Oculta, mulher conta tortura nas mãos dos homens de Saddam

Por Gazeta Admininstrator

Uma mulher, oculta por um biombo - a voz distorcida, mas os soluços e o choro ainda aparentes - testemunhou ter sido abusada e torturada, com espancamentos e choques elétricos, por agentes de Saddam Hussein. A mulher, chamada apenas de "Testemunha A", falou no julgamento do ex-ditador e de sete de seus ex-auxiliares.

Saddam ouviu, impassível, às vezes tomando notas, a Testemunha A descrever como ela e dezenas de outras famílias da cidade de Dujail foram presas numa repressão desencadeada contra a cidade em 1982, após Saddam sofrer uma tentativa de assassinato. Duas outras testemunhas também falaram hoje, todas com suas identidades preservadas.

"Fui forçada a tirar minhas roupas, e ele levantou minhas pernas e me amarrou. Ele continuou a aplicar choques elétricos e a me espancar", disse a Testemunha A, referindo-se a Wadah al-Sheik, um agente de espionagem iraquiano que morreu de câncer no mês passado.

Diversas vezes, a mulher - escondida atrás de uma tela de tecido azul - cedeu à emoção. "Deus é grande. Oh, Senhor!", gemia, sua voz distorcida eletronicamente. Ela deu a entender ter sido estuprada, mas não fez a afirmação explícita. Quando o juiz-chefe, Rizgar Mohammed Amin, perguntou-lhe sobre o abuso", ela respondeu: "Fui espancada e torturada com choques elétricos".

A testemunha, que tinha 16 anos na época do ocorrido, repetiu ter recebido ordens de despir-se. "Implorei, mas bateram em mim com suas armas", disse ela. "Fizeram-me pôr as pernas para o alto. havia cinco ou mais".

"Quem toma a decisão?"
Perguntada pelo juiz qual dos réus responsabilizava pelo crime, Testemunha A identificou Saddam. "Quando tantas pessoas são presas e torturadas, quem toma tal decisão?", disse. Mais tarde, ela citou um guarda que lhe teria dito: "Você tem sorte de estar no (centro de detenção) Mukhabarat e continuar virgem".

Os advogados de defesa insistiram em interrogar a testemunha cara a cara. Ao final do testemunho, o juiz Amin fechou a sessão do tribunal ao público, puxou cortinas diante da imprensa e das galerias e cortou o sistema de som.

Mais tarde foram ouvidas a Testemunha B, que se identificou como uma mulher de 74 anos e contou como sua família havia sido presa em 1981 - um ano antes do massacre de Dujail, pelo qual Saddam e os outros sete estão sendo julgados.

A Testemunha C, um homem, contou ter sido preso juntamente com os pais e duas irmãs, que descreveu como "crianças". A família passou 19 dias numa central de espionagem, 11 meses em Abu Ghraib, onde o pai morreu depois de ser espancado. Os sobreviventes passaram três anos no deserto.

A descrição dos maus-tratos sofridos pela Testemunha C na prisão provocou um protesto de Saddam. Ele disse que o tribunal gastava tempo ouvindo as queixas dos outros. "Alguém quer saber se Saddam Hussein foi torturado? Se foi espancado?"

Embora ontem tenha confrontado uma testemunha, hoje Saddam ouviu em silêncio o depoimento da Testemunha A.