Crise: Onde o Brasil vai parar?

Por Simone Raguzo

desde 28 de maio. Entre outras reivindicações, eles exigem valorização salarial e melhores condições de trabalho. A paralização afeta a rotina de três instituições e 37 universidades federais pelo país. “Funcionários de outros órgãos conseguiram até 50% de reajuste, enquanto os professores, além de pouquíssimo aumento, ainda receberão o mesmo parcelado em quatro anos, dessa forma, não alcançando nem o teto da inflação”, desabafa o professor universitário Ricardo Niehues Buss, 35 anos, que atua no campus da Universidade Federal do Tocantins em Araguaína. Contudo, segundo ele, não é somente a valorização profissional que defendem dos grevistas. “O principal foco é protestar contra o corte na educação. Nossas universidades estão com infraestrutura precária, obras paradas e não oferecem nenhuma segurança. Até mesmo o serviço de limpeza foi reduzido”, destaca Buss.

Desemprego A situação das indústrias também tem se agravado. Segundo o IBGE, a produção no acumulado do ano registra uma redução de 6,6%. Um dos setores mais atingidos é o automotivo. A venda de veículos novos no Brasil caiu 20,67% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2014, segundo a Fenabrave.

Se cai produção e consumo, aumenta o desemprego. O Brasil fechou o segundo trimestre com taxa de desemprego de 8,3%. Em um ano, a força de trabalho desocupada chegou a 1.747.000 pessoas. Parte desse grupo é formada por jovens que tentam uma vaga no mercado de trabalho. Com a crise, deixaram de se dedicar somente aos estudos e, agora, buscam um emprego para ajudar no orçamento familiar.

Dólar nas alturas O real é a moeda que mais perde valor hoje no mundo frente ao dólar. Nos últimos dias, a moeda americana alcançou os R$ 3,90 e, atualmente, tem fechado os dias valendo, em média, R$ 3,85. Analistas financeiros acreditam que o dólar possa alcançar a marca de R$4,40 até o fim do ano. Mesmo ainda longe desse valor, a verdade é que o dólar turismo já chega a ser comercializado próximo disso pelas casas de câmbio.

Com o dólar alto, além de os negócios que envolvem importações serem prejudicados, aqueles que tinham planos ou já viagens agendadas para o exterior também foram atingidos. É o caso do gerente comercial Edvandro Della Giustina, 32 anos, e da advogada Joice Gorges, 30.

Há meses o casal catarinense planejou uma viagem para New York e Las Vegas. As passagens foram compradas e os hotéis reservados, mas o que eles não esperavam é que o dólar subiria tão repentinamente. Há três semanas, eles pagaram R$ 3,80 por cada dólar e, no dia 15, embarcaram para os Estados Unidos com a certeza de que gastarão muito mais e comprarão muito menos do que quando estiverem em Miami, em novembro de 2012, época em que pagaram R$ 2,20 pela moeda.

“Nós não esperávamos que fosse subir nessa proporção”, conta a advogada. No dia a dia, eles também sentem o efeito da crise. “Com certeza temos sentido o aumento dos impostos, combustível e energia elétrica, além de sofrer com greves em vários setores públicos e o baixo consumo no varejo”, aponta o gerente comercial, ressaltando que o casal está cortando gastos com despesas supérfluas. Viajar deverá ser uma delas a partir de agora.

Não é a toa que os gastos de brasileiros fora do Brasil já vinham caindo nos últimos meses. Julho, mês de férias escolares, registrou queda de 30,39% nos gastos de brasileiros no exterior em comparação ao mesmo mês do ano passado, passando de $2,408 bilhões de dólares para $1,677 bilhão de dólares, informou o Banco Central (BC).

Seguindo a tendência, o plano de viajar para o exterior também foi adiado pelo professor Ricardo Niehues Buss, que afirma estar mudando hábitos para contornar a crise. “Compras no supermercado, uma saída à noite, gasolina, tudo está muito caro. Tenho deixado de comprar e fazer muitas coisas que estava acostumado. Os preços estão impraticáveis”, conclui.