A internet como 'porta' para comentários cruéis

"O julgamento nas redes sociais é muito rápido e extremamente injusto. Ele não dá oportunidade a vítima de defesa". José Márcio Sousa

Por Arlaine Castro

Arlaine

Emitir uma opinião sem ter que olhar nos olhos da outra pessoa ou de um grupo é muito mais fácil. Nessa era digital então, em que o celular ou o computador servem como "muros" e dão a ilusão de se estar longe o suficiente para não se preocupar, são inúmeras as opiniões dadas de forma insensata, feitas de forma maldosa e inapropriada.

Não é difícil encontrar comentários racistas, homofóbicos e de ódio de pessoas agem como se fossem "juízas", com todo o poder e saber para julgar algo ou alguém. O comentarista virtual não pensa, mas suas palavras ferem o outro que lê do outro lado da tela.

No texto, "Como a era da internet mudou o julgamento público", o jornalista Sérgio Lüdtke cita que "o tribunal popular da web não perdoa, ele soma as sentenças e aplica penas desproporcionais", aponta. Com questionamentos pertinentes, Lüdtke reforça a tese que vamos percebendo a cada dia sobre os comentários na internet.

"Um comentário incorreto e lá se vão sua reputação, seu emprego, seus amigos, sua vida. Você já aprendeu que deve redobrar o cuidado com aquilo que compartilha, será que não está na hora de também pensar duas vezes antes de colaborar com a execração pública?", questiona.

Em um dos casos recentes em que comentários de todos os tipos e em todos os jornais apontam, no fundo, o julgamento escondido na opinião de cada pessoa, a morte dos bebês gêmeos de um ano esquecidos pelo pai por oito horas dentro de um carro em Nova York, é um exemplo de como o ser humano se sente mais livre para emitir opinião, na verdade, para julgar o outro.

"São cruéis

os julgamentos"

"As pessoas não imaginam a dor dos pais e fazem comentários cruéis nas redes sociais condenando, mas sequer buscam entender a situação. São cruéis os julgamentos. Isso não quer dizer que eu não ame meu filho, pode acontecer com qualquer um. E jamais me perdoaria se tivesse acontecido algo com meu filho! Eu amo meus filhos mais que tudo nessa vida!", analisa a goiana Pamila Amorim ao citar o caso dos gêmeos e relembrar que quase perdeu o filho de forma parecida: esquecendo-o dentro do carro. A história de Pamila está na matéria especial na página 10.

Mais do que se imagina, esquecer crianças na parte de trás do carro acontece todos os anos, com qualquer pessoa e em qualquer lugar do mundo. De acordo com o NoHeatStroke.org, mais da metade das fatalidades acontece dessa forma. Além dos 26% das crianças que entram escondidas brincando no carro por conta própria, e cerca de 18% foram deixados intencionalmente. Um estudo deste ano descobriu que mais de 60% dos adultos responsáveis eram pais da vítima.

Além desses dados, a matéria especial dessa edição "Mortes de crianças dentro de carros sob forte calor chegam a 24", foi feita com o cuidado de não julgar, mas para procurar entender como e por que acontece e o mais importante, realçar os cuidados para evitar que fatalidade do tipo aconteça com aquele que hoje, condena quem esqueceu uma criança e sofre a dor da perda, carregando uma culpa que não precisa ser aumentada pelos comentários maldosos na internet.

Dessa forma, cabem aqui as palavras: "O julgamento nas redes sociais é muito rápido e extremamente injusto. Ele não dá oportunidade a vítima de defesa, qualquer pisada na bola, por menor que seja, e a pessoa vira alvo de uma avalanche de críticas e ameaças. Só acho que as pessoas deveriam ter mais calma com os pré-julgamentos, pois são tão graves quanto o preconceito", analisa o escritor José Márcio Sousa.

Por isso, é importante lembrar que o anonimato "imaginário" atrás das ferramentas digitais hoje em dia não é mais tão forte assim e há penalidade.