuda com afinco a natureza do povo e da nação norte-americana, sentir que há uma maturidade latente nas atuais relações entre os dois países e que, tirando os folclorismos de ocasião.

Aquela visão distante e burra que muitos norte-americanos tinham do Brasil, igual em ignorância à sanha antiamericanista que herdamos do esquerdismo infantil dos anos 60, parece que virou coisa de minorias “red neck” aqui nos EUA e “red square”, no Brasil.

Os passos serão dados pausada, mas, creio, firmemente.

Sob esse ponto de vista, a visita de Obama foi relevante, um sucesso. Sem fanfarra, sem alarde. Pragmática e séria.

P.S.: a decisão do ex-presidente Lula em não ir ao evento para o qual a presidente Dilma convidou todos os ex-presidentes vivos, foi mais um “gol de placa”. Manteve a coerência, não roubou a cena e ganhou muitos pontos.