ONU condena morte de jornalista no Brasil

Por Gazeta News

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O assassinato do jornalista Décio Sáno, dia 23 de abril, no Maranhão, foi condenado pelo escritório do Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU, no dia último dia 27.

De acordo com a “BBC”, o organismo chamou de "tendência perturbante" o fato de mais um jornalista ter sido morto. Sá foi o quarto profissional de imprensa assassinado no país em menos de quatro meses.

"Nós condenamos esse assassinato e estamos preocupados com o que parece ser uma tendência perturbante de mortes de jornalistas, que está prejudicando o exercício da livre expressão no Brasil", disse o porta-voz do escritório, Rupert Colville.

A ONU elogiou a disposição das autoridades brasileiras para investigar a morte de Sá e crimes semelhantes. Contudo, a entidade solicitou que medidas de proteção sejam adotadas imediatamente para evitar novos crimes do gênero.

Para isso, a ONU apoiou a aprovação de uma lei proposta no Congresso em 2011 para fazer com que todas as mortes de jornalistas sejam investigadas pela Polícia Federal e não pelas polícias estaduais.

Investigação A Secretaria de Segurança Pública do Maranhão convocou, no dia 27, uma entrevista para comunicar que a investigação sobre a morte de Sá passa a ser feita agora sob sigilo. O órgão afirmou que dois suspeitos, detidos no dia 26, tiveram prisão temporária decretada. O governo não explicou, porém, qual teria sido sua participação no crime e quais indícios pesam contra eles.

Em 20 anos, cerca de 70% das mortes de jornalistas ficaram impunes no Brasil

Aproximadamente 70% dos assassinatos de jornalistas registrados no Brasil, nos últimos vinte anos ficaram impunes, segundo levantamento da organização americana CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas), divulgado pela “BBC”.

O CPJ contabilizou 20 assassinatos entre 1992 e 2012 no Brasil, sendo que 14 não foram punidos. Outros seis foram parcial ou totalmente esclarecidos e seus culpados punidos.

O Brasil foi classificado pelo comitê em 11º lugar entre os países onde há mais impunidade contra profissionais da imprensa.

"Os crimes contra jornalistas continuam sendo um dos principais problemas que a imprensa enfrenta nas Américas", afirmou em nota Gustavo Mohme, da Sociedade Interamericana de Imprensa, após a morte de Sá.

Contudo, o levantamento da CPJ está desatualizado. A organização contabilizou em 2012 apenas o assassinato do jornalista Mário Randolfo Marques Lopes, em Vassouras (RJ), em fevereiro.

Não foram incluídos no estudo a recente morte de Sá e os assassinatos do radialista Laécio de Souza, da rádio Sucesso FM, de Camaçari (BA), ocorrida em janeiro, e do repórter do Jornal da Praça e do siteMercosulnews Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, em Ponta Porã (MS), em fevereiro.

Esclarecido Apenas um dos quatro assassinatos de jornalistas de 2012 foi esclarecido pela polícia, o de Laércio Souza. Segundo a Polícia Civil da Bahia, ele foi morto por criminosos em janeiro, na cidade de Simões Filho (região metropolitana de Salvador) após descobrir e denunciar um esquema de narcotráfico que operava em uma comunidade onde ele planejava realizar trabalhos sociais.

Um suspeito foi preso e aguarda julgamento. Um adolescente foi apreendido e submetido a 45 dias medida socioeducativa. Um segundo adolescente que participou do crime foi achado morto. A Secretaria de Segurança Pública do Maranhão afirmou que um suspeito chegou a ser detido, mas não foi formalmente indiciado.

Já as mortes de Rodrigues e Lopes permanecem sem solução.

Intimidação Segundo a pesquisa do CPJ, a maior parte das vítimas são jornalistas que denunciaram casos de corrupção.

No segundo lugar do ranking vêm os repórteres policiais e em terceiro aqueles que escrevem sobre temas políticos. Porém, mais comuns que os assassinatos são os casos de intimidação e ameaças.

Após escrever reportagens sobre assassinatos extrajudiciais cometidos por maus policiais em 2003, o repórter especial paulistano J., de 54 anos, que não terá o nome revelado, começou a receber ameaças e teve que "desaparecer" por 40 dias. Depois trabalhou por mais de quatro meses protegido por uma escolta armada.

"Muda tudo na sua vida. Você se dá conta que é extremamente vulnerável", afirmou J. "A minha família ficou desesperada, se eu atrasasse cinco minutos era motivo para muita preocupação. Quase entrei em depressão", disse.